30 abril 2013

Merkel e o seu governo inimigo número um da Europa e da maioria dos alemães.

Professor da Faculdade de C. Económicas da Universidade de Sevilha.
in: Ganas de escribir 17 de Abril de 2013
 
Mais trampas do Banco Central Europeu para encobrir Merkel
 
Há alguns dias publiquei um artigo mostrando como o presidente do Banco Central Europeu havia apresentado aos líderes europeus dados sobre a evolução da produtividade e dos salários em diferentes países que estavam manipulados ou manifestavam uma tremenda falta de conhecimentos de questões económicas básicas ( Las trampas de Draghi para bajar salarios ). Qualifiquei esse facto como uma aldrabice, porque dessa forma se confundiam as pessoas para poder levar por diante propostas que não têm nenhum outro fundamento a não ser a ideologia neoliberal de quem as propõe.

Agora temos novamente que denunciar outra publicação do Banco Central Europeu cujos resultados confundem a população e são difundidos para ajudar a política reaccionária da Sra. Merkel e seu governo, determinados a justificar a sua guerra económica contra a Europa dizendo aos seus compatriotas que a negligência dos países do Sul da Europa obriga as famílias alemãs, que são as mais pobres, a pagar os seus excessos.

Diversos meios de comunicação tão influentes como The Wall Street Journal, Financial Times e o Frankfurter Allgemeine têm reproduzido nos últimos dias um trabalho publicado pelo Banco Central Europeu na revista Statistics Paper ( "The Eurosystem Household Finance and Consumption Survey, Results from the First Wave" ) em que se quantifica a riqueza das famílias dos países europeus mostrando que a das alemãs é menor do que a dos outros países da periferia europeia.

Os títulos destes artigos são significativos: "Ricos cipriotas, pobres alemães" Reiche Zyprer, arme Deutsche ), em Frankfurter Allgemeine ; "Os mais pobres da Europa? Olhe para o Norte." ( Europe's Poorest? Look North ) em The Wall Street Journal; ou " Os pobres alemães cansados de resgatar a zona euro "( Poor Germans tire of bailing out eurozone ) no Financial Times.

Mas este estudo que serve para proclamar aos quatro ventos como é injusto que sejam precisamente os alemães a pagar a dívida destes países que têm famílias mais ricas, tem truque. Como acabam de demonstrar os pesquisadores Paul De Grauwe e Juemey Ji num artigo publicado no Social Europe Journal ( Are Germans Really Poorer Than Spaniards, Italians And Greeks? ), os dados que o Banco Central Europeu apresenta neste estudo não permitem tirar semelhantes conclusões, porque se referem à mediana da riqueza das famílias estudadas e não à riqueza média.

Para aqueles que não estão habituados a estes conceitos, mostrarei a diferença com um exemplo simples.

Suponhamos que se trata de comparar a riqueza das famílias de dois países A e B e que a riqueza das cinco famílias do país A é 12, 13, 14, 15, 16 e a das famílias do país B é de 7, 8, 9, 10, 71.

A mediana é o valor da variável que tem acima e abaixo o mesmo número de observações. Assim, no país A a riqueza mediana seria 14 e no país B seria 9.

Vejamos porque é incorrecto dizer que as famílias do país A são mais ricas do que os do B, ou que o país A é mais rico que o B.

Se em lugar da mediana tomarmos a média (média das observações, ou seja, o resultado da divisão do valor total pelo número de famílias) conclui-se que a riqueza familiar média no país A é 14, enquanto nas famílias do país B é 21.

O que aconteceu é lógico: a mediana "escondeu" a grande riqueza que se acumula na quinta família do país B.

Este simples exemplo permite verificar, portanto, que o que importa não é a mediana (neste caso, da riqueza), mas sim ter em conta a diferença que há entre a mediana e a média porque essa diferença é que indica o grau de desigualdade entre as variáveis observadas.

No exemplo, vê-se claramente que o país B que aparece como mais pobre se a riqueza for medida pela mediana, é na realidade muito mais rico.

No seu comentário ao estudo do BCE, de Grauwe e Ji mostram que, se se levar em conta a desigualdade, os resultados a que se chega são outros. Assim, provam que a diferença entre a riqueza dos 20% das famílias mais ricas e os 20% das mais pobres é 149 para 1, na Alemanha, uma desigualdade entre dez e quinze vezes maior do que a registada em Espanha, Itália, Grécia ou Portugal, por exemplo.

Portanto, não se pode dizer, como se faz, que as famílias alemãs, como um todo, são mais pobres do que as dos outros países. Ao dizer isso, está-se a esconder que na Alemanha a riqueza das famílias está muito mais concentrada que nos outros países e que uma pequena parte das famílias, os muito ricos, detém a maior parte da riqueza.

Além disso, de Grauwe e Ji indicam que observar apenas a riqueza das famílias, quando se pretende tirar conclusões sobre como é injusto um país resgatar outro, também não é muito adequado. Afirmam, justamente, que se deveria levar em conta, para além da riqueza das famílias, aquela que detêm as empresas e o governo.

Acontece que na Alemanha a parcela da riqueza total que corresponde às famílias, em relação à das empresas e do sector público, é menor que em outros países europeus.

Se a riqueza for vista como um todo, e não apenas na família, por exemplo, através do stock de capital per capita, acontece que a da Alemanha é quase o dobro da que corresponde a países como Espanha, Grécia, Portugal, Irlanda e até Itália.

Em suma, mais uma vez o Banco Central Europeu engana, difundindo uma visão parcial da realidade, que é usada pelos grandes meios de comunicação para apoiar a estratégia do governo alemão, orientada para favorecer cada vez mais as suas grandes corporações e bancos.

O BCE é um instrumento dos grandes grupos empresariais e financeiros da Europa, cujo melhor representante político é o actual governo alemão, e neste momento isso é demonstrado pela ajuda na ocultação de que o que acontece na Alemanha não é que o país como um todo, ou todas as suas famílias, estejam a empobrecer por causa dos países do Sul. É outra coisa: há cada vez mais famílias alemãs a empobrecer, mas porque a riqueza se concentra em cada vez menos ricos alemães. Alemães ricos, que também o são devido à pilhagem que as suas empresas e bancos, com a inestimável ajuda do Banco Central Europeu, efectuam nos países do Sul.

Merkel e o seu governo são não só o inimigo número um da Europa como também da imensa maioria dos alemães.

29 abril 2013

ALTERNATIVAS PARA A AUSTERIDADE



Ao contrário da teimosia obsessiva de Passos e de Gaspar, parece haver alternativas para evitar o agravamento repetitivo e demolidor da austeridade. Podem continuar as lutas partidárias e chamar demagogo a Seguro, mas para o crescimento de Portugal e para bem dos portugueses, não deixem de prestar atenção a soluções que aliviem o sofrimento que, há quase dois anos, nos vêm infligindo.

Eis o artigo do Económico:

Seguro propõe medidas para libertar 12,5 milhões
Económico. 29/04/13 00:06 Por Márcia Galrão

São 12,5 mil milhões de euros libertados para a economia com redução do rácio da solvabilidade dos bancos, contratos do BEI e fundos da recapitalização da banca. Para aqueles que nos últimos dois anos o acusaram de não ter propostas concretas, António José Seguro saiu do XIX Congresso do PS em Santa Maria da Feira com um programa de Governo recheado de medidas com uma única prioridade: "Emprego, emprego, emprego". Porque é "possível" renegociar o programa de ajustamento e sair da "espiral recessiva", Seguro tem um pacote que só em três medidas vale 12,5 mil milhões de euros, dinheiro que quer ver injectado na economia.

O líder do PS deixa assim claro qual é o caderno de encargos que exigirá ao Governo em matéria de crescimento e que em alguns aspectos é coincidente com o "memorando para o crescimento" apresentado a semana passada pelo ministro da Economia Álvaro Santos Pereira. Esta é uma das áreas para as quais Passos Coelho quer consenso com Seguro tendo já avançado com um novo convite para se reunirem esta semana sobre esta matéria. Seguro prometeu uma resposta para esta semana.

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GRÉCIA APROVA REFORMA DO ESTADO


O Parlamento grego aprovou reestruturação do setor público com encerramento de dezenas de organismos públicos e redução de milhares de funcionários.

