31 outubro 2008

POR DARFUR


POR DARFUR

Grunhem como porcos
saciam a lavagem dos despojos
dos indefesos do racismo
usam e abusam do sadismo
da tortura promíscua
lavam as mãos
em lagares de sangue.

Grunhem como porcos
satisfazem-se em sorrisos
de piedade conspurca
abraçam-se como canibais
com um único achaque
vestem a cobardia
mórbida da prepotência
na matança carnívora.

Conceição Bernardino

29 outubro 2008

QUE MERDA DE PAÍS É ESTE?!?


Empresários declaram guerra ao aumento do salário mínimo

A Associação Nacional das Pequenas e Médias Empresas ameaça instruir os seus associados a suspenderem as renovações de contratos a termo, caso o Governo de José Sócrates "insista" na actualização do salário mínimo.

O presidente da Associação Nacional de PME considera que o aumento do salário mínimo terá como consequência directa a expansão do número de beneficiários do subsídio de desemprego. A jusante, vaticina Augusto Morais, obrigará o Governo a elaborar um orçamento rectificativo.

"A Associação não se vai manifestar, mas vai determinar junto dos associados que não renovem os contratos, o que significa que o primeiro-ministro vai ter uma aumento do desemprego", afirmou o responsável.

"O aumento do desemprego vai levar os trabalhadores a recorrerem ao fundo de desemprego, obrigando o Governo a fazer um orçamento rectificativo", avisou.

Porra, o aumento já é só por si uma miséria que não dá para nada... Afinal que merda de país é este?


triatlo publicado aqui e em: "Beezz..." e "Democracia em Portugal"

O HOMEM DAS CASTANHAS

Ao chegar ao Porto, mesmo no início da Avenida da Liberdade, encontrei um homem comendo castanhas assadas. Sentei-me ao lado do homem e tirei-lhe uma castanha de dentro do saco. «Olha que foi assim que abalaram o capitalismo», disse-me o homem. - Mas o que tem uma castanha assada que possa ser comparado com o capitalismo? - Perguntei eu ao homem. «Bem, já que não sabes, eu vou vou-te explicar: o capitalismo foi roubado dentro de portas. Como meteste a mão dentro do meu saco das castanhas, logo, estás a entrar-me nos bolsos». Não diga mais nada, eu já percebi. O capitalismo foi roubado pelos seus próprios servidores. «Ora nem mais!»
Bom, a verdade é que o capitalismo, ainda bem vivo, mas armado em coma profundo, está a causar motivos de grandes disparates e muitos laivos de riso, cómicos, mesmo. Agora, embora eu não tenha a certeza da veracidade destas notícias, aparecem alguns bancos a recorrerem ao aval do governo para adquirirem junto dos seus fornecedores a matéria-prima, o dinheiro, claro, para poderem continuar a actividade do encobre e tapa. Tudo bem. Mas em relação aos pretendentes às avalizações governamentais, aqui e com estes é que reina a parte mais cómica. A Caixa Geral dos Depósitos, como todos sabemos, está como o saco das castanhas, estão a meter-lhe a mão por dentro. Basta ver os ordenados e reformas galácticas que alguma gente saca de lá todos os meses, para se poder atestar que está enfiada num buraco que chega aos nossos antípodas. Já em relação aos outros BANCOS citados pela Imprensa, a situação, embora semelhante à da CGD, não deixa de ser espectacular! Isto prova o mau comportamento destes BANCOS em relação aos seus fornecedores. Então, para que se quer um avalista quando se é cumpridor? Um cliente que se comporta correctamente perante os seus fornecedores não precisa de avais, venham eles de onde vierem.
Isto é cómico, não é?

David Santos

28 outubro 2008

TRIBUTO AO "M(I)AGALHÃES"...



Lá vem pelo avelar
O filho do Zé João
Vem do centro escolar
Cansado de palmilhar
A caminho da povoação
-
Não há médico na aldeia
E a antiga escola fechou
Não tem carne para a ceia
Nem petróleo para a candeia
Porque o dinheiro acabou
-
O seu pai foi para França
Trabalhar na construção
E a mãe desta criança
Trabalha na vizinhança
Lavando pratos e chão
-
Mas o puto vem contente
Com o Migalhães na mão
E passa por toda a gente
Em alegria aparente
De quem já sabe a lição
-
Um senhor muito invulgar
Que chegou com mais senhores
Veio para visitar
O novo centro escolar
E dar os computadores
-
E lá vem o Joãozinho
No seu contínuo vaivém
Calcorreando o caminho
Desesperando sozinho
À espera da sua mãe
-
Neste país de papões
A troco de dois vinténs
Agravam-se as disfunções
O rico ganha milhões
E o pobre...Migalhães

Recebido por mail. Autor desconhecido

ONDE ANDAVAM OS MILHÕES?


«Se há uma catástrofe em qualquer lado, aparecem logo países a querer ajudar, mas um ano depois a ajuda ainda não chegou. Como é possível demorar-se tanto a disponibilizar dinheiro para uma emergência e agora, de repente, saltam milhões? Onde estavam? O dinheiro apareceu para salvar vidas? Não: apareceu para salvar bancos. E dizem que sem bancos isto não funciona.»

Estas palavras-foram proferidas pelo Nobel da Literatura José Saramago, na apresentação do filme baseado no seu livro “O ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA”, a propósito da crise financeira. E não podia estar mais coberto de razão.

De facto, é absolutamente paradoxal, esta discrepância na atitude dos governos entre estas duas situações. Para fazer face à miséria, à fome, às dificuldades das pessoas mais necessitadas, não há dinheiro. Ou então, demora uma eternidade a aparecer. Na maioria dos casos, só aparece às minguas, e quando esses milhões e milhões de pessoas, já morreram de fome. Para socorrer os bancos das suas próprias asneiras, apareceu imediatamente.

