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O frio acendeu-se na desolação dos corpos
a terra já não produz o sémen da colheita
nem a foice corta o centeio amarelecido
o homem já não grita, liberdade
já todos o esqueceram perto do declive
Os barcos fazem escala na maré, ora-se
a um Cristo feito de barro, de cabelo comprido,
espinhos cravados, sempre com as mesmas lágrimas
presas nos olhos feitas em sangue
Os peixes já não morrem pela boca
imobilizam-se no sono antigo da pesca
o xaile negro esvoaça sobre o sargaço crestado
amalgamado com o lixo que dá à costa
A luz extingue-se lentamente
na cadeia de Peniche,
no interior da mão envelhecida
o sangue ainda escorre pelas paredes
Apaguem as velas…
antes que a densa escuridão ouça os meus passos.
Conceição Bernardino
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