Os funcionários a reduzir deverão ser os sancionados por corrupção ou incompetência, com excepção dos que forem encaminhados para a aposentação voluntária ou sejam vítimas da eliminação do seu posto em consequência de encerramento.

E por cá? Será que apenas se fará uma pequena maquilhagem para ficar tudo na mesma e manter os tachos dos «boys»?

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22 abril 2013

Fast-food judicial

in: wehavekaosinthegarden

Justiça Militares e cozinheiros são os novos oficiais de justiça que vão tratar de processos judiciais. «Funcionários públicos transferidos para os tribunais fazem em três meses formação que durava três anos. Sem a formação exigida  de 3 anos, vão aprender em apenas três meses a desempenhar funções de técnico de serviços jurídicos. Paula Teixeira da Cruz responde em «modo-relâmpago» à falta de oficiais de justiça contratando funcionários públicos de outros ramos de actividade mas sem formação adequada para lidar com processos. Processos esses que têm agora uma meta temporal muito mais curta. Todos os casos de crimes em flagrante delito têm de ser despachados até seis meses.


Ainda me lembro quando esta Senhora defendia a avaliação dos funcionários públicos em nome da qualidade e da excelência dos serviços. A justiça devia ser alto tratado com seriedade porque mexe com a vida das pessoas. Já sabíamos que havia duas justiças, a para quem pode pagar aos grandes escritórios de advogados, gente rica, gente famosa e grande corrupção em geral e a outra para o cidadãos comum que pelos vistos se vai transformar numa imensa sopa dos pobres. Basta ver como os grandes processos de corrupção se perdem no tempo, com requerimentos, anulações e prescrições. mesmo os pouco condenados continuam em liberdade e a ocupar os cargos públicos onde praticaram a corrupção que os condenou. Já quem roube um pacote de arroz ou umas bolachas é julgado com rapidez e condenado na hora. E, num país onde não há uma justiça isenta, acessível a todos e sobretudo justa a democracia e a liberdade são meras palavras sem aplicação prática. Infelizmente vivemos num desses países e a cada dia que passa a injustiça aumenta e a justiça torna-se a coutada de alguns.

21 abril 2013

PASSOS EMENDA ERRO ANTIGO. SERÁ QUE AGORA ACERTA?


A notícia Berta Cabral substitui Paulo Braga Lino na Defesa não surpreende quanto à segunda parte do título, porque não é fácil esquecer os pormenores das notícias relativamente recentes (com cerca de cinco semanas), relacionadas com o governante agora substituído, intituladas Governante usa carro do Estado para fins particulares e Secretário de Estado diz não usar viaturas oficiais para fins particulares. Ele podia ter usado uma desculpa, mesmo que «esfarrapada», mas preferiu mentir descaradamente, quando os jornalistas tinham pormenores de que, de acordo com o texto do jornal, não estava a falar verdade.

Será que podemos acreditar nos governantes? Será que os militares não devem, desde já, reclamar a revisão de todas as determinações decididas por Paulo Braga Lino? Será que a Justiça não deve investigar todos os seus actos, inclusivamente os eventuais negócios entre a sua empresa, Fundição Felino, em Ermezinde, e o Estado, bem como as eventuais relações de amizade, cumplicidades e conivências entre ele e o Ministro das «five stars»?

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16 abril 2013

Que aconteceu neste mundo?

Por: Beatriz Gador Paganini
  ( Professora e escritora Argentina )
 in: livro da autora,  “ANTES e DEPOIS DE GUERNIKA”
      

Beatriz Paganini
 
O que aconteceu neste mundo?

A ganância do deus mercado, como diz um escritor do meu mundo, Eduardo Galeano, destruiu tudo.

E as guerras fizeram desaparecer a paz.

E alguns, com o pretexto de a procurar (à paz) continuam guerreando e chegou-se ao absurdo de premiar com o Nobel aquele que dirige a Guerra como se fosse emissário da Paz.

Enquanto isso:

Estão devastando as florestas.

Aumentam a fabricação de armas.

Países que não as fabricavam fazem-no agora.

Foram inventados os Paraísos Fiscais.

Foi criado o FMI, organização criminosa de colarinho branco ao serviço do Deus Artificial.

Foi criada a NATO e com o seu patrocínio se mata, rouba e destrói como Átila.

As regras da guerra nunca se cumprem.

Às sociedades anónimas permite-se transgredir.

As minas a céu aberto envenenam os rios.

Os agroquimicos contaminam as plantas e os seus frutos.

Os agroquímicos produzem malformações no feto humano.

Os agroquímicos causam o cancro e doenças em seres humanos.

Os agroquímicos causam doenças em animais.

Estão desaparecendo espécies animais.

Desaparecem espécies aquáticas.

Um novo termo "deslocados", designa famílias inteiras a fugir porque lhes expropriaram as terras falsificando títulos de propriedade, que lhes confere o Deus inventado.

As hierarquias religiosas, não questionam o valor absoluto do Deus Artificial e deixam-no conviver com o Deus dos seus diferentes credos: católico, evangélico, muçulmano ou protestante.

Pequenas indústrias e / ou empresas desaparecem, absorvidas pelo Deus Artificial que sustenta os capitais internacionais globalizados.

Mudaram o nome às prostitutas, que são chamadas "trabalhadoras sexuais", para transformar assim um sector moralmente marginal, dando-lhe uma referência valorativa falsa, mas suficiente para que a parte sórdida do submundo de prostituição se fortaleça, porque move milhões no mercado negro, juntamente com a droga, o jogo nos casinos e a lavagem de capitais ilícitos de milionários.

A televisão transmite programas de estupidificação mental.

Os canais de televisão, a imprensa oral e escrita, distorcem as notícias para o lado de quem oferecer mais.

Vários países mantêm a pena de morte.

A descoberta da América apenas significou, para os europeus, mais colónias para saquear.

A escravatura existe disfarçada (com o nome de trabalho precário) nos chamados países do terceiro mundo e também no chamado primeiro.

Como não acabam com a especulação (que é um falso argumento do falso deus) provocam crises financeiras que forçam os pobres a ser mais pobres, e vários estados que acreditavam ser soberanos, a alienar as suas riquezas naturais e o seu património cultural.

Bilderberg é um clube de notáveis desnaturalizados, com fortunas fabulosas, que administram com o Deus Artificial.

Alguns membros do Clube Bilderberg são inimputáveis de nascimento, porque acreditam ter uma cor diferente de sangue, que dizem ser azul.

Os considerados de sangue azul herdam os direitos inalienáveis dos seus privilégios e os cidadãos comuns podem ser passíveis de severas medidas, segundo o país, se questionam os do dito sangue azul. Existem também os chamados xeques que governam despoticamente, em países, geralmente ricos em campos de petróleo que lhes permitem levar vidas faustosas em contraste com a pobreza de seus súbditos.

Em alguns países monárquicos podem obter-se os privilégios dos de sangue azul quando o chamado monarca lhes concede um título chamado de nobreza.

Nos países obedientes ao Império onde radica o maior templo do Deus Artificial, aceitaram chamar "falsos positivos" a cidadãos inocentes para quem se inventou um currículo terrorista para os matar e para oferecer aos seus superiores uma quantidade, para justificar a tarefa de encontrar terroristas. Após um massacre chamado "La Macarena", na Colômbia, foi descoberto este sistema sinistro, mas ele é mais comum do que se admite, não só na Colômbia, mas também na América Latina. Como no meu país, a Argentina, onde alguns governadores com mentalidade de senhores feudais, cometem piratarias contra os povos indígenas e assassinatos impunemente. Ou na sua falta, os povos morrem de fome ou de doenças já superadas em outras províncias.

Quando, no Templo de Deus Artificial se alerta para que, em alguns países os cidadãos pobres pretendem viver melhor, porque são governados por ditadores protegidos pelo Império do Norte (ex. Egipto, Tunísia, etc.), cortam-lhes os meios de comunicação e dinheiro (internet, sistemas bancários, etc.) e os militares ou policias matam e castigam-nos nas praças para onde foram, desarmados, reclamar pelos seus direitos.

A propósito do falso deus, transcrevo o pensamento do terceiro presidente dos EUA:
"Acredito que as instituições bancárias são mais perigosas para as nossas liberdades do que exércitos permanentes prontos para o combate. Se o povo americano alguma vez permitir que bancos privados controlem sua moeda, os bancos e todas as instituições que florescerão em torno dos bancos despojarão o povo de toda a posse, primeiro pela inflação, depois pela recessão, até ao dia em que os seus filhos vão acordar sem casa e sem tecto na terra que seus pais conquistaram". Thomas Jefferson.
Se vivesse hoje Thomas Jefferson seria considerado terrorista?

