27 julho 2011

Os filhos do Corno de África


A terra é a minha cama
e o corpo humilhado da minha mãe, a cabeceira
à noite os bichos
escoram-me do frio e comem outros bichos
que nutrem a minha carne podre
não sei o que é um sorriso
nunca conheci outra vida se não esta

Somos tantos
deitados na mesma cama
já não me levanto
a astenia das minhas pernas
já não seguram o meu corpo
às vezes a minha mãe
mete-me um punhado de farinha na boca
para que a fome não me coma

Não sei se sou criança ou menino
aqui somos todos iguais
não existe idades nem formas
as dores vão deformando
as formas do meu corpo
e o medo assombra-me a sombra
que se cala por baixo de mim

Se pensam que nos matam enganam-se…
…Mutilam-nos

Os ossos desfazem-se lentamente
os dentes cravam a terra
tentam libar água das noites húmidas

Todos os dias adormecem milhares
na boca do inferno

Por mais que os poetas destilem
os cantores clamem
os pintores nos esbocem
jamais alguém conseguirá
abrir as portas da galeria horrenda
e expor o massacre da morte
que nos engole em jejum


Conceição Bernardino

5 comentários:

Célia Gil disse...

Realista e espetacular!

victor simoes disse...

Olá Conceição, um grande poema que retrata bem a realidade, que está muito pralem do que possamos imaginar, ou do que conhecemos pelos média. Infelizmente a riqueza concentra-se nas mãos de alguns, os que manipulam a economia mundial. Sem moralização da sociedade e combate à corrupção e tráfico, nunca conseguiremos um mundo melhor! Quem come caviar e bebe champanhe, não se incomoda nem com o Corno de África, nem com ninguém, para além do seu próprio umbigo.

Tem uma boa semana.
Bj

Linda Simões disse...

Conceição,

As palavras fogem na hora que o nó aperta a garganta e as lágrimas caem.
Há poetas que nos deixam assim.

Parabéns!

Um abraço

José disse...

Infelizmente é assim, e continuará sempre a ser enquanto o homem quizer, querer ter e mais ter.
José.

Helena disse...

olá estou lhe seguindo gostaria que me seguisse tambem!!! mariazinha09.blogspot.com

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