É efectivamente uma situação para todos reflectirmos.

Mário Margaride

26 outubro 2008

A crise do capitalismo e a importância actual de Marx

"Karl Marx está de volta. Pelo menos, este é o veredito dos editores e livreiros da Alemanha, que asseguram que suas obras estão a desaparecer das estantes. A crescente popularidade é imputada, à crise económica em curso." ''Marx entrou de novo na moda'', diz Jörn Schütrumpf, da editora Karl-Dietz, que publica as obras de Marx e Engels em alemão. "
Por Kate Connolly no jornal britânico The Guardian
Alemães em número crescente parecem dispostos a se proclamarem fãs de Marx, numa época em que virou moda repetir a crença do filósofo, de que o capitalismo com seus excessos de cobiça terminaria por se destruir. Quando Oskar Lafontaine, líder do crescente partido de esquerda alemão Die Linke (A Esquerda), disse que incluiria a teoria marxista no manifesto da nova sigla, para sublinhar seus planos de estatização parcial das finanças e do sector energético da nação, foi taxado pelo tablóide Bild de ''maluco esquerdista'' que ''perdeu o rumo''. Mas agora o ministro das Finanças da Alemanha, Peer Steinbrück, que deve ter perdido algumas noites de sono nas últimas semanas, que se declarou também um fã: ''Em geral, é preciso admitir que certas partes da teoria de Marx na verdade não são tão ruins assim'', disse cautelosamente à revista Der Spiegel.

A falta de crença, nos actuais modelos de gestão económica, sobretudo nas teorias neoliberais e na economia de mercado têm levado vários estudiosos, a uma análise crítica destas políticas!

“Em entrevista a Marcello Musto, o historiador Eric Hobsbawm analisa a atualidade da obra de Marx e o renovado interesse que vem despertando nos últimos anos, mais ainda agora após a nova crise de Wall Street. E fala sobre a necessidade de voltar a ler o pensador alemão:

“Marx não regressará como uma inspiração política para a esquerda até que se compreenda que seus escritos não devem ser tratados como programas políticos, mas sim como um caminho para entender a natureza do desenvolvimento capitalista”.

25 outubro 2008

QUEM GANHA COM A CRISE SÃO OS BANCOS


A crise foi o pretexto para o governo levar a cabo uma iniciativa no sentido de ajudar as famílias em dificuldades, no que diz respeito ao chamado crédito mal parado, principalmente o crédito à habitação.
Na prática, o que significa é que essas instituições irão comprar as respectivas habitações a um preço mais baixo do que o seu valor real, para depois as arrendarem posteriormente aos antigos proprietários, por uma renda 20% mais baixa do que estavam a pagar pela amortização das mesmas casas.

No meio disto tudo, os bancos é que ficam a ganhar. Porque recebem de imediato o valor total do empréstimo concedido, enquanto as pessoas, embora fiquem a pagar menos 20% na mensalidade, ficam sem as suas casas. E, volvidos dez anos, que é o prazo mínimo instituído pelo governo, se as quiserem resgatar de novo, irão pagar por elas muito mais do que quando contraíram os empréstimos!
Mário Margaride

24 outubro 2008

Depoimento de uma prostituta




Sou uma prostituta assumida, daquelas que vende o corpo numa rua qualquer, encostada na fachada de uma esquina. Uso as roupas da censura forradas com etiquetas do pecado.
O freguês escolhe a ementa e eu sirvo qualquer prato, desde que ele seja pago em dinheiro.
Fiz desta vida a minha profissão, chamam-me de tudo, rameira, mulher da má vida mas é mesmo isso que sou. Ficava mais ofendida se me chamassem secretária ou senhora doutora, porque não o sou.
Já me habituei a ser tratada como escumalha, sem direitos, sem respeito nem razão sou apenas uma sombra na escuridão.
Quantas vezes já fui violada, espancada e as queixas que apresentei foram ignoradas na gaveta da indiferença, fui ainda chacota e enxovalhada por não mal conseguir falar direito de tanto ser penetrada, mutilada e desfigurada.
Não sou pessoa conceituada pertença de outra podridão, olharam para mim, mandaram-me preencher um papel com os meus dados pessoais. Ali naquele preciso momento tive a precessão que era mais insignificante do que um animal em extinção.
Fui apenas mais uma puta violada, porque quem vive nesta perversão de vida não merece mais nada!

Testemunho real de uma prostituta assumida, que muito me chocou.


Se esta “profissão” existe, é porque há bastante procura;
Não será a sociedade a mais culpada, a que mais censura?

Conceição Bernardino

21 outubro 2008

Pútrida heroína



Embrulho-me em palha húmida
quase moribunda.
Fedem a vómitos delirantes,
consumidos pela puta da vontade de te desejar tanto.
Quando me cruzei contigo pela primeira vez,
eras tão pura, idílica,
miragem perfeita da minha visão distorcida da vida.
Trazias-me paz, esquecia-me do mundo,
eu era um herói, o teu herói!
Prometeste-me fidelidade, amor, loucura…
e eu acreditei, como um cego do teu sabor,
nas promessas que se transformavam
em sombras tão anímicas...

Fui cevando esta vontade de te querer
- como um cão vadio -
e tu, sempre bela e feiticeira,
com a tua força sedutora, domavas as minhas fraquezas,
queria apenas mais uma dose.

Ilusões, só ilusões…
que me transformaram num escarro sebento,
sustentado por um proxeneta do meu próprio corpo.
Larga-me maldita!
Não aguento mais esta seringa
que troco nas esquinas das orgias
que procuro nos urinóis abandonados.
Já não tenho mais nada para te dar...
...agora que já me levaste tudo...