12 abril 2013

Os mitos e as mentiras da direita no ataque ao " estado social "

 
Por: Eugénio Rosa *
 
   



Eugénio Rosa ( economista )
 

 
 
 
RESUMO DESTE ESTUDO

O Tribunal Constitucional declarou, como já tinha sucedido em 2012, inconstitucionais o confisco do subsidio de férias aos trabalhadores da Função Pública e aos pensionistas, e ainda mais duas outras normas da Lei do OE-2013 (o imposto sobre o subsidio de desemprego e de doença e os cortes nos contratos de docência e de investigação) o que, em termos ilíquidos corresponde a cerca de 1.600 milhões € (em valor liquido, e é este que tem efeitos no OE-2013 deverá representar um aumento na despesa – reposição dos subsídios de férias - e um corte na receita que, somados, deverão rondar os 1.200 milhões €).

Perante tal cenário que resulta deste governo pretender violar pela 2ª vez a Constituição da República é previsível que os ataques às funções sociais do Estado, por parte deste governo e dos seus defensores nos media se intensifiquem ainda mais. E a arma mais utilizada, para procurar manipular a opinião pública, será certamente a mentira. E as mais utilizadas para enganar a opinião pública, à semelhança do que tem acontecido nos últimos tempos, serão certamente as seguintes: (1) Sem o empréstimo da "troika" não haveria dinheiro para pagar salários e pensões; (2) A despesa do Estado em Portugal é muito superior à de outros países da UE; (3) As despesas do Estado em Portugal com a saúde, educação e a segurança social são insustentáveis. Por isso interessa já desmontar de uma forma clara e objetiva essas mentiras, e para isso utilizaremos os próprios dados oficiais.

Comecemos pela 1ª mentira da direita sobre o empréstimo da "troika" para pagar pensões e salários. Segundo o Ministério das Finanças, em 2011, as receitas dos impostos e contribuições foram superiores à soma das despesas com Pessoal das Administrações Públicas mais despesas com pensões e outras prestações (inclui saúde), em +4.229,6 milhões €; em 2012 esse excedente subiu para +4.454,1 milhões €. E não consideramos todas das Administrações Públicas. Ainda existem "Outras receitas" que, em 2012, foram mais 9.606,2 milhões €. Afirmar, como fazem muitos comentadores, que o Estado foi obrigado a pedir o empréstimo à "troika" porque não tinha dinheiro para pagar salários e pensões é ou ignorância ou a intenção de mentir descaradamente para enganar a opinião pública, pois os impostos e contribuições pagas todos os anos pelos portugueses são mais que suficientes para pagar aquelas despesas (Portugal paga uma taxa de juro média de 3,4%, quando custa aos credores uma taxa média de 1,4%, e à Alemanha apenas 0,5%; é a solidariedade!)


Outra mentira é que a despesa do Estado em Portugal é superior à de outros países, e por isso tem de ser significativamente reduzida. Segundo o Eurostat, em 2011, a despesa total das Administrações Públicas em Portugal representou 49,4% do PIB português, quando a média na UE situava-se entre os 49,1% e 49,5%, portanto um valor praticamente igual. E em 2012, segundo o Relatório do OE-2013 do Ministério das Finanças, a despesa de todas as Administrações Públicas (Central, Local e Regional) em Portugal reduziu-se para apenas 45,6%. E neste valor estão incluídos os juros da divida que atingiram 7.038,9 milhões € em 2012. Se o deduzirmos desce para apenas 41,4%. Afirmar ou insinuar, como muitos fazem, que a despesa pública em Portugal é excessiva é ou ignorância ou a intenção de enganar a opinião pública.

Em relação à afirmação de que as despesas do Estado com as funções sociais em Portugal são excessivas e insustentáveis e por isso é necessário reduzir a despesa significativamente, interessa dizer que, segundo o Eurostat, em 2011, a despesa pública com a saúde em Portugal correspondeu apenas 6,8% do PIB quando a média na União Europeia variava entre 7,3% e 7,4%. Em euros por habitante, em 2011, em Portugal o gasto público com a saúde foi apenas de 1.097€, quando a média nos países da UE variava entre 1.843€ (+68% do que em Portugal) e 2.094€ (+91). O mesmo se verifica em relação à proteção social, que inclui as pensões. Segundo o Eurostat, em 2011, a despesa pública com a proteção social em Portugal correspondia apenas a 18,1% do PIB quando a média na União Europeia variava entre 19,6% e 20,2% do PIB. Em euros por habitante, a diferença era ainda muito maior, Em Portugal o gasto público com a proteção social por habitante era apenas de 2.910€, quando a média nos países da União Europeia variava entre 4.932€ (+69% do que em Portugal) e 5.716€ (+96%). E nos países desenvolvidos a despesa por habitante era muito superior (Bélgica:+126%; Dinamarca:+274%; Alemanha:+114%). Mesmo se consideramos a totalidade da despesa com a saúde, educação e segurança social, em 2011 ela representava em Portugal 63,4% da despesa total do Estado quando a média na UE era de 65,7% Fazer cortes significativos na despesa com as funções sociais do Estado com a justificação de que essas despesas em Portugal são excessivas e superiores às dos outros países da UE é ou ignorância ou uma mentira para enganar a opinião pública.

O que é insustentável e inaceitável é uma politica recessiva aplicada em Portugal em plena recessão económica, que está a causar uma quebra acentuada nas receitas do Estado e nas contribuições da Segurança Social, o que põe em perigo não só a sustentabilidade das funções sociais do Estado mas a do próprio Estado. Mais cortes na despesa pública só agravam a situação. Como dizia Keynes, só os imbecis é que não entendem isso.


*Eugénio Óscar Garcia da Rosa, licenciado em Economia e Doutorado pelo ISEG, Universidade Técnica de Lisboa, com a tese "Grupos Económicos e Desenvolvimento em Portugal no Contexto da Globalização" tendo sido atribuida a classificação "Muito Bom com Distinção por Unanimidade", Mestre em Ciências da Comunicação pelo ISCTE e Universidade Aberta, membro do Gabinete de Estudos da CGTP-IN e responsável pelo Gabinete Técnico da Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública. Email:edr2@netcabo.pt

10 abril 2013

II " A tragédia da Grécia: Uma acusação à teoria económica neoliberal, à elite política e ao duo UE/FMI"

 
2ª parte
( continuação do post anterior )
 

por C.J. Polychroniou( Economista, investigador no Levy Economics Institute of Bard College )
 
C. J. Polychroniou
(...)A política de terra queimada da Alemanha e o "par de monstros gémeos" do capitalismo neoliberal Em Abril de 2010 a Grécia foi excluída dos mercados internacionais de títulos e enfrentava a perspectiva de um incumprimento. Meses antes, o governo Papandreu havia abordado o FMI para que concedesse seu "know-how técnico e experiência" à UE pela administração de uma dose de terapia de choque. A Grécia precisava ser "resgatada" e os europeus precisavam não só da perícia do FMI como também de acrescentar um elemento de legitimidade ao experimento de austeridade que estava prestes a ser executado num estado membro periférico. Neste contexto, o convite ao FMI para juntar-se à cirurgia económica num paciente doente europeu serviu finalidades múltiplas.

Os curandeiros neoliberais foram rápidos a expedir um julgamento acerca das raízes da crise grega – alegadamente, um sector público inchado que desperdiçava demasiados recursos sobre cidadãos preguiçosos ou improdutivos e comprometendo o potencial do sector privado – e não perdeu tempo em recomendar medidas brutais de austeridade. E se os factos não se ajustassem a esta narrativa? Na verdade, todos os dados disponíveis mostram que o sector público grego, ainda que ineficiente e corrupto, era realmente mais pequeno do que o sector público de muitos outros países europeus; que os gregos trabalhavam em média mais do que a maior parte dos outros europeus; e que mesmo a produtividade grega nos anos que precederam a crise comparava-se favoravelmente à da Alemanha (Papadimitriou, Zezza, and Duwicquet 2012). E se houvesse enormes desequilíbrios na eurozona, com os estados do núcleo a incidirem em enormes excedentes e os periféricos em enormes défices? (Bibow 2012)? A Grécia foi julgada como a única responsável pelo triste estado da sua condição orçamental na era do euro e tinha de ser punida, tanto como castigo pelos seus pecados como a título de advertência aos seus primos sulistas de que o mesmo destino os aguardava se não colocassem o seu próprio orçamento em ordem.

