24 fevereiro 2008

PARA MEDITAR...

Um texto muito oportuno, de Eduardo Prado Coelho, publicado no Público, que todos devemos meditar sobre o mesmo, deixo-vos então com o dito:

A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que Foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.

O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria-prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais Apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.

Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos.

Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.

Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é 'muito chato ter que ler') e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações Médicas podem ser 'compradas', sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma Criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a Pessoa que está sentada finge que dorme para não dar-lhe o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes. Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.

Não. Não. Não. Já basta.

Como 'matéria-prima' de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa 'CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA' congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...

Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa?

Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa' não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados... igualmente abusados!

É muito bom ser português. Mas quando essa Portugalidade autóctone Começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda... Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos Mandam um Messias. Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses Nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a nos acontecer: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso.

É a indústria da desculpa e da estupidez.

Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO.

AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.

E você, o que pensa?.... MEDITE!


EDUARDO PRADO COELHO

9 comentários:

Beezzblogger disse...

.|.

A. João Soares disse...

«Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.»
E de quem esperamos essa tarefa de sinalizar o caminho?
Esse papel cabe aos governantes. Em vez de fazerem leis inúteis que ninguém cumpre, estabeleçam normas restritivas das nomeações por confiança política e submetam o preenchimento de vagas a concurso público a todos os portugueses que satisfaçam às condições estabelecidas.
Reduzam os assessores e outro pessoal dos gabinetes ao estritamente necessário, controlem os resultados do desempenho das suas tarefas. Combatam a corrupção e o enriquecimento ilegal, Comparem o património dos funcionários políticos e de altos cargos à saída da funções com o do início, etc. etc.
São os políticos em funções que devem procurar melhorar os comportamentos dos portugueses. Não se pode esperar muito mais. Já é tarde. Já vai sendo tempo de sermos dignos de pertencer à UE, acima dos piores.
Abraço

Anónimo disse...

Concordo com A.J.S.Há uma coisa que eu ainda não percebi, se calhar sou mesmo burro ou ingénuo!
Será que neste País a riqueza não podia ser distribuida por todos e com mais equilibrio? Não consigo perceber porque é que uns ganham milhões e outros tostões? Porque é que não trabalha toda a gente? Porquê desemprego? Não há espaços para todos? Verdadeiros Socialistas onde estais? Não é possível,o ordenado mínimo ser de 750 euros e o ordenado máximo de 3000 euros? E essas reformas vitalicias dos senhores politicos? Com que autoridade moral as têm?

Seá que a política destes "senhores" é a de destruir a classe média trabalhadora para ficarem iguais aos mais pobres e depois dar-lhes subsídios e rendimentos minimos como "Caridade" e de forma a obter mais uns votos nas próximas eleições?

Isto é um ciclo vicioso e perigoso que vai ter um péssimo resultado.A SEDES tem razão!

Se me responderem, na prática, a estas perguntas e inquietações talvez esses "defeitos" que o "povo" português tem, deixe de ter porque passa a ser mais feliz e menos deprimido!

Beezzblogger disse...

Este texto, foi aqui colocado com este propósito:

- Debater-mos até à exaustão, estes verdadeiros problemas.

- Decidir, as formas de luta a adoptar.

A Luta continua...

Abraços do Beezz

A. João Soares disse...

O Anónimo, bem identificável pelo estilo e argumentos, coloca umas perguntas demasiado ingénuas embora possam ser bem intencionadas.

«a riqueza não podia ser distribuída por todos e com mais equilíbrio?» Certamente que sim, mas pouco, porque há uns que merecem muito e outros que pouco merecem. Porque o desempenho não pode ser avaliado apenas pela presença no posto de trabalho.

«Porquê desemprego?» Porque uma empresa não pode nem deve, pela lógica da gestão, ter mais pessoal do que o necessário para o desempenho das funções da produção prevista. Ninguém pode obrigar a empresa a admitir mais pessoal para ficar nas salas a jogar as cartas. E neste caso, ou teria de pagar menos a todo o pessoal ou teria de aumentar os preços dos produtos deixando de vender e acabando por ter de fechar e mandar os empregados para o desemprego. O que preferir?

«Não é possível, o ordenado mínimo ser de 750 euros e o ordenado máximo de 3000 euros?» Quanto ao ordenado mínimo, poucas empresas se limitam ao valor oficial. Quanto ao máximo, seria condenar o País à miséria total porque as pessoas mais válidas e capazes emigrariam para Países onde lhes pagassem o correspondente ao seu valor, e Portugal ficaria apenas com os menos capazes. O aumento do salário mínimo iria aumentar proporcionalmente salários e subsídios dos deputados que já são exagerados.