Leva-me agora a vida, pútrida heroína.

Conceição Bernardino

19 outubro 2008

"Pobreza e exclusão social no âmbito da realidade portuguesa"

Em todo o mundo, milhões de pessoas encontram-se em situação de pobreza e/ou exclusão social e é pouco provável que a situação se altere no ambito do contexto sociopolítico actual. Exclusão e pobreza são conceitos considerados concomitantes, sobrepostos e frequentemente complementares, daí a necessidade de clarificar os conceitos o que adiante tentarei fazer, ser pobre não significa que se seja excluído, mas com toda a certeza que a pobreza, poderá conduzir para a exclusão, nas diferentes acepções. Segundo um estudo divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Dezembro de 2004, metade dos 2,8 biliões de trabalhadores no mundo inteiro vive com uma remuneração inferior a US$2 por dia. Cerca de 18% (550 milhões) vivem com menos de US$1 por dia. Na pesquisa a OIT, apontou que a pobreza é derivada da baixa remuneração e resulta do subemprego e da baixa produtividade. A pobreza é um fenómeno mundial que afecta todos os países, inclusive os 20 países mais industrializados do mundo, nos quais 10% da população vive no limiar da pobreza. A diferença entre os mais pobres e os mais ricos continua a aumentar. Em 1960 era de 30 para 1, em 1999 já se cifrava em 74 para 1. Até há bem pouco tempo, a pobreza era entendida em termos de rendimento ou a falta deste. Ser pobre significava que não se dispunha de meios económicos para a alimentação e habitação adequadas. No entanto esta definição foi reformulada num sentido mais abrangente e segundo a definição divulgada pela OIT e aceite pelos vários investigadores que se dedicam à temática, a pobreza não consiste apenas em rendimentos parcos ou ração calórica insuficientes. Tem também a ver com a ausência de oportunidades e escolhas, consideradas essenciais para ter uma existência longa, saudável e criativa, com dignidade, autoestima e o respeito dos outros. São múltiplas as dimensões da pobreza, e muitas delas estão inter-relacionadas, dando origem a um ciclo vicioso. As causas da pobreza residem numa complicada teia de situações locais conjugadas com circunstâncias nacionais e internacionais. É o produto de processos económicos que se registam a diversos níveis, bem como de uma série de condições sociais e económicas que parecem estruturar as possibilidades das pessoas. A exclusão social é, simultaneamente, um fenómeno do passado e do presente. A exclusão apresenta diversas formas nos diferentes continentes e, dentro deles, nas regiões e países. Em sentido literal poder-se-á afirmar que exclusão e excluídos sempre existiram desde que os homens e as mulheres vivem colectivamente e quiseram dar um sentido à vida em comunidade. O ostracismo em Atenas, a proscrição em Roma, as castas inferiores na índia, as várias formas de escravatura, de exílio e desterro, de «guetização», de excomunhão, são manifestações históricas (apenas?) de rejeição, com as quais cada sociedade tratou os indesejáveis, os não reconhecidos, os proscritos da terra. Este tipo de exclusões não desaparecem e os processos ascendentes de racismo, dos mais variados tipos continuam de forma explícita, a par de processos mais indirectos de segregação, determinados mecanismos selectivos de produção e consumo; estratificação social; de estigmatização e culpabilização dos colectivos mais vulneráveis. No entanto dever-se-á reconhecer a diminuição da aceitação moral,, social e política. As revoluções do século XVIII e as lutas dos séculos XIX e XX, onde se afirmaram os direitos civis, políticos e sociais, os processos de descolonização e a procura de uma sociedade mais igualitária e menos excludente, não foram em vão. “Pobreza e exclusão social no âmbito da realidade portuguesa “ “Os diversos estudos sobre pobreza e exclusão social feitos em Portugal mostram que tais problemas têm mantido a mesma gravidade, resistindo às várias políticas. Pobreza e exclusão estão directamente ligadas como se de um ciclo vicioso se tratasse em que uma origina a outra e vice-versa. O próprio modelo de sociedade dominante tem gerado a pobreza e a exclusão Apesar dos sistemas económico, educativo, de emprego e de segurança social visarem objectivos dignificantes, deixam à margem as pessoas que não alcançam determinadas posições e revelam-se inoperativos e sem capacidade de as apoiar eficazmente. A vida nas sociedades de capitalismo avançado está organizada segundo modelos altamente competitivos que são excluentes dos menos capazes devido à idade, à instrução, à etnia, ao sexo ou à saúde. No início da década de 60, as comunidades científica e política julgavam que o crescimento económico e o progresso tecnológico a ele associado fariam desaparecer a pobreza nos países ricos e iriam ter efeitos semelhantes nos países em desenvolvimento. Pensava-se que era uma questão de tempo, só na década de 80 a Europa, os EUA e o Japão tomaram consciência que, nas suas sociedades de abundância material, se tinham criado bolsas de pobreza de considerável extensão e que as mesmas se mostravam resistentes às políticas sociais tradicionais. A exclusão social nas sociedades de abundância é um fenómeno particularmente inquietante porque não pode invocar-se como sua causa a escassez de recursos. Os recursos existentes são mais que suficientes para suprimir a pobreza. O que se passa é que estão mal distribuídos e, pior ainda, a abundância de bens é obtida à custa da exclusão de alguns. A exclusão social não se limita apenas à participação na vida económica e à riqueza material mal repartida, atravessando também várias dimensões da vida social. O combate à pobreza e à exclusão não é tarefa exclusiva dos governos ou das instituições. Esta luta cabe a todos, chamando-se a isto "cultura de solidariedade". Estes são problemas de todos nós e a tomada de consciência de que somos parte destes problemas é essencial para que passemos a fazer parte da sua solução. O combate eficaz exige uma mudança profunda de aspectos estruturais da sociedade uma vez que a pobreza não é só económica mas também estrutural e até cultural.Ambos os conceitos (exclusão e pobreza) remetem para uma situação de desvantagem social embora tenham diferentes conteúdos. Exclusão social, segundo Robert Castel, é a fase extrema de um processo de marginalização ao longo do qual se verificam sucessivas rupturas do indivíduo com a sociedade. Essas rupturas dão-se nos diversos sistemas