É esta perspectiva cínica e brutal que levou a Grécia a tornar-se um relutante sujeito de teste para a visão neoliberal da UE e manteve o jogo da Alemanha em andamento quando as coisas se tornaram ásperas na Eurolândia. A maior parte dos bancos alemães estavam super-expostos à dívida grega e quase insolventes. O salvamento de Maio de 2010 com a soma de 110 mil milhões de euros (com uma taxa de juro usurária de 5 por cento) foi orquestrado pela UE e o FMI – o par de monstros do capitalismo neoliberal – numa aparente tentativa de manter a Grécia em dia com os seus pagamentos de dívidas a bancos estrangeiros, portanto a rejeição até da mais ligeira consideração de uma reestruturação de dívida, embora isto tivesse sido o modo mais rápido e mais seguro para permitir à Grécia algum espaço para respirar. Ajudar a sua economia a recuperar através da implementação coordenada de um plano de desenvolvimento em grande escala também teria sido apropriado numa união económica e monetária.

Na verdade, tais movimentos poderiam ter assegurado a confiança dos investidores internacionais em títulos na estabilidade do euro e poderia mesmo ter impedido o contágio ao resto da periferia. Eles certamente teriam impedido a propagação de um contágio evitável da periferia para o centro, o qual está claramente a caminho desde o ano passado. Mas com a adopção de uma política punitiva, o contágio na periferia tornou-se inevitável. Com as economias deficitárias na periferia envoltas num colete de força de austeridade, as economias excedentárias do centro foram obrigadas a sentir os efeitos das suas políticas insanas e brutais. As economias tanto da Alemanha como da França contraíram-se no último trimestre de 2012. O PIB na eurozona como um todo caiu em 0,5 por cento no ano passado e, mais significativo, 2012 ficará na história como o primeiro ano desde 1995 no qual nenhum trimestre produziu crescimento (Blenkinsop e Breidthardt 2013)

Na verdade, como política, o esquema do salvamento demonstrou ser um fracasso funesto sob todos os aspectos possíveis, salvo assegurar que pagamentos de dívida continuassem a fluir para bancos estrangeiros. O programa de macro estabilização bruta e as duras medidas de austeridade que acompanharam o empréstimo à Grécia (equivalendo a 11 por cento do PIB do país) tiveram sobre os mercados o efeito oposto do pretendido e sufocaram todas as perspectivas de recuperação para a economia grega: a procura caiu na vertical devido à combinação mortal de cortes orçamentais maciços, reduções em salários e pensões, e aumentos fiscais drásticos, levando a que milhares de pequenos negócios fossem à bancarrota e obrigando várias multinacionais a mudarem suas instalações de produção para países vizinhos dos Balcãs, provocando com isso taxas de desemprego explosivas, receitas do estado em diminuição drástica e aumentando substancialmente o rácio dívida-PIB (Polychroniou 2012c). A política executada pelo duo UE/FMI é tão fundamentalmente defeituosa que Keynes deve estar a rolar no seu túmulo.

Ainda assim, aparentemente, dogmas económicos devem ser respeitados não importa que resultados produzam Assim, na mente dos fanáticos neoliberais eles deveriam ser prosseguidos até o fim amargo. Portanto, menos de dois anos depois, um segundo "salvamento" de 130 mil milhões de euros foi estendido à Grécia sitiada, com termos e condições que são muito mais duros do que a primeira tentativa de "resgate". A política do "pague enquanto sangra" e "sofra pelos seus pecados" executada pelo par de monstros agora deveria estar clara para todos.

Na redacção do documento para o chamado "Segundo Programa de Ajustamento Económico para a Grécia", os lacaios neoliberais da UE afirmaram que "a Grécia fez progressos mistos na direcção dos ambiciosos objectivos do primeiro programa de ajustamento" (European Commission 2012, 1). No lado positivo, observa-se que o défice geral do governo foi reduzido "de 15,75 por cento do PIB em 2009 para 9,25 por cento em 2011". No lado negativo, a recessão "foi muito mais profunda do que a projectada anteriormente" porque, é afirmado, factores tais como "inquietação social" e "incapacidade administrativa" (incluindo uma falta de eficácia no combate à evasão fiscal) "atrasaram a implementação".

O programa "fiscal e de ajustamento estrutural" anti-crescimento foi perfeitamente concebido e teria produzido todos os resultados antecipados se o governo fosse mais capaz de executar as políticas (talvez devesse ter ordenado à polícia e ao exército que prendessem todos os administradores públicos e os alvejassem por desobedecerem aos comandos da troika) e se a cidadania não tivesse feito algum estardalhaço acerca do programa de austeridade encenando manifestações aqui e ali ou ocupando a praça frente ao edifício do parlamento grego. Na essência, é isto o que diz a declaração acima.

As desculpas esfarrapadas dos burocratas da UE pelo facto de o programa de consolidação orçamental ter provocado um declínio económico muito mais drástico do que o "projectado antecipadamente" são negadas claramente pelas recentes concessões parciais feitas pelo FMI: de que as políticas executadas na Grécia acabaram por ter efeitos muito mais adversos sobre a economia porque este calculou mal o impacto do multiplicador fiscal. Na verdade, o sumário executivo do "Segundo Programa de Ajustamento Estrutural para a Grécia" continua a declarar inequivocamente que, as perspectivas de êxito do segundo programa são preocupantes pois os "riscos de implementação ... permanecem muito altos" mas o êxito do programa "depende principalmente da Grécia" (European Commission 2012, 4).

A teoria económica neoliberal aplicada à Grécia pela Alemanha, pela UE e pelo FMI não causou simplesmente um maior declínio no PIB grego do que o "originalmente projectado" ou apenas fez a dívida crescer substancialmente mais no decorrer dos últimos dois anos (de 126,8 por cento em 2010 para 180 por cento em 2012). Ela também produziu uma catástrofe económica e social de proporções sem paralelo em tempos de paz na Europa. Em Maio de 2010, quando o primeiro "salvamento" foi aprovado e as medidas de austeridade arrancaram em alta velocidade, a taxa de desemprego na Grécia situava-se nos 12 por cento. Desde então ela ascendeu para 27 por cento e a taxa de desemprego juvenil atingiu os 62 por cento. Segundo a Autoridade de Estatística Grega (2012), o número real de desempregados atingiu 1,35 milhão em Novembro de 2012, com o número de empregados a situar-se nos 3,64 milhões.

Também a pobreza está a propagar-se rapidamente, afectando todos os grupos na sociedade, incluindo crianças. Num recente relatório divulgado pelo Eurostat (citado em ekathimerini.com 2013), 31 por cento dos gregos tinham em 2011 um padrão de vida próximo da linha de pobreza, enquanto o Instituto do Trabalho da Confederação Geral Grega do Trabalho (INE-GSEE 2012a, 1) declara na sua publicação mensal Enimerosi que no fim do ano passado (2012) 3,9 milhões de pessoas haviam caído abaixo da linha de pobreza.

Os níveis de rendimento dos trabalhadores também levaram uma grande pancada nos últimos dois a três anos, e há mais reduções salariais a virem. Segundo dados de investigação divulgados pelo INE-GSEE (2012b, 21), os rendimentos caíram em 22,8 por cento ou 19 mil milhões de euros, durante 2010-11, com um declínio projectado de 33 mil milhões de euros no rendimento disponível em 2012.

O objectivo do programa de "ajustamento estrutural" da UE/FMI em relação ao mercado de trabalho grego (emprego e salários) é claro como cristal: liberalização total, salário mínimo comparável aos da Bulgária e Roménia (dois países dos Balcãs relativamente atrasados e com níveis de corrupção iguais aos da Grécia) e uma potencial proibição de greves. Os primeiros dois elementos da subversiva política neoliberal para o mercado de trabalho estão bem avançados, enquanto o terceiro está em preparação. Mais uma vez, estas medidas têm um selo oficial de aprovação do governo grego, incluindo a actual administração, uma coligação de três partidos consistente do líder do partido conservador como primeiro-ministro e líderes do Partido Socialista e do Democrático de Esquerda como vice-presidentes. Além disso, como com toda administração grega desde o estalar da crise, o Ministério das Finanças serve como cavalo de Tróia para infligir a política de terra queimada da UE e FMI à economia da Grécia e ao seu povo.

