Portanto, os juros pagos pelo Estado português de empréstimos
obtidos também não pagam impostos. Finalmente, de acordo com o nº2 do artº 32º
do Estatuto de Benefícios Fiscais,
Em resumo, a legislação fiscal portuguesa é um autêntico maná
para os grupos económicos e financeiros nacionais e estrangeiros, pois a maior
parte dos lucros que obtêm em Portugal estão isentos do pagamento de impostos no
nosso país, o que não acontece com a maior parte dos portugueses e das PMEs. É
por esta razão que os grupos económicos "portugueses" criam empresas em países
que funcionam como autênticos paraísos fiscais, como é caso da Irlanda e da
Holanda, para onde transferem os lucros obtidos da sua atividade em Portugal,
para reduzirem ou mesmo não pagarem impostos, criando assim uma situação de
insustentabilidade financeira ao Estado português, e pondo também em causa a
sustentabilidade financeira dos sistemas públicos de saúde, educação e segurança
Social em Portugal. Tudo isto é necessário que seja alterado.
A
eliminação de todas estas situações injustas, que agravam ainda mais as enormes
desigualdades existentes no país, aumentaria a justiça fiscal, permitiria baixar
a carga fiscal brutal que incide nomeadamente sobre os trabalhadores e
pensionistas, e contribuiria certamente para a garantir a sustentabilidade
financeira do Estado e, consequentemente, das suas funções sociais.
A
IRLANDA FOI TRANSFORMADA EM PARAISO FISCAL PARA AS EMPRESAS, E O SEU
DESENVOLVIMENTO É MAIS FICTÍCIO DO QUE REAL, POIS UMA PARTE IMPORTANTE DA
RIQUEZA CRIADA É TRANSFERIDA PARA O ESTRANGEIRO NÃO BENEFICIANDO OS SEUS
CIDADÃOS
Um dos argumentos mais utilizados pelo governo, pelo FMI e
pelos defensores dos grupos económicos é a necessidade, para poder haver
crescimento económico, dw o país ser competitivo fiscalmente. E dão como exemplo
o caso da Irlanda que tem uma taxa de IRC de 12,5%, e com base nisso defendem
que as taxas de impostos que incidem sobre as empresas em Portugal devem ser
reduzidas para aquele valor, pois o crescimento económico apareceria como por
milagre já que o investimento estrangeiro multiplicar-se-ia. É mais uma ilusão
perigosa de natureza ideológica que visa a manipulação da opinião pública
porque, por um lado, não resolveria os problemas estruturais da economia
portuguesa aumentando ainda mais a sua dependência externa e, por outro lado,
agravaria ainda mais a situação financeira do Estado. A prová-lo está a situação
de crise grave que enfrenta atualmente a Irlanda onde os salários e pensões
sofreram uma redução brutal, em que a taxa de desemprego disparou (entre 2007 e
Nov/2012, passou de 4,7% para 14,6%, ou seja, mais que triplicou), onde as
condições de vida da população se agravaram imenso, levando milhares de
irlandeses a emigrarem na busca de um emprego, tal como acontece em Portugal.
Mas, para além de tudo isto, o modelo de crescimento económico irlandês tem
determinado que uma parte crescente da riqueza criada anualmente na Irlanda seja
transferida para o estrangeiro, não beneficiando os seus cidadãos como mostra o
quadro 3 construído com dados divulgados pelo Eurostat.
Quadro 3- %
que o RNL (riqueza que fica no país) representa do PIB (riqueza que é criada no
país)
|
Fonte: Eurostat click na imagem para ampliar
|
Como revelam os dados do Eurostat do quadro 3, na UE a Irlanda
é o país que tem a mais elevada parcela da riqueza criada internamente
transferida para o estrangeiro. Em 2011, o RNL (Rendimento Nacional Liquido), ou
seja a riqueza que em cada ano fica no país, correspondeu apenas a 70% do PIB
(riqueza criada anualmente no país), sendo muito inferior à média comunitária
que, no mesmo ano, era de 85,3%. Depois da Irlanda, Portugal era já o país logo
a seguir onde esse valor era mais baixo pois, 2011, o RNL representava 78,1% do
valor do PIB. Por outro lado, se analisarmos um período mais longo (2000/2011),
concluímos que essa percentagem diminuiu a nível de todos os países da EU-27
apenas em 0,7 pontos percentuais (p.p.), mas em Portugal desceu 4 p.p., e na
Irlanda 5,5 p.p.. Portanto, o modelo irlandês de crescimento económico favorece
fundamentalmente os grupos económicos estrangeiros que se instalam no país, os
quais se apropriam de uma parte crescente da riqueza criada nele e depois
transferem-na para o estrangeiro não beneficiando os irlandeses.
Por
outro lado o sistema fiscal irlandês, em conjugação com o holandês, tem sido
utilizado pelos grupos económicos multinacionais para não pagarem impostos
funcionado, por um lado, como autênticos paraísos fiscais "legais" e, por outro
lado, como plataformas de isenção dos lucros, servindo para descapitalizar os
estados dos outros países. O exemplo da Google, que se gaba de não pagar
impostos, é paradigmático. E o esquema utilizado é conhecido pelos
"especialistas" do planeamento fiscal para fugir ao pagamento de impostos como a
"
sanduíche holandesa" ou "
duplo irlandês ". Tal esquema permitiu
à Google, segundo a agência Bloomberg, não pagar em três anos (2008/2010)
impostos no valor de 2400 milhões €, através de um planeamento fiscal utilizando
subsidiárias na Holanda, na Irlanda e nas Bermudas. Para isso, a Google,
concentrou numa filial irlandesa a faturação da publicidade vendida em países da
UE, como Inglaterra e França. Depois, esta mesma filial irlandesa paga royalties
a outra filial irlandesa, cuja sede para questões fiscais se localiza nas
Bermudas, reduzindo a matéria coletável na Irlanda onde já pagava uma taxa de
reduzida. Depois, os lucros assim reduzidos obtidos na Irlanda são transferidos
para uma empresa criada pela Google na Holanda, país este que assinou inúmeros
acordos de não tributação até com paraísos fiscais, o que determina que os
grupos económicos acabem por não pagar quaisquer impostos quer na Holanda quer
depois no paraíso fiscal. São exemplos desta natureza, que estão a facilitar o
não pagamento de impostos pelas grandes empresas multinacionais que o governo e
o FMI pretendem que Portugal copie o que, a concretizar-se, só poderá agravar as
dificuldades financeiras do Estado, e pôr em causa a sustentabilidade financeira
das funções sociais deste, e o agravamento das condições de vida dos portugueses
que serão obrigados depois a pagar impostos para compensar o não pagamento pelos
grandes grupos económicos e financeiros.
*Eugénio Óscar Garcia
da Rosa, licenciado em Economia e
Doutorado pelo ISEG, Universidade Técnica de Lisboa, com a tese "Grupos
Económicos e Desenvolvimento em Portugal no Contexto da Globalização" tendo sido
atribuida a classificação "Muito Bom com Distinção por Unanimidade", Mestre em
Ciências da Comunicação pelo ISCTE e Universidade Aberta, membro do Gabinete de
Estudos da CGTP-IN e responsável pelo Gabinete Técnico da Federação Nacional dos
Sindicatos da Função Pública. Email:edr2@netcabo.pt