básicos de socialização e integração, isto é, nos subsistemas social e económico, entre outros. Relativamente ao conceito de pobreza, segundo Peter Townsend, pode definir-se como uma situação de privação resultante da insuficiência de recursos. A privação e a carência de recursos podem registar-se no domínio material, social e cultural. Sempre houve e sempre haverá pobres e ricos. Porém, há que distinguir entre pobreza absoluta e relativa: a primeira diz respeito a todos aqueles que estão abaixo de um certo limite mínimo de subsistência; e a Segunda define-se por comparação com a sociedade em que se vive, isto é, enquanto num país ser-se pobre pode significar não ter uma televisão, noutro pode significar andar descalço. A linha de pobreza mais adoptada é a relativa porque se define por comparação com o rendimento central da população. O significado social da pobreza e as respectivas características variam de sociedade para sociedade. A nova pobreza dos países mais desenvolvidos da Europa Comunitária é muito diferente da pobreza endémica e maciça do Terceiro Mundo. Os grupos sociais mais atingidos pela pobreza são os idosos; os pensionistas ou dependentes de outros benefícios sociais; as pessoas de famílias muito numerosas ou de famílias em que o representante é reformado, inactivo ou que detém baixo nível de instrução. É certo que a pobreza atinge hoje novos estratos da população como consequência das transformações económicas e sócio-demográficas que a sociedade portuguesa tem registado e que se reflectem nos sistemas de emprego e de integração social, no que é normalmente designado por "nova pobreza". É o caso dos trabalhadores cujas qualificações se tenham tornado ultrapassadas, trabalhadores em situação precária ou no desemprego e famílias monoparentais. Contudo, Portugal tem ainda uma velha e tradicional pobreza, característica do estádio de desenvolvimento relativamente atrasado em comparação com os outros países europeus. Apesar dos avanços, são cada vez maiores as bolsas de pobreza onde os pobres são excluídos do direito à participação na sociedade; os Estados desresponsabilizam-se na prestação de serviços sociais; a globalização da economia e o desenvolvimento do mercado livre provocam situações de desemprego de longa duração; o endividamento dos países e das famílias é um fardo cada vez mais pesado; o aumento de nacionalismos e de conflitos étnicos, religiosos e raciais causa cada vez mais violência; e a persistência de governos opressivos em países pobres limita os direitos e liberdades das suas gentes. Portugal, país de desenvolvimento intermédio, sempre deixou abandonadas extensas regiões do interior, não sendo por isso de surpreender que aí existam as mais significativas manchas de pobreza. Simultaneamente, as assimetrias do crescimento urbano trouxeram consigo a formação de importantes aglomerados de pobreza nas principais cidades do litoral. Assim, compreende-se que em Portugal os problemas de pobreza sejam em grande medida problemas de desenvolvimento. A miséria começa por ser uma ausência: os mais pobres são homens fora do mundo dos homens, fora da cidade dos centros de decisões, de trabalho, e da informação e conhecimento; a miséria é a humilhação de estar fora do direito e da responsabilidade de ser útil: www.aparf.pt/aparf/center.) "A pior das desgraças do homem não é ter fome, não saber ler ou estar desempregado.A pior das desgraças é a de sabermos que não contam connosco para nada a tal ponto que até os nossos sofrimentos são ignorados”. (Padre Joseph Wresinki). (FERNANDES, Carla; “Lepras, Pobreza e exclusão social”, in Jornal Lepras, A pobreza em Portugal, até pela diversidade de factores explicativos que estão na sua origem, apresenta distinções territoriais muito significativas. Todos os estudos e fontes disponíveis identificam concentrações de fenómenos de pobreza e exclusão social em zonas de base rural e com menor dinamismo económico, onde predomina a pobreza tradicional, por outro lado, nas maiores concentrações urbanas, especialmente nas Áreas Metropolitanas, onde para além da pobreza tradicional emergem novas formas ou fenómenos da chamada “nova pobreza”. À semelhança dos países mais desenvolvidos, geralmente produzidos por processos de modernização injustos. A tipologia da fragilidade social nas famílias em Portugal é, igualmente, marcada por importantes características qualitativas. Ela tem um rosto feminino, especialmente quando esta condição se associa à situação familiar monoparental. Mas tem igualmente uma maior probabilidade de atingir os idosos isolados e as crianças vivendo em famílias alargadas, bem como as minorias étnicas. A criação do Rendimento Mínimo Garantido veio dar visibilidade à dimensão mais extrema da fragilidade social nas famílias portuguesas. Em Dezembro de 1999 eram cerca de 430.000 os beneficiários do Rendimento Mínimo Garantido, dos quais cerca de metade em idade activa. O afastamento do mercado de trabalho e a persistência de laços instáveis e ocasionais com as actividades remuneradas constitui, a par de profundas debilidades do ponto de vista das competências sociais e profissionais, a causa principal da elevada participação de activos nos segmentos mais pobres da sociedade portuguesa. A fragilidade social e as dificuldades de inserção profissional sustentável são agravadas em alguns grupos portadores de especiais desvantagens, tais como os deficientes, os ex-reclusos ou os ex-toxicodependentes. A taxa de emprego destes grupos afasta-se significativamente dos valores médios e as respostas de apoio à empregabilidade constituem um factor essencial de integração. ( in relatório: Programa operacional Formação e Desenvolvimento Social 2004 (POEFDS,). Segundo Luís Capoucha, “ "a maioria dos pobres em Portugal é constituída por pessoas idosas, camponeses pobres e assalariados da agricultura, da indústria e dos serviços menos qualificados e mais mal remunerados. Trata-se de categorias integradas nas estruturas produtivas e sociais, geralmente limitadas de horizontes, ambições e referências, muitas vezes apáticas ou politicamente conservadoras, vulneráveis a tutelas paternalistas e a sociabilidades clientelistas isto é, não apenas se inscrevem na ordem social, como tendem a contribuir para a manter.”" (CAPUCHA, Luís; “Pobreza, exclusão social e marginalidades”, in José Viegas, António Costa (orgs.), Portugal, que Modernidade?, Oeiras, Celta Editora, 1998, pp217,218.) Neste