Nenhum governo são, certamente nenhum comprometido com o interesse nacional, teria concordado com os termos do primeiro ou do segundo memorando de entendimento redigido pela UE e o FMI. No começo da crise, as oportunidades para adoptar uma rota alternativa de acção eram, muito ironicamente, esmagadoramente a favor de Grécia e, assim, teria sido lógico para o governo grego da altura fazer jogo duro com a Alemanha e a UE. Mas o dolorosamente amadorístico e angustiosamente incompetente governo que fora encarregado de cuidar do interesse nacional optou por amarrar uma âncora ao pescoço do país enquanto estava em águas profundas e então aguardar que este pudesse nadar de volta à costa. Era uma proposta perdedora desde o princípio. Agora, com a própria Europa a afundar na mais profunda recessão, a única alternativa para o povo grego é encontrar a fortaleza e coragem para enfrentar a brutalidade em curso do experimento de austeridade e através de meios não violentos e democráticos mudar as coisas. A teoria económica do desastre social não tem lugar na sociedade de hoje. Esperançosamente, a Alemanha e o resto da UE virão a perceber isto antes que seja demasiado tarde para o projecto europeu e todos os seus cidadãos.



Referências Bibow, J. 2012. "The Euro Debt Crisis and Germany's Euro Trilemma." Working Paper No. 721. Annandale-on-Hudson, N.Y.: Levy Economics Institute of Bard College. May.
Blenkinsop, P., and A. Breidthardt. 2013 . "Euro Zone Economy Falls Deeper than Expected into Recession." Reuters, February 14.
Bratsis, P. 2003. "Corrupt Compared to What? Greece, Capitalist Interests, and the Specular Purity of the State." Discussion Paper No. 8. The Hellenic Observatory of the European Institute, London School of Economics and Political Science. August.
ekathimerini.com. 2013. "3.4 Million Greeks near Poverty Line in 2011, Eurostat Reports." February 14. Disponível em www.ekathimerini.com/4dcgi/_w_articles_wsite1_1_03/12 /2012_472690.
European Commission. 2012. "European Economy: The Second Economic Adjustment Programme for Greece." Occasional Papers 94. March.
Greek Statistical Authority. 2012. "Labour Force Survey: November 2012." Press Release, December 3.
INE-GSEE (Labour Institute of the Greek General Confederation of Labour). 2012a. Enimerosi , no. 200 (December).
———. 2012b. The Greek Economy and Employment: Yearly Report.
Jones, D. S. 2012. Masters of the Universe: Hayek, Friedman, and the Birth of Neoliberal Politics. Princeton, N.J.: Princeton University Press.
Kenen, P. B. 1969. "The Theory of Optimum Currency Areas: An Eclectic View." In Mundell, R. A., and A. K. Swoboda, eds. Monetary Problems of the International Economy , 41–60. Chicago: The University of Chicago Press.
McKinnon, R. I. 1963. "Optimum Currency Areas." American Economic Review 53, no. 4 (September): 717–25.
Mundell, R. A. 1961. "A Theory of Optimum Currency Areas." American Economic Review 51, no. 4 (September): 657–65.
Papadimitriou, D. B., and L. R. Wray. 2012. "Euroland's Original Sin." Policy Note 2012/8. Annandale-on-Hudson, N.Y.: Levy Economics Institute of Bard College. July.
Papadimitriou, D. B., G. Zezza, and V. Duwicquet. 2012. Current Prospects for the Greek Economy: Interim Report . Annandale-on-Hudson, N.Y.: Levy Economics Institute of Bard College. October.
Polychroniou, C. J. 2008. "The 'Masters of the Universe' Outsmart Themselves." Economic and Political Weekly 43 (October 25): 14–15.
———. 2012a. "The Greek and the European Crisis in Context." New Politics 13, no. 4 (Winter): 49–56.
———. 2012b. "The Mediterranean Conundrum: Crisis in the European Periphery." Economic and Political Weekly 21 (May 26): 35-41.
———. 2012c. "Greece's Bailouts and the Economics of Social Disaster." Policy Note 2012/11. Annandale-on-Hudson, N.Y.: The Levy Economics Institute of Bard College. September.

09 abril 2013

I "A tragédia da Grécia: Uma acusação à teoria económica neoliberal, à elite política e ao duo UE/FMI"


                                                                  1ª Parte  

por C.J. Polychroniou( Economista, investigador no Levy Economics Institute of Bard College )
 
C. J. Polychroniou
                                   
 
Não há nenhuma outra disciplina nas ciências sociais que repouse tão pesadamente sobre dados estatísticos e fórmulas matemáticas e ainda assim seja tão lamentavelmente incompetente em analisar e prever os acontecimentos e processos que estuda do que a própria "lúgubre ciência" ("dismal science"). A crise financeira global de 2007-08 é um grande exemplo. Virtualmente todos os economistas profissionais da corrente dominante foram apanhados com as calças arriadas quando o Lehman Brothers entrou em colapso, disparando uma crise financeira à escala mundial. A razão para isto é que a maior parte dos economistas convenceu-se, com base nos fantásticos modelos de engenharia financeira desenvolvidos nos últimos 20-30 anos, que o capitalismo havia evoluído para um sistema sócio-económico estável e livre de crises. Agora que o dinheiro podia ser criado a partir do ar (chamam a isto o "esquema dos derivativos"), grandes e poderosas instituições financeiras podiam acumular riqueza sem gerar nova riqueza e predadores financeiros podiam pilhá-la à vontade.
 


Na verdade, aos olhos dos profetas da nova era económica, a redescoberta do deus perdido do homem (i.e., mercados livres) significando simetria e perfeição (i.e., estabilidade permanente e acumulação sem fim) abriu um caminho para a realização de uma ordem económica livre da fragilidade contratual e da destruição do ciclo de negócios associado ao perturbado capitalismo do passado. Modelos de equilíbrio geral com dinâmica estocástica (uma abordagem académica cujas "bases científicas" são no mínimo dúbias) e outros modelos deterministas construídos em torno da noção de mercados racionais e eficientes (ex., a hipótese das expectativas racionais), todos eles carregados com suposições normativas ahistóricas e asociais, não deixavam espaço para questionar os mecanismos de engenharia financeira e o admirável novo mundo prometido pelos sumos sacerdotes do capitalismo de livre mercado (Polychroniou 2008). A seguir, os economistas e sábios da corrente dominante (mainstream) nunca viram a aproximação do mais recente desastre financeiro, muito embora a vingança da economia real sobre a economia de papel seja um cenário que se tenha verificado incontáveis vezes na história do capitalismo moderno. Este é o preço pago por substituir economia política por teoria económica matemática e análises econométricas estreitas, ignorando a história e a teoria social, e por zombar da percepção filosófica da natureza humana.
 


Basta dizer, se economistas contemporâneos se incomodassem a ler mesmo o primeiro volume de Das Kapital de Marx, ou considerassem seriamente as sombrias advertências de Marshall contra a transformação da análise económica em modelos matemáticos formais, ou prestassem atenção à fundamentada abordagem de Keynes da procura agregada e do ciclo de negócios ou à hipótese da instabilidade financeira de Minsky (qualquer uma destas opções poderia ter permitido isso), teríamos sido poupados às loucuras associadas com o particularmente absurdo empreendimento de transformar uma ciência social numa física newtoniana e apresentar o universo capitalista como um progresso infindável rumo à acumulação ilimitada, com a ajuda da alquimia do livre mercado. Podíamos também ter evitado as incontáveis crises financeiras e económicas que se verificaram desde a ascensão de uma ilusória mas perigosa ordem sócio-económica neoliberal.
 