O mal está enraizado em tal profundidade que não é fácil ser erradicado. E, por não ser fácil , é preciso que todos apresentem sugestões bem estruturadas e os governantes tenham coragem para tomar as medidas convenientes mesmo em prejuízo próprio, o que exigia deles alto sentido patriótico e grande generosidade e ausência de ambição pessoal. Isso seria um milagre, que nenhum santo quer fazer!!!
Abraço ao autor do post

Anónimo disse...

Há muito que quero escrever sobre o ser de Direita em Portugal. Ao apreciar o espectro político português quem é que já não viu o espetáculo ridículo que a Direita Portuguesa nos dá a cada dia de passa? O Partido Nacional Renovador pretende ser a Direita da Direita e de vez em quando lá aparece nos comícios do Vlaams Belang na Flandres mas não se consegue comparar mínimamente ao maior partido Flamengo. Ao contrário deste, que apresenta propostas para solucionar grande parte dos problemas que afligem a sociedade Belga e Flamenga, o PNR limita-se a acções de rua contra o casamento dos homosexuais e adopção de crianças por parte destes. O seu outro cavalo de batalha é a imigração que está a atingir Portugal pela primeira vez na sua história. Sempre fomos um país de emigrantes e este novo fenómeno apanha a sociedade portuguesa desprevenida. Muitos se queixam do nível de vida em Portugal que certamente não é o melhor, mas devemos admitir que existe muito pior, portanto não é de admirar que muitos estrangeiros procurem o território nacional para se fixarem. Mas escrever sobre a emigração fica para outra ocasião.

Sobre o CDS-PP então nem se fala, esse não precisa de adversários que o combatam porque este combate-se a ele mesmo. Raramente se vê um Partido que tenha tanta vocação para a auto-destruição como este. Ao se eleger um líder é certo e sabido que a oposição interna levanta vozes e começa de imediato a minar o trabalho do novo líder. É melhor que uma novela brasileira. É melhor que George W. Bush. O CDS-PP é uma novela que se arrasta desde a Revolução dos Cravos. Este partido nunca foi capaz de se mostrar como alternativa credível por isso mesmo, não se consegue fazer respeitar pelo eleitorado porque no seu interior não se respeita e não conhece as necessidades reais dos Portugueses. É um partido que está vocacionado a desaparecer da paisagem política portuguesa mais ano menos ano, a não ser que lá surja um líder que o consiga levantar do lamaçal em que se encontra.

Últimamente o seu líder parlamentar disse ter saudades da liderança de Paulo Portas, mas quem é que não tem? Paulo Portas é um combatente e quer se queira quer não foi por ele que se começou a fazer a modernização das Forças Armadas e também foi graças a ele que o Prestige não se afundou em Águas Territoriais Portuguesas, ou já se esqueceu isso? O nosso então Ministro da Defesa foi dos poucos políticos que depois do 25 de Abril teve uma atitude de Estado digna de tal nome. A sua simplicidade e visão podiam ter trazido muito mais prestígio às Forças Armadas Portuguesas se as invejas dos políticos portugueses não tivesse parado essa “revolução” que se estava a passar na governação. Nessa altura o que Santana Lopes e Paulo Portas estavam a fazer era uma reviravolta em Portugal de forma a prepará-la para o Século XXI e finalmente deixar para trás a herança pesada do PREC. Mas houve políticos e muitos mais que com isto viram os seus privilégios (ou tachos para melhor dizer) ameaçados e toca de começar uma campanha de bota-abaixo como nunca se viu antes em Portugal. Deu-se a maioria absoluta ao PS e é o resultado que se vê. Um Governo PS e Cavaco Presidente, não é para rir? Quem é que pode levar Portugal e os Portugueses a sério? Enquanto não houver uma radical mudança de mentalidades o nosso País não sai da cepa torta.

Portugal tem muito potencial e muita gente com capacidade, mas a classe política tem de se fazer respeitar, porque senão não vamos a lado nenhum, ou então vamos, mas sempre sendo a cauda da Europa.

A. João Soares disse...

Caro Lomelino,
Palavras de diplomata , de ideias largas. Realmente, o ressurgimento de Portugal tem de começar por uma revolução dentro dos partidos, a olharem mais para o País e a respeitarem-se entre si para merecerem o respeito do povo.
Infelizmente, preocupam-se apenas com denegrir os adversários a fim de ganharem trunfos para as eleições seguintes, politiqueice que os prejudica e prejudica o Estado. O caso citado no post « Os políticos conhecem-se muito bem» em Do Miradouro evidencia bem esta baixa política com p minúsculo.
Abraço
A. João Soares

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

"O Anónimo, bem identificável pelo estilo e argumentos, coloca umas perguntas demasiado ingénuas embora possam ser bem intencionadas."

E quem é o anónimo bem identificável?Não será o mesmo que faz outros aqui e noutros locais?Claro que é...

saudações e um sorriso

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