aspecto é sintomático e exemplo a bipolarização partidária, com a alternância de governos, que nos últimos anos, não têm conduzido as políticas de forma a uma maior equidade, e em favor de uma sociedade mais justa e congregadora, de convergências sociais e verdadadeiramente de todos os portugueses. O poder, funcionando bem ou mal, vai-se dividindo na mesma esfera política e os pobres, vão-se resignando ao fatalismo de já ter nascido pobre, como se de desígnio divino se tratasse. Como alguém dizia “os portugueses são gente de brandos costumes”, não me parece que assim seja, na minha modesta opinião as amarras de 40 anos de ditadura Salazarista, ainda hoje mantém nos desafortunados, os medos e receios do passado. Estes medos e receios contribuem para a inoperância reivindicativa, aliada à falta de Dinamismo dos sindicatos, que pelos trabalhadores têm feito muito pouco, cedendo aos interesses dos lobbies, que por sua vez controlam os partidos e consequentemente, detêm o poder. Segundo a Profª Manuela Silva, “ "Continua a existir em Portugal uma realidade intolerável num país democrático, com o nosso nível de rendimento médio. Refiro-me à fome. Estimam-se em 200 mil as pessoas que passam fome em Portugal. Esta simples afirmação deveria merecer da parte dos governantes e dos políticos em geral uma investigação aprofundada, para que dela se retirassem todas as consequências quanto às políticas que importaria adoptar para erradicar esta tão severa manifestação de pobreza. Para além de situações de carência alimentar básica, a pobreza manifesta-se em falta de acesso a habitação condigna por parte de um número considerável das famílias residentes em Portugal, não por carência absoluta de fogos, mas porque existe manifesto desajustamento entre a procura e a oferta, sobretudo no caso das grandes cidades e entre a população imigrante. Estima-se em cerca de 21% (27%, antes das medidas de redistribuição e de assistência social) a população em situação de pobreza, definida esta segundo critérios estatísticos usados em comparações no espaço comunitário; em números absolutos, são cerca de dois milhões os portugueses que entram na categoria dos empobrecidos. Entre estes, cerca de metade, um milhão, conhece uma situação de pobreza persistente, isto é, sempre foi pobre e não tem quaisquer perspectivas de deixar de o ser, nas presentes circunstâncias. O agravamento do desemprego e da precariedade no trabalho tem contribuído nos últimos dois anos, para alargar a incidência e a severidade da pobreza e, seguramente, constitui um dos principais factores de exclusão social. Também o baixo nível do salário mínimo e das pensões mínimas, quando constituem o único rendimento do agregado familiar, em determinadas condições de número de pessoas a cargo, precariedade de saúde ou deficiência de algum membro da família ou outra situação de vulnerabilidade, atiram o agregado para níveis mais ou menos severos de pobreza. Existe uma elevada incidência de pobreza entre a população idosa vivendo de pensões de reforma; como também é notório o grau de empobrecimento entre a população activa empregada, devido à precariedade do trabalho e às baixas remunerações em relação ao custo de uma vida decente. Nos últimos anos, as medidas de contenção de despesas públicas, designadamente através da sua incidência na redução das despesas com os serviços públicos de saúde, com a educação e com a segurança social, vêm constituindo um sério factor de agravamento da pobreza e da exclusão social. O insucesso escolar e o abandono escolar precoce, que continuam a atingir números preocupantes no nosso País, são ao mesmo tempo um efeito visível da exclusão e sua causa, com notórias repercussões no futuro. A persistência de fenómenos de dependência, em relação ao álcool ou às drogas contam-se entre as causas próximas da pobreza. De assinalar também o fenómeno recente da crescente info-exclusão, isto é, a situação dos indivíduos que vão ficando à margem da informática. Não conheço nenhum estudo sobre o assunto, mas posso intuir que, relativamente ao futuro e mesmo já no presente, existem obstáculos acrescidos para quem não domina os conhecimentos informáticos básicos, tendo em conta o número crescente de actos que se realizam via internet, como sejam transacções e negócios vários, oferta e procura de emprego, concursos de admissão de pessoal na função pública, etc.; A anomia social e a desafiliação são, igualmente, fenómenos que mereceriam uma atenção particular, no conhecimento da exclusão social. Com efeito, os índices de marginalidade social, de delinquência, de criminalidade e de corrupção não deixam lugar para dúvidas de que estão enfraquecidos os laços de solidariedade e o sentido da responsabilidade pelo bem comum, sendo certo que este é um plano inclinado que conduz à exclusão social; Por último, cabe referir que as mutações por que passa a estrutura familiar, em grande parte como consequência das exigências da economia, não favorece, antes, induz maior propensão à exclusão social. Um dos obstáculos maiores que dificultam a erradicação da pobreza no nosso País é, sem dúvida, a existência de um grande défice no reconhecimento da pobreza e da exclusão como sério problema social nacional. Para muitos dos nossos concidadãos e concidadãs, a pobreza é tão só – ou principalmente – uma situação que releva do foro individual; resulta de factores arbitrários associados à sorte ou aos azares da vida, sendo considerada, portanto, um fenómeno aleatório e inelutável; ou, então, a pobreza é tida como uma consequência de desvios e erros de conduta dos próprios pobres. Com uma tal perspectiva, oculta-se que o empobrecimento é gerado pelo próprio funcionamento da economia e da organização socio-política vigentes e que tem a ver com o desemprego, a precariedade do emprego, os baixos salários, as pensões de reforma exíguas, o valor reduzido das prestações da solidariedade social e a má administração das mesma, a agressividade do marketing que leva ao excessivo endividamento das famílias, a desadequação dos sistemas de ensino responsável pelo abandono escolar precoce e o elevado grau de iletracia, a falta de oportunidades de formação profissional e de re-inserção na economia e na sociedade, a ineficiência no combate à tóxico-dependência, ao alcoolismo e às doenças evitáveis."” (SILVA Manuela, “Pobreza, exclusão social e políticas públicas”, in Seara Nova – Nº83- Janeiro/Fevereiro/Março 2004 ).
Conclusão:

Muitas são as indagações que podem ser trazidas à análise do tema da pobreza, da exclusão social e da questão do acesso e exercício de direitos na sociedade moderna, seja ela urbana e industrializada ou agrícola. O que caracteriza a pobreza, o que faz dela um problema social, que traços a diferem da pobreza de outrora, o que permite falar em exclusão social, o que cabe à sociedade e ao Estado nesse processo e, em particular, em que medida está associado o tema da pobreza com o Direito e os direitos? Estas são algumas das perguntas que este trabalho pretende responder para demonstrar a importância do Estado nos processos que geram e mantêm a desigualdade social e a necessidade dos direitos económicos, sociais e culturais para possibilitar aos “menos iguais” o exercício activo dos direitos civis e dos direitos políticos relevantes para a democracia efectiva. As discussões académicas e políticas vêm proliferando neste campo, após se verificarem que as questões de género, de raça, de origem, de idade, todas constituintes de problemas sociais de séria gravidade convergem ao problema da pobreza e da desigualdade económica. É nestas circunstâncias que mulheres, negros, velhos, crianças, deficientes, emigrantes e imigrantes compartilham em geral de desigualdades comuns à carência económica e não raro à pobreza absoluta: a desigualdade de saúde, de moradia, de ocupação social, de bem-estar e, traço comum, a desigualdade política. A pobreza, nas suas feições de desigualdade de renda e de acesso a recursos, repercute claramente na participação política. Barreiras efectivamente sólidas se acumulam, obstando a participação na democracia e aprofundando os problemas que fazem dissolver a integração social. Não é na continuidade dos Governos e das políticas que temos tido, que Portugal e os portugueses, podem resolver esta questão da Pobreza e exclusão social, só com uma ruptura com os modelos actuais de políticas, ao serviço da sociedade dominante e ao sabor dos lobbies de interesses particulares, só com o envolvimento de toda a sociedade, poderemos começar a ver a luz no fim do tunel.