Mas a ignorância da história e da política atravessa a análise económica e formulação de políticas como uma linha vermelha, a qual nos faz perguntar o que impede o capitalismo contemporâneo de entrar em colapso sob o peso das suas próprias contradições (realmente, sabemos a razão, e não é nenhuma outra senão a intervenção maciça da própria instituição que os neoliberais gostariam de ver canibalizada até os ossos: o estado) – ou, alternativamente, o que impede os milhões de desempregados, os social e economicamente incapacitados e aqueles relegados para trás pelas implacavelmente desorientadas políticas do "gotejamento económico", da "austeridade fiscal" e dos "mercados não subjugados" de se levantarem para desafiar as cada vez mais crescentes desigualdades na distribuição do rendimento e da riqueza por todos os países capitalistas ocidentais (as razões para isto são, confessadamente, muito mais complicadas e esquivas).
 


No mundo real da elaboração da política económica, as análises e projecções do Fundo Monetário Internacional (FMI) constituem o melhor exemplo dos deuses que fracassaram – isto é, previsões económicas baseadas na fé cega em políticas neoliberais e no dogma do mercado livre. As projecções do FMI são notórias por serem sistematicamente insensatas, precisamente porque são fixadas sobre exigências de "ajustamento estrutural" que impõem o anti-crescimento, que tipicamente produzem devastação económica maciça, como evidenciado por incontáveis exemplos por todo o mundo. Ainda assim, comprometidos com objectivos ideológicos e políticos (perversos) ao invés da evidência científica objectiva, a instituição permanece teimosamente apegada à prescrição do mesmo remédio para economias aflitas não importa de que origem geográfica ou que características sócio-económicas e culturais únicas que possam possuir. Na visão do mundo neoliberal do FMI, "um tamanho único ajusta-se a todos". Não é de surpreender, portanto, que os pacientes tratados pelos bons médicos do FMI habitualmente acabem em coma (eles chamam a isso "estabilização"). Os tratamentos de choque aplicados pelo FMI a economias doentes têm um objectivo explícito: reverter o padrão médio de vida a fim de criar condições altamente favoráveis para os negócios e o investimento internacional e para aumentar a taxa de lucro da elite corporativa e financeira interna. É claramente uma abordagem de guerra de classe, oculta na retórica do mais sagrado do que tu acerca dos benefícios gerais de uma ordem económica neoliberal e acerca de como direitos laborais, disposições sociais de bem estar e salários decentes constituem um empecilho para economia.
 


A catástrofe económica a desdobrar-se na Grécia – a qual está prestes a tornar-se uma crise humanitária dentro da periferia de uma das regiões económicas mais ricas do mundo – diz muito acerca do dano que os decisores políticos com orientação neoliberais do FMI e da União Europeia (UE) podem provocar através da elite política interna, a qual arca com grande responsabilidade pelos males crónicos da economia grega e por terem transformado a Grécia num estado baseado na "legalidade corrupta". Durante os últimos três anos, a Grécia foi a cobaia para as receitas políticas de uma UE neoliberal sob o comando da Alemanha e seus aliados do Norte. Uma crise de dívida pública foi utilizada como oportunidade para desmantelar o estado social, liquidar empresas públicas lucrativas e activos do estado a preços de saldo, privar o trabalho até dos seus direitos mais básicos após décadas de árduas lutas e para reduzir substancialmente salários e pensões, criando de facto uma república das bananas – tudo o com apoio de um segmento significativo da classe industrial/financeira grega e com a assistência da elite política interna, a qual desde o início da crise confiou fortemente na acção ditatorial a fim de executar os comandos dos credores estrangeiros do país.
 


O ardil, desde o princípio, foi tratar o problema grego como uma crise de liquidez provocada pela incapacidade do governo interno para restringir a despesa pública, acumulando défices fiscais maciços (mais de 15 por cento no fim de 2009, embora agora haja bases para acreditar que o governo Papandreu intencionalmente inchou o défice a fim de fabricar um argumento convincente para reformas neoliberais e para a submissão da Grécia ao domínio do FMI) e rácios dívida-PIB incríveis (acima de 126 por cento em 2009) que assustaram investidores internacionais em títulos do governo, remetendo os diferenciais de yields entre títulos gregos e alemães para as nuvens e no essencial vedando indefinidamente à Grécia o acesso aos mercados de crédito.
 
 
Não há dúvida de que governos gregos nos últimos 30 ou mais anos demonstraram-se tão incompetentes e corruptos quanto qualquer governo sobre a terra poderia ser, com a classe política dominante utilizando o estado e seus cofres como um meio de enriquecer-se e enriquecer seus parceiros capitalistas parasitas, assim como de satisfazer as necessidades e pedidos da sua clientela política a fim de manter um exército de eleitores fieis ao partido. É um tipo de corrupção política que está intrinsecamente ligada tanto ao capitalismo (Bratsis 2003) como às suas próprias idiossincrasias internas, de outra forma não seria possível explicar porque práticas perversas semelhantes não são toleradas em toda sociedade capitalista. Governos e sector privado malbarataram fundos estruturais da UE com temerária despreocupação, permitindo no processo que se verificasse a destruição de sectores vitais (ex., agricultura).
 
 
 
Também é verdadeiro que, a partir do momento em que a Grécia aderiu ao euro, os custos baratos dos empréstimos demonstraram-se um grande incentivo para um impressionante crescimento baseado na procura do consumidor através do endividamento e apoiando-se num sector estatal cada vez mais corrupto e ineficiente a fim de efectuar permutas benéficas entre a política e os negócios. O caso do antigo ministro da Defesa do PASOK, Akis Tsochatzopoulos, que está agora a cumprir pena por ter montado uma operação de lavagem maciça de dinheiro com base em esquemas de comissões que aparentemente lhe renderam mais de 100 milhões de euros em subornos, é simplesmente o topo do iceberg: ele é apenas um, um "infeliz" político que caiu como vítima numa campanha da actual elite grega no sentido de lançar "areia para os olhos". A "Lista Lagarde", de mais de 2000 gregos com gordas contas bancárias além-mar, tem sido passada de um responsável do governo para outro desde 2010, desde que foi entregue ao então ministro das Finanças grego pela sua colega francesa, Christine Lagarde, com o objectivo expresso de perseguir evasores fiscais.
 
 
 
 O dispositivo electrónico contendo a informação foi copiado com nomes removidos e desde então a elite política está a fazer tudo o que pode para proteger os nomes que nela permanecem (os quais sem dúvida incluem também os de numerosos políticos) recusando-se a tratar do assunto de uma maneira que cumpra a lei. Na verdade, quando um jornalista grego obteve a lista e procedeu à publicação dos nomes na sua revista semanal foi preso sob a acusação de violar leis da privacidade (foi posteriormente libertado aguardando julgamento em Junho).
 


Não se pode negar que a elite política grega está podre até o tutano e que a cultura política está em terrível necessidade de reforma. Durante cerca de 40 anos, os dois partidos políticos que dirigiram o país, Nova Democracia (conservadores) e o PASOK (socialistas), utilizaram as mesmas tácticas sem escrúpulos e, na maioria dos casos, impôs as mesmas políticas económicas destrutivas, tornando virtualmente impossível julgar qual dos dois partidos é mais corrupto ou mais perigoso para os interesses do país. Ambos estiveram envolvidos em vários grandes escândalos centrados na exploração de recursos do estado a fim de transferir riqueza do sector público para o privado, enriquecerem-se e redistribuírem riqueza da base para o topo.
 


Até muito recentemente, escândalos financeiros e corrupção constituíam grandes fontes de criação de riqueza na Grécia (embora mínimas em comparação com fraudes financeiras nos Estados Unidos). Outrora o país foi um paraíso para a lavagem de dinheiro, enquanto subornos e comissões permaneciam como componente integral do modo como a sociedade efectuava seus negócios. O impacto destas tendências e práticas sobre a democracia foi severo. Com os líderes dos dois partidos a alternarem-se a prender eleitores numa relação a longo prazo baseada não em proporcionar bens públicos e uma ordem social justa mas sim em promessas de redistribuição de recursos tendo em vista a fidelidade ao partido, o bem comum dissolveu-se numa multidão de interesses estreitos sem ligação comum e frequentemente as acções de um grupo de interesse violavam os direitos de outros.
 
