20 maio 2008

Confissões de um assassino económico - II


Caríssimos, conforme o prometido continuo aqui com a segunda parte, do texto do post anterior, que por ser muito extensa aínda terá continuidade num terçeiro post.


AMY GOODMAN: John Perkins está connosco aqui no nosso estúdio Firehouse. Bem-vindos ao programa Democracy Now!


JOHN PERKINS: Obrigado, Amy. É óptimo estar aqui.
AMY GOODMAN: É bom tê-lo aqui connosco. Vamos, explique-nos esta expressão, “assassino económico” (economic hit man), e.h.m., como lhe chama.


JOHN PERKINS: Basicamente aquilo para que somos treinados e aquilo a que o nosso trabalho se destina é construir o império americano. Provocar... criar situações em que a maior parte possível dos recursos convirjam para este país, para as nossas companhias, e para o nosso governo e, na verdade, temos sido muito bem sucedidos. Construímos o maior império da história do mundo. Isto tem vindo a ser feito durante os últimos 50 anos desde a II Guerra Mundial, de facto com muito pouco poder militar. Só em ocasiões muito raras como no Iraque é que os militares aparecem como último recurso. Este império, ao invés de qualquer outro na história universal, foi construído principalmente através da manipulação económica, através da burla, através da fraude, através da atracção das pessoas para o nosso modo de vida, através dos assassinos económicos. Eu tomei parte nisso em grande medida.


AMY GOODMAN: Como é que se tornou num deles? Para quem trabalhou?


JOHN PERKINS: Bem, inicialmente fui contratado quando estava na business school, nos finais dos anos sessenta, pela National Security Agency, a maior mas menos bem conhecida organização de espionagem; mas por fim trabalhei em empresas privadas. O primeiro verdadeiro assassino económico derrubou o governo do Irão, um governo democraticamente eleito, o governo de Mossadegh que tinha sido a pessoa do ano da revista Time; e foi tão bem sucedido em fazer isso sem derramamento de sangue... bem, houve algum derramamento de sangue, mas não houve intervenção militar, apenas se gastaram milhões de dólares e substituiu-se Mossadegh pelo Xá do Irão. Nessa altura, percebemos que esta ideia de assassino económico era muitíssimo boa. Não tínhamos que nos preocupar com a ameaça de guerra com a Rússia se o conseguíssemos fazer desta maneira. O problema era que desta forma Roosevelt passava a ser um agente da CIA. Ele era um funcionário do governo. Se fosse apanhado, ficávamos metidos num grande sarilho. Ia ser muito constrangedor. Por isso, nessa altura, a decisão foi utilizar organizações como a CIA e a NSA para recrutar potenciais homens de golpe económico como eu e depois colocá-los a trabalhar em companhias privadas de consultoria, empresas de engenharia, companhias de construção para que, se fôssemos apanhados, não pudesse haver ligação com o governo.
AMY GOODMAN: Bom. Fale-nos da companhia onde trabalhava.


JOHN PERKINS: Bem, a companhia onde trabalhava era uma companhia chamada Chas. T. Main em Boston, Massachusetts. Éramos cerca de 2 000 empregados, e eu fui nomeado economista chefe. Acabei por ter cinquenta pessoas a trabalhar para mim. Mas o meu verdadeiro trabalho era fazer negócios. Ou seja, conceder empréstimos a outros países, empréstimos gigantescos, muito maiores do que aquilo que eles algum dia podiam pagar. Uma das condições do empréstimo... digamos, mil milhões de dólares para um país como a Indonésia ou o Equador... e depois esse país tinha que pagar noventa por cento desse empréstimo a uma companhia americana, ou companhias americanas, para construir infra-estruturas – uma Halliburton ou uma Bechtel. Estas eram as maiores. Depois essas companhias iam para lá e construíam um sistema de electricidade ou portos ou auto-estradas que basicamente serviam apenas algumas das mais ricas famílias desses países. Em última análise, a gente pobre desses países ficava afogada nesta espantosa dívida que nunca poderia pagar. Hoje, um país como o Equador deve mais de cinquenta por cento do seu orçamento nacional só para pagar a sua dívida. E claro que não consegue fazê-lo. Por isso, temo-los literalmente em cima dum barril. Assim, quando queremos mais petróleo, vamos ao Equador e dizemos, “Olhem, vocês não conseguem pagar a vossa dívida, portanto, dêem às nossas companhias petrolíferas as florestas tropicais do Amazonas, que estão repletas de petróleo.” E hoje chegamos lá e destruímos as florestas tropicais do Amazonas, forçando o Equador a entregá-las porque acumularam toda essa dívida. Assim, fazemos estes grandes empréstimos, a maior parte deles volta para os Estados Unidos, o país fica com a dívida mais imensos juros e, na prática, tornam-se nossos criados, nossos escravos. É um império. Não há dúvidas quanto a isto. É um império monstruoso. Tem sido extremamente bem sucedido.


Esta entrevista encontra-se em: http://www.democracynow.org/article.pl?sid=04/11/09/1526251#transcript

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Atribuído Pela nossa querida amiga e colaboradora deste espaço, a Marcela Isabel Silveira. Em meu nome, e dos nossos colaboradores, OBRIGADO.

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