Bibliografia:
Giddens, Anthony; 2004 4ª ed. Fundação Calouste Gulbenkian.

SILVA, Manuela; “Pobreza, exclusão social e políticas públicas”, in Seara Nova – Nº83- Janeiro/Fevereiro/Março 2004 Relatório: Programa operacional Formação e Desenvolvimento Social 2004 (POEFDS,).

FERNANDES, Carla; “Lepras, Pobreza e exclusão social”, in Jornal Lepras, www.aparf.pt/aparf/center.

CAPUCHA, Luís; 1998 “Pobreza, exclusão social e marginalidades”, in José Viegas, António Costa (orgs.), Portugal, que Modernidade?, Oeiras, Celta Editora

Código Deontológico dos Sociólogos

Preâmbulo
A actividade profissional dos sociólogos é uma prática social: desenvolve-se em sociedade e produz efeitos sociais. O reconhecimento das responsabilidades profissionais e sociais que necessariamente daqui decorrem está na base da elaboração do Código Deontológico dos sociólogos.
Quaisquer que sejam os papéis profissionais dos sociólogos – de investigador, professor, técnico, consultor, quadro dirigente ou outros – o trabalho sociológico é uma actividade de base científica, assente em competências próprias de elevada qualificação, decorrentes de uma preparação específica em sociologia, nos planos teórico, metodológico, técnico e relacional.
O exercício dessas competências pressupõe grande autonomia de critérios no desempenho da actividade profissional. Em contrapartida e indissociavelmente, implica consideráveis responsabilidades profissionais e sociais.
O Código Deontológico tem como preocupação fundamental explicitar os principais tipos de responsabilidades dos sociólogos para com financiadores e clientes, alunos e colegas, inquiridos e entrevistados, grupos e instituições alvo de pesquisa ou intervenção, outras fontes de informação e contextos sociais que possam ser afectados; em termos gerais, responsabilidades para com a sociologia e a sociedade.
A prática sociológica partilha princípios gerais da ética científica. Mas reconhece que a ciência é ela própria uma instituição social; que se tem vindo a desenvolver várias maneiras de entender a prática sociológica; e que a actividade profissional dos sociólogos inclui, a par da investigação científica, outras dimensões do relacionamento social e outros papéis profissionais, com as suas exigências deontológicas próprias.
A pluralidade é um dado constitutivo do campo da sociologia, designadamente quanto aos quadros teóricos, métodos de pesquisa e saberes operatórios susceptíveis de orientarem a prática científica e profissional. As perspectivas e os instrumentos são diversificados e evoluem com o tempo. Os papéis profissionais dos sociólogos são vários, estão em transformação e, no respectivo desempenho, não é raro verificar-se alguma sobreposição de papéis.
A formulação dos princípios deontológicos dos sociólogos não ignora aquisições cognitivas fundamentais da sociologia, nomeadamente quanto ao carácter relacional, socialmente construído e mutável da realidade social, quanto às assimetrias de recursos e poderes existentes na sociedade e quanto à diversidade e relatividade das culturas.
Na investigação científica, no ensino, na acção técnica ou em qualquer outra vertente da prática profissional dos sociólogos estão sempre implicados interesses e valores. A própria sociologia tem dado ou mesmo conflituais, e de que não é possível ordená-los segundo uma escala de prioridades única e imutável.
É possível ocorrerem situações em que interesses de conhecimento e valores da prática científica não sejam facilmente compatibilizáveis com interesses e valores predominantes noutros domínios ou sectores sociais. É também usual o sociólogo defrontar-se com discrepâncias de interesses e valores entre cliente e grupo alvo de pesquisa ou intervenção; ou, em termos latos, entre diversos segmentos da sociedade sobre os quais incida, de algum modo a sua actividade profissional.
Um dos principais objectivos do Código Deontológico é constituir uma referência que ajude a ultrapassar potenciais situações de dúvida ou conflito ético no exercício da actividade profissional dos sociólogos, nomeadamente os decorrentes da pluralidade constitutiva da sociologia e da sociedade.
O Conselho de Deontologia é um corolário e um complemento do Código Deontológico.
O Código Deontológico dos sociólogos é um enunciado de princípios. Nas situações concretas da prática profissional poderão não ser sempre ou imediatamente inequívocas, à luz desses princípios as implicações deontológicas. Não é viável pormenorizar todas as circunstâncias particulares da actividade profissional. Pode acontecer que, na sua aplicação a determinados casos, diferentes princípios do Código Deontológico se revelem dificilmente conciliáveis entre si. As condições e modalidades de exercício da profissão, os conhecimentos disponíveis e a própria sociedade estão em constante mutação.importantes contributos para a compreensão de que esses interesses e valores podem ser diferentes
Nestas condições, o Conselho de Deontologia, visando pronunciar-se sobre situações de eventual desrespeito, do Código Deontológico, tem sobretudo como incumbências a sensibilização, o esclarecimento, o aconselhamento, a arbitragem, a acumulação de exemplos e o aprofundamento das interpretações, perante problemas deontológicos que lhe sejam colocados.
O Código Deontológico vincula os membros da A.P.S., e todos os que a ele queiram aderir enquanto referência para o exercício da actividade profissional de sociólogo. A condição mais importante para a aplicação apropriada do Código Deontológico, bem como o seu progressivo aperfeiçoamento e continuada adequação, é o compromisso para com ele e a discussão crítica das implicações deontológicas da prática profissional, por parte dos sociólogos.

A. Prática da Sociologia
A actividade profissional dos sociólogos é uma prática social, constituindo a sociologia, na sua pluralidade paradigmática, o fundamento cientifico dessa prática. O exercício dos diversos papéis profissionais dos sociólogos implica responsabilidades para com a sociedade e para com a sociologia.
Os sociólogos devem exercer a sua profissão de acordo com os mais elevados padrões de competência profissional ao seu alcance. Da sua conduta profissional devem fazer parte a exploração de todas as potencialidades da sociologia e uma permanente actualização de conhecimentos. Os sociólogos devem igualmente Ter presente os limites da sua disciplina e os seus próprios limites pessoais.
No desempenho dos seus papéis profissionais, os sociólogos não devem prescindir da autonomia de critérios e de procedimentos que é inerente às suas competências específicas. Tal não impede o respeito por outras exigências decorrentes dos enquadramentos institucionais ou contratuais em que exerçam a sua actividade, salvo se colidirem com os princípios expressos neste código deontológico.
Os sociólogos devem procurar conseguir a maior objectividade possível na análise da realidade social. Trata-se, não de considerar a produção de conhecimento sociológico como socialmente neutra, mas de evitar distorções deliberadas resultantes de interesses ou convicções, e de explicitar os pressupostos presentes nesta análise.
O estatuto profissional do sociólogo impõe uma postura de maior isenção possível. Implica nomeadamente procurar um relacionamento equilibrado com os diversos actores sociais, individuais ou colectivos, envolvidos no contexto da sua prática. Exclui ainda quaisquer utilizações abusivas da sua posição profissional, a qual não deve ser utilizada como falso pretexto para fins alheios à profissão de sociólogo nem, em geral, para fins fraudulentos.

B. Recolha de Informação
No exercício dos seus papéis profissionais, os sociólogos não devem violar o principio da voluntariedade de fornecimento de informação por parte de indivíduos, populações e instituições.
Nos processos de recolha de informação coloca-se frequentemente a questão das diferenças de estatuto entre os sociólogos e os indivíduos, populações e instituições que integram os objectos de estudo. Essas diferenças de estatuto não devem ser manipuladas pelos sociólogos no sentido da obtenção coerciva de informação, nem devem os sociólogos deixar-se manipular pelos informantes.
É dever dos sociólogos procurar evitar que da recolha, utilização e divulgação de informação decorram prejuízos para quem a presta ou para aqueles acerca de quem a informação é prestada. Devem, nomeadamente, salvaguardar o direito das pessoas à privacidade e ao anonimato, bem como respeitar a confidencialidade de informações e resultados, em todas as situações em que ela tenha sido acordada.
Os sociólogos têm estrita obrigação de velar pela protecção dos arquivos de informações ou bases de dados sujeitos a confidencialidade ou anonimato. Só em caso de absoluta necessidade devidamente justificada poderão esses arquivos ou bases de dados ser tramnsferidos para outros profissionais de sociologia, desde que vinculados a este código deontológico.
Nos processos de recolha de informação, os sociólogos devem ter o cuidado de explicitar junto dos informantes a sua identidade profissional, tal como a natureza, objectivos, procedimentos e enquadramentos institucional dos trabalhos que realizam.