 
 
 
O resultado final foi a emergência de uma cultura política que apresentava níveis perigosos de auto-engrandecimento e irresponsabilidade social – e, finalmente, a formação de uma cidadania altamente apolítica: os cidadãos retiraram-se para os seus próprios enclaves pessoais, sentindo-se impotentes ou simplesmente não desejosos de enfrentar as forças envolvidas na destruição económica e decomposição social do país. Sindicatos trabalhistas, os quais em tempos anteriores à crise costumavam empenhar-se em protestos simbólicos apelando à greve dos seus membros, agora têm dificuldade até para organizar uma greve porque apenas uns poucos milhares de pessoas incomodam-se em aparecer – tudo isto quando mais de 1,3 milhão de gregos numa força de trabalho total de 3,7 milhões de pessoas estão desempregados. Em suma, renderam-se totalmente à "troika" – a Comissão Europeia, FMI e Banco Central Europeu – e às políticas mortais de austeridade. É o que se pode dizer, portanto, do grande mito do radicalismo grego.
 


Contudo, apesar de tudo o que foi dito acima ser verdadeiro, a crise grega é muito mais do que o simples resultado de práticas corruptas do governo, embora a corrupção, incluindo evasão fiscal, seja um grande componente dos males económicos que o país hoje enfrenta. É também a história de um estado cleptocrático e de uma elite capitalista parasita que foi apanhada na teia da concepção defeituosa da eurozona (ver Papadimitriou e Wray 2012) quando a crise financeira estado-unidense de 2007-08 atingiu as costas europeias. É igualmente a história de uma economia que não cumpriu os pré requisitos para entrar numa alegada área de moeda óptima (Mundell 1961; McKinnon 1963; Kenen 1969), nem fez grande tentativa de ajustar-se adequadamente. Mas é também a história do fracasso geral do projecto global neoliberal, da financiarização da economia e da ortodoxia do livre mercado (Polychroniou 2012a). Na verdade, de que outra forma poderiam países da eurozona com economias tão diferenciadas (Grécia, uma economia estatista e altamente corrupta; Irlanda, uma perfeita representante do capitalismo neoliberal; Espanha, uma seguidora fiel dos ditames da UE acerca de défices e dívida) acabar por sofrer o mesmo destino?
 


A razão é perfeitamente simples: porque todos eles orbitaram a mesma entidade central, o buraco negro do capitalismo neoliberal europeu. Assim, diferenças políticas e ideológicas entre partidos social-democratas e conservadores há muito que se esvaneceram. Portanto, na Grécia, Espanha, Portugal e alhures, governos "social-democratas" há muito abandonaram até a desculpa de serem agentes de reforma progressista (Polychroniou 2012b). Daí a facilidade com que tais governos cooperaram com os ditames da UE/FMI na imposição de cortes e medidas de austeridade sem precedentes que reduziram drasticamente o padrão de vida para o povo trabalhador dos seus respectivos países.
 


Em suma, a crise grega:
 
 (1) apresenta-se como uma grave crise orçamental e da dívida pública (durante as décadas de 1980 e 1990, as despesas anuais do governo excederam a receita numa média de mais de 8 por cento do PIB, ao passo que a dívida nacional excedeu os 100 por cento do PIB) resultante dos problemas estruturais profundas e de longo prazo da economia grega e das deformidades do seu sistema política e cultural;
 
(2) representa uma crise europeia devido aos intrincados laços comerciais e financeiros entre a Grécia e os outros estados membros da eurozona;
 
 (3) reflecte o fracasso fatal do projecto neoliberal, o qual se institucionalizou por toda a estrutura operacional da UE, enquanto o FMI continua a ser o mais poderoso mundial impositor do fundamentalismo do mercado.
 


No cerne da visão neoliberal está uma ordem societal e mundial baseada na priorização do poder corporativo, nos mercados livres e no abandono dos serviços públicos. A afirmação neoliberal é que as economias funcionariam mais eficazmente, produzindo maior riqueza e prosperidade económica para todos, se aos mercados fosse permitido funcionar sem intervenção do governo. Esta afirmação baseia-se na ideia de que mercados livres são inerentemente justos e podem criar meios eficazes a baixo custo de produzir bens de consumo e serviços. Consequentemente, uma economia intervencionista ou administrada pelo estado é esbanjadora e ineficiente, estrangulando crescimento e inovação devido ao constrangimento da inovação e do espírito empresarial.
 


Esta é a versão de neoliberalismo desenvolvida por Milton Friedman e a Escola de Chicago e habitualmente associada ao regime de Pinochet no Chile e, posteriormente, às políticas de mercado livre de Margaret Thatcher e Ronald Reagan – uma revolução ideológica que foi longa na formação mas que ganhou ascendência sobre o keynesianismo com o surgimento da estagflação (Jones 2012). E é de longe a mais perigosa ideologia do nosso tempo, espalhando destruição com a sua "teoria económica do desastre social" (Polychroniou 2012c).
 

PS: Devido à extensão do conteúdo será publicada amanhã dia 10/04 ( 22:00) a 2ª parte deste texto.


 

08 abril 2013

A manipulação do mercado do ouro pelo Fed ( Federal Reserve System )

por: Paul Craig Roberts (1)
 
 (1) Ex-secretário assistente do Tesouro dos EUA e editor associado do Wall Street Journal. O seu livro mais recente é The Failure of Laissez-Faire Capitalism .
 
O assalto ao ouro.
 
Para os americanos, o Armagedão financeiro e económico pode estar muito próximo. A evidência para esta conclusão é o esforço conjunto do Federal Reserve e suas instituições financeiras dependentes para atemorizar as pessoas e afastá-las do ouro e da prata deitando abaixo os seus preços.

Quando os preços do ouro atingiram os US$1.917,50 por onça ( 1 onça-troy = 31,103 gramas ) em 23 de Agosto de 2011, um ganho de mais de US$500 por onça em menos de oito meses, chegando ao clímax de uma ascensão ao longo de uma década, a partir de US$271 no fim de Dezembro de 2000, o Federal Reserve entrou em pânico. Com o dólar americano a perder valor tão rapidamente em comparação com o padrão das moedas do mundo, a política do Federal Reserve de imprimir US$1 milhão de milhões (trillion) anualmente a fim de suportar os deficientes balanços dos bancos e financiar o défice federal foi posta em perigo. Quem podia acreditar que a taxa de câmbio do dólar em relação a outras divisas quando o valor do dólar estava a entrar em colapso em relação ao ouro e à prata?

O Federal Reserva percebeu que suas compras maciças de títulos a fim de manter altos os seus preços (e portanto baixas as taxas de juros) estavam ameaçadas pela rápida perda do valor do dólar em termos de ouro e prata. O Federal Reserve estava preocupado [com a possibilidade] de que grandes possuidores de dólares americanos, tais como os bancos centrais da China e do Japão e fundos de investimento soberanos de países da OPEP, pudessem somar-se à fuga dos investidores individuais dos US dólares, o que acabaria na queda do valor cambial do dólar e portanto no colapso dos títulos dos EUA e dos preços das acções.

As pessoas inteligentes não podiam deixar de ver que o governo dos EUA não podia permitir-se as longas e numerosas guerras que os neoconservadores estavam a engendrar ou a perda da base fiscal e do rendimento dos consumidores devida à deslocalização de milhões de empregos da classe média estado-unidense para o benefício dos bónus de executivos e ganhos de capital de accionistas. Eles podiam ver o que estava nas cartas e começaram a deixar o dólar substituindo-o por ouro e prata.

Os bancos centrais são mais lentos para actuar. A Arábia Saudita e os emirados do petróleo estão dependentes da protecção estado-unidense e não querem enraivecer o seu protector. O Japão é um estado fantoche que é cuidadoso no relacionamento com o seu mestre. A China queria agarrar-se ao mercado consumidor americano enquanto esse mercado existisse. Foram indivíduos os que começaram a sair do US dólar.

Quando o ouro chegou ao topo dos US$1.900, Washington avançou com a estória de que o ouro era uma bolha. Os media caíram na linha da propaganda de Washington. "O ouro parecia um pouquinho borbulhante", declarou a CNN Money em 23 de Agosto de 2011.

O Federal Reserve utilizou os seus dependentes "bancos demasiado grandes para falir" para curto-circuitar os mercados de metais preciosos. Através da venda a descoberto no mercado em papel de barras de ouro contra a elevação da procura pela posse física, o Federal Reserve foi capaz de rebaixar o preço do ouro para US$1.750 e mantê-lo mais ou menos coberto até recentemente, quando um esforço conjunto em 2-3 de Abril de 2013, reduziu o ouro para US$1.557 e o da prata, a qual havia-se aproximado dos US$50 por onça em 2011, para US27.

