Ouve-se argumentos que nos dão o «mercado» como um terrível ogre que come criancinhas, uma ferramenta muito usada na propaganda tal como o medo do FMI. Por isso será interessante que se leia a explicação dada por João César das Neves, onde podemos concluir que, simplesmente, o mercado somos nós, todos nós.
DESTAK 01-12-2010. Por João César das Neves
Portugal anda dominado pelos mercados. Os caprichos dessas entidades estranhas comandam a nossa política e até a nossa vida. Daí vêm todos os nossos problemas. Mas o que são esses misteriosos mercados?
De facto não há nada de sinistro na entidade. Trata--se de pessoas como nós. Muitas pessoas como nós. Têm família, emprego e férias, sonhos e problemas, alegrias e tristezas. A sua primeira característica é serem uma multi-dão, tão vasta e diversificada quanto se possa imaginar. São tanto que têm apenas quatro coisas em comum.
Primeiro fizeram poupanças e têm dinheiritos de lado. Nisso, mais ou menos, estão como nós. Segundo, emprestaram ao Governo português. Esta sua imprudência pode, à primeira vista, torná-los estranhos. Como puderam ser tão tolos? Mas se virmos bem não é tanto assim. Muitos de nós têm certificados de aforro, títulos do Estado, etc. Se temos então, surpresa!, nós somos eles. Mas mesmo que não tenhamos, é compreensível que pessoas normais, em tempos mais calmos, tenham escolhido essa aplicação de poupança, hoje tão pouco recomendável.
As outras duas características são ainda mais pacíficas. Primeiro, eles querem o seu dinheiro de volta ou, melhor, querem continuar a receber juros das suas economias. Finalmente, não acreditam que o Governo português seja capaz de tal, depois de tantas promessas, hesitações e trapalhadas. Qual de nós os pode censurar?
Como se vê, nesta história, o mal não está nos mercados, mas do outro lado. É das promessas, hesitações e trapalhadas que vêm os nossos problemas.
Imagem da Net
6 comentários:
Olá João, bom dia
Na globalização todos nos construímos e também sofremos os desaires das subidas ou descidas de valores.
Ainda assim creio que os governos das nações deverão apostar nas populações tornando-as saudáveis, educadas, bem formadas, empreendedoras e amigas do seu país.
Parece que vivemos num país do "bota abaixo" Tudo o que foi bom e deu frutos corta-se, queima-se e arranjam umas coisas novas para tapar buracos.
Onde está o apoio aos nossos agricultores e aos jovens que apresentam projectos válidos....???
Penso que esta crise tem raízes e alguns andam a aproveitar-se da dita para se abotoarem a seu belo prazer.
Que o das Neves é parvo ou ganha à comissão, toda a gente sabe. Agora o amigo Soares é que me desiludiu. Tanta ingenuidade...
Caro Luís Coelho,
Também penso assim e qualquer pessoa com conhecimentos rudimentares de economia e finanças sabe que as cotações são o fruto da confrontação entre a oferta e a procura. Portanto, são os aforradores, mais ou menos abastados que, no jogo de oferta e procura, isto é, de venda e compra de valores, estabelecem as cotações. Por isso, as desculpas dos governantes com os mercados, como se se tratasse de maquinações de diabos escondidos, a querer prejudicai Portugal, como se Portugal constituísse um espinho nos calos da humanidade, não passam de uma fantasia para enganar o povo.
O mal da dívida é ela ter crescido sem controlo, por responsáveis sem a mínima capacidade de gestão.
O mal está no desprezo pelos cidadãos, pelo povo trabalhador, pelos que produzem riqueza, o PBI, de cujos bolsos é sacado o dinheiro para pagar o exagerado luxo dos governantes, as tais despesas do Estado que, por serem muito superiores às possibilidades de Portugal, originam a dívida, de que agora se fala e que irão sobrecarregar as gerações mais novas e vindouras.
Um abraço
João
Do Miradouro
Zé Lucas,
Chama parvo ao professor João César das Neves e ingénuo a mim, mas como obedeço aos meus princípios e valores e evito deixar-me arrastar por provocações, não chamo nada a si. Cada qual é o que é...
Como disse no comentário anterior, o professor nada disse de parvo nem de encomenda, mas limitou-se a explicar aquilo que qualquer aluno no início de um curso de economia aprende sobre os mercados de valores.
Ele explica aquilo que afirma, mas o Lucas apenas lança setas envenenadas sem dar a mínima explicação das razões em que as fundamenta. Quem sabe se, no caso de explicar o que tentou dizer, eu não estaria de acordo consigo e faria eco da sua douta ciência? Mas assim apenas tenho que lamentar, a vacuidade do seu comentário.
Cumprimentos
João
Do Miradouro
"...Resumindo: o nosso problema não está na falta de novas ideias engenhosas, e sim na recusa de um grande número de economistas em reconhecer o fato de que algumas de suas teorias favoritas simplesmente não funcionam – fato que se tornou óbvio há décadas."
Prémio Nobel da Economia 2008, Paul Krugman.
Ingenuidade não é defeito, logo, não se insulta chamando ingénuo a ninguém. O que é insulto, sim, mas à nossa inteligência, por muito parca que seja, é caracterizar os "mercados" como um grupo de pessoas que, "Primeiro fizeram poupanças e têm dinheiritos de lado". Tenha dó.
Mais a mais, não sei onde ficarão os nossos "princípios" quando concordamos com teorias que não são mais do que Darwinismo Social ou, menos prosaicamente, a lei da selva. O forte come o fraco.
De resto, e dado que é muito susceptível, garanto-lhe que não voltará a ser insultado por mim.
Saúde da boa.
Zé Lucas,
Todas as opiniões podem ser válidas, principalmente se forem colocadas em confronto e analisadas para tentar encontrar a essência do problema. Este é de tal maneira complexo que não se compadece com frases telegráficas.
Paul Krugman não pode ser desprezado e refere o fenómeno de muitos catedráticos se agarrarem às teorias e não conseguirem descer às realidades para ver se aquelas são ou não correspondentes à vida real.
Aceita-se que como diz César das Neves, o conjunto dos aforradores, com poucas dezenas de acções, constituem parte do mercado, mas logicamente este é influenciado pelos grande milionários que num momento colocam à venda ou se propõem comprar muitos milhares de acções na sequência de notícias, que até podem ser menos verdadeiras, acerca de actos de gestão nas empresas ou de simples boatos.
Estes e outros temas devem ser abertos ao povo em geral para sentir o que se passa e poder exercer, com consciência, o seu direito democrático de detentor da soberania.
Cumprimento
João
Do Mirante
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