Ignoremos tudo.
Sepultemos bem fundo
As nossas consciências
As nossas culpas
A paixão pelos que sofrem
O estandarte da solidão
A miséria, a vergonha
A riqueza, a ostentação.
Ignoremos tudo.
Com inteligência e minúcia
Para que tudo desapareça
Até ao mais ínfimo pormenor
Sem deixar rasto.
Uma réstia de olhar
Ficará pairando como um traço indefinido
Sobre o silêncio sepulcral de tudo ausente.
Onde não haverá vivalma
Não restará ninguém
Para vasculhar bem no fundo
E ver que afinal…
Nada está sepultado.
Mário Margaride
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