O Federal Reserve começou o seu assalto ao ouro em, 1º de Abril, Dia dos Tolos, enviando a conversa a casas correctoras, as quais rapidamente transmitiram aos clientes, de que hedge funds e outros grandes investidores estavam em vias de descarregar suas posições em ouro e que os clientes deveriam sair do mercado de metal precioso antes destas vendas. Como esta informação interna era a própria estratégia do governo, indivíduos não podem ser por actuarem de acordo com ela. Com esta operação, o Federal Reserve, uma entidade totalmente corrupta, foi capaz de combinar fuga individual com fuga institucional. Os preços das barras levaram uma grande pancada e a teimosia afastou-se dos mercados de ouro e prata. O fluxo de dólares para as barras, o qual ameaçava tornar-se uma torrente, foi travado.

Por enquanto parece que o Fed teve êxito em criar receios entre americanos acerca das virtudes do ouro e da prata e, portanto, o Federal Reserve estendeu o tempo em que pode imprimir dinheiro para manter o castelo de cartas de pé. Este tempo pode ser curto ou pode perdurar um par de anos.

Contudo, para os russos e chineses, cujos bancos centrais têm mais dólares que eles alguma vez quiseram, e para os 1,3 mil milhões de indianos na Índia, o preço baixo do ouro que o Federal Reserve engendrou é uma oportunidade. Eles vêem como uma prenda a oportunidade que o Federal Reserve lhes deu para comprar ouro a US$350-US$400 por onça a menos de dois anos atrás.

O ataque do Federal Reserve ao ouro em barra é um acto de desespero que, quando for amplamente reconhecido, condenará a sua política.

Como expliquei anteriormente, o movimento orquestrado contra o ouro e a prata é para proteger o valor cambial do US dólar. Se o ouro não fosse uma ameaça, o governo não estaria a atacá-lo.

O Federal Reserve está a criar US$1 milhão de milhões de novos dólares por ano, mas o mundo está a afastar-se da utilização do dólar para pagamentos internacionais e, portanto, como divisa de reserva. O resultado é um aumento na oferta e uma diminuição na procura. Isto significa uma queda no valor cambial do dólar, inflação interna com o aumento dos preços de importação, uma ascensão na taxa de juro e colapso nos mercados de títulos, acções e imobiliário.

A orquestração do Federal Reserve contra o ouro não pode ter êxito no final das contas. Ela é concebida para ganhar tempo para o Federal Reserva poder continuar a financiar o défice orçamental federal através da emissão de moeda e também para manter taxas de juro baixas e preços da dívida altos a fim de suportar os balanços dos bancos.

Quando o Federal Reserve já não puder mais emitir devido ao declínio do dólar, o qual a emissão agravaria, depósitos em bancos estado-unidenses e pensões poderiam ser sequestrados (grabbed) a fim de financiar o défice do orçamento federal por mais um par de anos. Seja o que for para protelar a catástrofe final.

A manipulação do mercado de ouro é ilegal, mas o governo está a fazer isso de modo a que a lei não seja aplicada.

Pelos seus ataques óbvios e concertados ao ouro e à prata, o governo dos EUA não poderia dar qualquer advertência melhor de que perturbações estão a aproximar-se. Os valores do dólar e de activos financeiros denominados em dólares estão em dúvida.

Aqueles que acreditam no governo e aqueles que acreditam em desregulamentação demonstrar-se-ão igualmente errados. Os Estados Unidos da América passaram o seu zénite. Como previ no princípio do século XXI, em 20 anos os EUA serão um país do terceiro mundo. Estamos na metade do caminho.

06 abril 2013

Portugal deu a países Africanos e a Timor 436 milhões de euros em 2012, POIS É ... SOMOS UM PAÍS RICO !!!!!!!


Portugal continua na mesma senda ............ é lindo sermos caridosos com os outros países, quando sequer temos dinheiro para honrar nossos compromissos diários.

São 567 milhões de dólares ( 436 milhões de euros, ao cambio de hoje - 1,30 ).

É simples de se explicar para estes esquerdalhoides e aproveitadores dos políticos portugueses, e  imbecis de sempre.
Vamos supor a seguinte situação familiar:

- O Manel ganha de rendimentos mensais líquidos 1200 euros.
este dinheiro mal dá para sobreviver, depois de pagar todas as contas.
Mas no bairro onde mora, há muitos pobrezinhos, que vivem em pior situação.
Que faz o Manel ?
Para se fazer de rico, e como não tem dinheiro para ajudar os pobrezinhos, vai á banca e pede 10 mil euros, e dá aos pobrezinhos.
No entanto, a situação do Manel, que já era complicada, piora muito, pois agora tem uma dívida de 10 mil euros + os juros anuais.
Isso se repete ano após ano, e chega-se á insolvência, mas não satisfeito, continua a doar dinheiro aos pobrezinhos.

QUALQUER SEMELHANÇA COM PORTUGAL, NÃO É MERA COINCIDENCIA !!!!!!

Haja paciência ................ eu já me fui deste pântano português, e estou a curtir praia e sol aqui no Brasil.

Amanhem-se ............................. que eu estou de camarote a ver o circo pegar fogo !!!!!!!!!

Um abraço lusitano para todos.

Ramiro Lopes Andrade

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http://www.publico.pt/sociedade/noticia/portugal-cada-vez-mais-longe-de-cumprir-metas-da-ajuda-publica-a-paises-pobres-1590133

A ajuda de Portugal aos países mais pobres caiu 13,1% em 2012 face ao ano anterior, indica um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Portugal segue uma tendência geral de cortes neste tipo de ajudas verificada na União Europeia pelo segundo ano consecutivo.
Em 2012, Portugal disponibilizou 567 milhões de dólares para a Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD), o que corresponde 0,27% do rendimento nacional. Assim, afasta-se cada vez mais das metas internacionais definidas para a APD até 2015, as quais estabelecem que os países destinem 0,7% dos respectivos rendimentos nacionais brutos aos países mais pobres
Pedro Krupenski, presidente da direcção da Plataforma Portuguesa das Organizações Não-Governamentais para o Desenvolvimento criticou, em comunicado, quem “acha que reduzir a Ajuda Pública ao Desenvolvimento é reduzir custos supérfluos”, concluindo que “há tantas formas de financiar a cooperação sem onerar os orçamentos públicos”.
Portugal centra a ajuda pública bilateral nos cinco países africanos de língua oficial portuguesa e em Timor-Leste.
Em geral, os membros do Comité de Ajuda ao Desenvolvimento juntaram menos dinheiro que em 2011: os 125,6 mil milhões de dólares (98 mil milhões de euros) disponibilizados correspondem a uma quebra de 4% nas ajudas. A tendência de redução verificada na União Europeia é a segunda maior desde 1997 e “coloca em risco o apoio sustentável dado a milhões de pessoas mais desfavorecidas de todo o mundo”, pode ler-se no comunicado da Plataforma Portuguesa das ONGD.
Alguns dos maiores cortes ocorreram em Espanha, que reduziu as ajudas aos países mais pobres em quase 50% durante o ano passado.
Quanto ao destino destas verbas, verificou-se sobretudo uma redução nas ajudas ao continente africano, que caíram quase 10% em relação a 2011.
“Contudo, apesar das pressões fiscais actuais, alguns países mantiveram ou aumentaram os respectivos orçamentos para a APD, de modo a cumprir as metas estabelecidas”, pode ler-se no documento divulgado pela OCDE. O Reino Unido, por exemplo, junta-se agora a um conjunto de países europeus que já cumpriram as metas definidas, onde se encontra a Dinamarca, Luxemburgo, Holanda, Noruega e Suíça.

01 abril 2013

Esta «ética» vem de longe


Aula de política da época entre 1643 e 1715

Eis um diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV, constante da peça teatral «Le Diable Rouge», de Antoine Rault:

Colbert: - Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até o pescoço…

Mazarino: - Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas, vai parar à prisão. Mas o Estado é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se… Todos os Estados o fazem!

Colbert: - Ah, sim? Mas como faremos isso, se já criamos todos os impostos imagináveis?

Mazarino: - Criando outros.

Colbert: - Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazarino: - Sim, é impossível.

Colbert: - E sobre os ricos?

Mazarino: - Os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres.

Colbert: - Então, como faremos?

Mazarino: - Colbert! Tu pensas como um queijo, um penico de doente! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres: as que trabalham sonhando enriquecer e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a classe média!

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