16 dezembro 2009

A CAPACIDADE DE NEGOCIAÇÃO...

Muito se tem falado, estes últimos dias, do aumento, ou não no salário mínimo Nacional, para 475€ mensais, quanto a mim uma vergonha, mas isso é a minha opinião, estando já o patronato a delinear estratégias de combater este aumento, inclusive com ameaças de mais despedimentos. Somos um país do 3º mundo, que temos o privilégio de estar metidos na Europa, e dela sermos o seu caixote do lixo. Aqui ao lado, em Espanha, com a crise bem patente como em todo o mundo em geral, os salários na mesma qualificação, são 3 vezes mais do que os praticados aqui, e dou um exemplo:

A minha empresa, irá ser integrada a partir de Janeiro de 2010, numa economia de escala, criando-se assim a empresa IBÉRICA, que em conjunto com a mesma representante Espanhola, darão cobertura aos seus clientes da mesma forma até aqui, nada mudando para estes, mas aligeirando processos, e juntando recursos, quanto a isto nada a dizer. Em Outubro último, por causa da dita reestruturação, a empresa levou a cabo aqui e em Espanha, despedimentos colectivos, no seu total cá foram 41 trabalhadores, e em Espanha 180. É certo e sabido, que Espanha, regista cerca de 19% de desemprego, e Portugal cerca de 10,2%, compare-se no entanto a população activa de um e de outro. Compare-se ainda, o nível de vida e o custo deste, em que os bens essenciais são bem mais baratos do que cá, e os salários, como disse à pouco, bem mais superiores, na casa dos 1000€ mensais, na minha categoria (Vendedor), mas nas outras, chega a ser bem mais gritante a disparidade. Mas lá, em Espanha, os administradores da minha empresa, ganham menos do que os de cá, querendo dizer, que a riqueza é melhor redistribuída. O que fazer então, quando à 5 anos a esta parte, não tem havido aumentos na empresa, e o poder de compra tem-se vindo a degradar? Vamos então negociar.

O processo de negociação, passa por várias etapas, e é isso que quero aqui explicar, para se ser bem sucedido, ou pelo menos, se tirar maior rentabilidade de um negócio. “Um negócio só é bom, se for bom para ambas as partes“. Toda a gente sabe, que os sindicatos e as comissões de trabalhadores, são quem normalmente negoceia estas questões, e nesse campo não há nada a dizer. Mas os sindicatos e comissões de trabalhadores, são hoje reféns das empresas, e eu digo isto com conhecimento de causa, pois já fui delegado sindical, e este assunto é que levou ao meu abandono do dito sindicato.

1ª Etapa – Tentar perceber se existe vontade da administração em mexer nos pontos que queremos propor, ou ouvir a proposta da empresa para esse assunto. Ouvir os colegas, definir estratégias, negociar-mos entre nós o que queremos levar para a mesa das negociações, criar consenso, eleger a pessoa que irá representar o grupo e elaborar a dita proposta a apresentar (foi o que fizemos).

2ª Etapa – Esperar a oportunidade de apresentar a proposta, ou criar dentro da legalidade essa oportunidade, nomeadamente, convocando uma reunião com a administração da empresa (foi o que fizemos, numa reunião em que se tocou no assunto dos vencimentos)

3ª Etapa – Apresentar, de forma ordeira e sucinta, distribuindo à administração, cópia da mesma proposta, para que saibam bem do que propomos e as razões (foi o que fizemos).

4ª Etapa – Acompanhar de perto a evolução do desenrolar dos acontecimentos e movimentações, tentando perceber, se existe ou não, vontade de irem ao encontro das nossas pretensões.

Não esquecer, que um elemento importante deve ser tido em conta, nomeadamente, que se queremos alcançar os 10, teremos de pedir 20, para eles oferecerem os ditos 10 que pretendemos, claro que numa lógica sempre de negociação e conscientes de que o que se pede é perfeitamente aceitável, e razoável.

Na nossa negociação, a administração, não ficou muito satisfeita com esta forma de que nós adoptamos por negociar, pois no ano anterior, impuseram eles a forma e os aumentos que quiseram , e nós perdemos 44% face ao antigo sistema de comissionamento, e ficamos uns a falar para os outros, criando uma balbúrdia total, em que a empresa depois foi negociar individualmente com cada filial e seus respectivos vendedores, numa clara alusão ao “dividir para reinar” impondo assim o seu sistema. Mas desta vez, antevendo que se passaria o mesmo, antecipamos-nos e organizamo-nos, de forma a que não nos comam por lorpas mais uma vez. Ouvimos de tudo, desde que “Não pensava-mos que estávamos perante um sindicato de vendedores“, dizia um, outro ia mais longe, afirmando que tinha acabado a URSS, e o comunismo, e que não estávamos no tempo do PREC, e no 25 de Abril, todos estes, claro para espanto dos Espanhóis na sala, que são quem vai ficar a mandar nesta empresa nova IBÉRICA, boquiabertos com tamanha organização da nossa parte, não fazendo a mínima ideia dos salários e comissões aqui praticadas. Lamentáveis afirmações, as proferidas por alguns “Ratos Gordos”, que se pavoneiam com altas máquinas e salários “chorudos”, e o nosso parque automóvel, automóveis que servem para as nossas deslocações nas vendas, vendas essas que rendem milhares de euros para a empresa, está a degradar-se dia após dia.

Numa apresentação feita antes dessa reunião, foi-nos transmitido, que a “Limpeza”, referindo-se aos despedimentos colectivos anteriores, tinha mesmo assim, com indemnizações pagas, dado um resultado positivo para a empresa de 1,2 milhões de Euros, numa clara falta de respeito para com os colegas que foram dispensados, a sua grande maioria, numa idade em que são velhos para o trabalho e novos para a reforma. Mas como a mim ninguém me cala, coube-me a mim falar por todos, e assim, dar algumas chapadas de luva branca nos senhores administradores, que irão agora, pressionados pelo administrador geral Espanhol, rever todas as folhas salariais em vigor na empresa, resta-nos esperar para ver.

@Beezz
Carlos Rocha

2 comentários:

Unknown disse...

Quanto a mim parece-me uma vergonha nacional.
Preocupam-se com os velhinhos que ganham menos de 300€, mas esquecem que uma pessoa que trabalha ganhe apenas 500€.
Realmente isto são só administradores a comerem a ganância....../....

victor simoes disse...

É de facto importante saber negociar e ter capacidade para o fazer,sobretudo partindo da união dos trabalhadores e gerando consensos! O problema da falta de capacidade reivindicativa dos nossos trabalhadores reside precisamente nos medos, nas indecisões e na falta de união!
Enquanto assim for, o patronato e o capitalismo explorador, continua a estrangular os trabalhadores, interessa-lhes precisamente, "dividir para reinar" e sobretudos os "ratos gordos"são os mais interessados, pois querem mostrar resultados aos accionistas à conta do emagrecimento salarial, em lugar de estratégias comerciais efectivas.

Um bom Natal para ti e para toda a família.

Um grande abraço.

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Atribuído Pela nossa querida amiga e colaboradora deste espaço, a Marcela Isabel Silveira. Em meu nome, e dos nossos colaboradores, OBRIGADO.

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