08 dezembro 2008


PRIMEIRAS LIÇÕES DE SOCIOLOGIA
por: Philippe Riutort


tradução de: Eduardo de Freitas
Nº de páginas 140
Ano de edição 1999
ISBN: 972-662-692-7
Editora Gradiva
O QUE É A SOCIOLOGIA?


A perspectiva da sociologia
Como se pode ser sociólogo?
A sociologia enquanto disciplina científica teve o seu aparecimento no decurso do século XIX. É precedida por múltiplos saberes saídos de diversas correntes do pensamento que procuram explicações e sobretudo «remédios» para os «problemas» ligados às transformações sociais de grande amplitude que atingiram as sociedades europeias a partir do fim do século XVIII. A emergência de «questões sociais» de um novo género gera assim o nascimento da sociologia, que, progressivamente, ao emancipar-se da filosofia social, formula as suas próprias interrogações de alcance científico, com a ajuda de princípios enunciados desde o fim do século passado pelos seus «pais fundadores».


I. A emergência da sociologia no século XIX

1. A sociologia surge enquanto disciplina científica no decurso do século XIX.
O século XIX é marcado na Europa por profundas mutações. As transformações políticas inscrevem-se no prolongamento da Revolução Francesa. O afundamento do Antigo Regime conduz a que fique em causa a ordem tradicional, fundada na monarquia absoluta, a divisão da sociedade em ordens, assim como o lugar central concedido à religião na vida social. A Revolução Francesa, ao proclamar a igualdade jurídica entre os cidadãos, põe em questão os fundamentos da ordem política. Esta não procede daí em diante da vontade do príncipe, posto que o absolutismo é recusado em nome da proclamação de novos princípios, tais como a liberdade, a razão, o progresso ... As transformações económicas e sociais estão ligadas à revolução industrial, que, do fim do século XVIII ao princípio do século XIX, com origem na Grã-Bretanha, ganha progressivamente os outros países europeus e, seguidamente, os Estados Unidos e o Japão. Caracteriza-se pela passagem de uma sociedade rural a uma sociedade urbana, o que arrasta uma profunda mudança das estruturas sociais existentes (desaparecimento progressivo, por exemplo, das solidariedades camponesas fundadas num conjunto de tradições e de práticas de sociabilidade tais como as festas populares, os ritos de passagem ...). O sociólogo alemão Ferdinand Tönnies (1855-1936) sublinha, em 1887, a oposição entre dois tipos de organização social: a comunidade e a sociedade. A primeira, dominada pelos vínculos tradicionais, a afectividade e o espírito de grupo, apoia-se principalmente na família e nas solidariedades locais, enquanto a segunda, que assenta mais no interesse individual, no cálculo e nas relações impessoais, tende a impor-se no seio da sociedade industrial.
Em paralelo, a revolução agrícola realizada no decurso do século xviii permite progressivamente às actividades industriais beneficiar de um afluxo de mão-de-obra. O desenvolvimento da indústia acompanha-se, com efeito, de uma urbanização maciça que provém sobretudo do êxodo rural. A organização da sociedade encontra-se então profundamente transformada, o que modifica sensivelmente os «equilíbrios» estabelecidos entre grupos sociais: assiste-se, assim, no decurso do processo de urbanização, à formação da classe operária, ao crecimento contínuo da burguesia, assim como ao declínio relativo da nobreza.
Os principais sociólogos do século XIX interrogam--se sobre a amplitude das transformações das sociedades europeias que se desenrolam sob os seus olhos no momento em que concebem as suas obras. O pensamento de três figuras centrais da sociologia do século XIX e do início do século XX estão profundamente impregnados disso mesmo.
Émile Durkheim (1858-1917), fundador da escola francesa de sociologia, preocupado com os fundamentos da coesão social e da sua evolução, estuda assim a passagem da solidariedade mecânica, fundada na similitude, característica das sociedades tradicionais, à solidariedade orgânica, fundada na complementaridade e produzida pelo processo de divisão do trabalho, que se afirma na sociedade industrial.
Karl Marx (1818-1883), militante revolucionário, filósofo, economista, mas igualmente sociólogo, ao tornar-se o teórico de um socialismo que anuncia como científico, interessa-se pelo processo de desenvolvimento capitalista e tenta revelar as suas contradições internas, insistindo particularmente nas oposições de classe, segundo ele, inelutáveis no seio da sociedade capitalista e que prefiguram o advento de uma sociedade sem classes: a sociedade comunista.
Max Weber (1864-1920), um dos primeiros e dos principais sociólogos alemães, abre o caminho à sociologia comparativa ao interrogar-se sobre as particularidades da civilização ocidental, caracterizada, segundo ele, por um processo de racionalização ou, segundo a sua célebre fórmula, de «desencantamento do mundo», que é traduzido pelo recurso crescente à previsão e ao cálculo, assim como ao abandono progressivo dos impulos mágicos no conjunto dos domínios da vida social: da ciência à arte, passando pela religião, pelo poder político e pela economia.
Se as obras dos principais sociólogos do século XIX e do início do século XX dão testemunho das preocupações sociais do seu tempo, elas sustentam-se igualmente num saber prévio, que se prende já ao desencadear de conhecimentos, a partir de uma observação minuciosa da sociedade.


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Suciologicus

5 comentários:

Visite www.arteautismo.com disse...

Olá Vitor Simões,
Venho te dar um abraço e agradecer a força que tens dado ao Arte Autismo.
Acabei de vir do blog da sua irmã Ana Martins que arrasou com aquela poesia sobre o alcoolismo.
Infelismente estamos vendo o crescimento das bebidas alcoolicas,
principalmente com os jovens.
Aqui no Brasil os bares vivem cheios de homens e mulheres tomando a cervejinha por conta do calor. Esse passatempo , pode virar alcoolismo.
Enfim, é preciso muito cuidado.
Um grande abraço e parabéns pelo seu blog muito reflexivo. Escreves muito bem!
Byeeeee...
Ray

A. João Soares disse...

David Santos,
Muito reconhecido pela sua amabilidade, pela parte que me toca, agradeço e retribuo os seus votos, em dobro. Aprecio muito a sua simpática forma de comemorar esta quadra natalícia. Felicito-o por isso.
Abraço
João

Beezzblogger disse...

Amigos, Victor, David, A João Soares e Ray, aproveito este post para vos desejar também a vós um santo natal, e um ano de 2009 cheio de coisas boas.

Espero, que também se sintam felizes, assim como eu me sinto nesta quadra.

Saúde para todos, e um até já.

Beezz

victor simoes disse...

Agradeço desde já os votos de bom Natal, aqui expressos e desejo-vos a todos vós tudo de bom, e sobretudo um proximo ano, de esperança e alegrias e muita saúde.

Um abraço

Unknown disse...

Querido mano um excelente post sobre um tema que dominas.

Quero deixar aqui votos de um Santo Natal, onde não falte a saúde, paz e amor.
Que o Novo Ano 2009 traga a cada um dos colaboradores deste blog, assim como a todos os seus visitantes e amigos, tudo o que mais desejarem e que nunca vos falte a força e coragem para lutar por aquilo em que acreditam.

Para ti mano desejo-te um excelente fim de semana, porque no Natal se Deus quiser estaremos juntos.

Beijinhos

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Atribuído Pela nossa querida amiga e colaboradora deste espaço, a Marcela Isabel Silveira. Em meu nome, e dos nossos colaboradores, OBRIGADO.

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