C. Relações Profissionais
No estabelecimento de relações contratuais para o exercício das suas actividades profissionais, os sociólogos devem explicitar junto de empregadores, clientes ou financiadores a sua adesão a este código deontológico, e não aceitar compromissos que o ponham em causa.
Os sociólogos só devem assumir compromissos profissionais para cuja realização tenham competência e disponibilidade. Quando não possam corresponder a solicitações profissionais que lhes sejam dirigidas, devem procurar indicar outros sociólogos que considerem competentes para a realização desses trabalhos.
Nas relações profissionais é dever dos sociólogos respeitar plenamente os compromissos assumidos com contratadores e financiadores.
Quer no estabelecimento de vínculos contratuais quer na realização das actividades contratadas, os sociólogos devem salvaguardar a autonomia de critérios e procedimentos indispensável ao exercício das suas competências profissionais.
No desempenho dos seus papéis profissionais, os sociólogos são responsáveis tanto perante os empregadores, clientes ou financiadores como perante os grupos sociais alvo de pesquisa ou intervenção.
As preocupações deontológicas dos sociólogos devem abranger a actividade das equipas que com eles trabalhem ou das entidades que subcontratem.
Dadas as diferenças de poderes e de estatutos, de interesses e de valores que frequentemente se verificam nos contextos da sua actividade, os sociólogos devem procurar exercê-la através de um relacionamento profissionalmente isento com os diversos sectores sociais envolvidos, guiado pelos critérios próprios da sociologia, e proporcionar-lhes um esclarecimento adequado sobre os objectivos, procedimentos e resultados do estudo ou intervenção.
As relações de trabalho dos sociólogos com profissionais de outras especialidades devem obedecer a princípios de cooperação e integração interdisciplinar, sem desrespeito pelas competências específicas e autonomia profissional de cada um.
Nos trabalhos que apresentem, os profissionais de sociologia devem distinguir entre resultados de análise e propostas ou recomendações que neles se possam basear.
Sempre que no seu trabalho os sociólogos se deparem com situações que requeiram compromissos de confidencialidade ou anonimato, a produção e divulgação de análises científicas que de algum modo se lhes reportem devem situar-se no plano teórico ou metodológico e Ter um nível de abstracção que garante o respeito por aqueles compromissos.
Os sociólogos têm a obrigação de integrar, no desenvolvimento da sua actividade profissional, a avaliação dos possíveis efeitos das suas análises, propostas e acções técnicas. Porém, uma vez concluídos estudos ou intervenções, não podem ser responsabilizados por posteriores utilizações desses trabalhos que deturpem o sentido das suas conclusões. Devem, em todo o caso, procurar evitar que entidades contratantes ou outra os utilizem de forma inadequada ou distorcida.
Os sociólogos têm a obrigação de referir, nos documentos que elaborem, as entidades que financiaram ou apoiaram os estudos e pesquisas neles apresentados.

D. Ensino e Orientação
No ensino e orientação, os sociólogos devem Ter em conta a natureza específica da prática docente e as competências requeridas para o seu exercício.
No exercício da prática docente, é dever dos sociólogos apresentar aos alunos a pluralidade paradigmática que é própria da sociologia e a diversidade de papéis profissionais em que ela se desdobra, bem como sensibilizá-los para as implicações deontológicas da prática sociológica.
Os sociólogos que exerçam actividades de ensino e orientação não devem usar o seu estatuto para coagir alunos e orientandos com o fim de obter vantagens profissionais ou pessoais.
Nos trabalhos que apresentem, os sociólogos que exerçam actividades de ensino e orientação têm a obrigação de reconhecer explicitamente as eventuais contribuições de alunos e orientandos, e não devem apresentar como seus trabalhos por eles realizados.

E. Autoria e Publicações
Nas publicações e relatórios, os sociólogos devem explicitar, de modo adequado, todos os autores que os produziram. Devem ainda mencionar as eventuais contribuições relevantes para a realização dos trabalhos a que essas publicações e relatórios digam respeito.
A utilização em publicações, relatórios ou comunicações de partes de textos e de dados de outros documentos ou outras fontes deve ser objecto de referênciação explícita e de acordo com normas habituais de citação bibliográfica. É também obrigação dos sociólogos que utilizem no seu trabalho instrumentos específicos de pesquisa ou intervenção produzidos por outrém (tais como questionários, guiões, tipologias, dispositivos de intervenção técnica ou outros) referenciar devidamente a respectiva autoria.
Na elaboração de recensões bibliográficas, na avaliação de artigos com fins editoriais ou noutras actividades relacionadas com a publicação de trabalhos sociológicos, é obrigação dos sociólogos respeitar a pluralidade de orientações teóricas e metodológicas. Não devem permitir que preferências próprias se convertam em formas de exclusão, mas favorecer o debate e a crítica científicas. Devem abster-se de transpor, para actividades de recensão bibliográfica ou avaliação editorial, eventuais diferendos pessoais.
Os sociólogos devem sempre responsabilizar-se pela autoria dos documentos que produzam, não prescindindo dos direitos intelectuais correpondentes à elaboração de publicações ou relatórios, sejam quais forem os acordos estabelecidos com outras entidades a respeito dos respectivos direitos económicos.

F. Relações entre Colegas
Os sociólogos têm obrigação de manter uma atitude de exame crítico da sua própria actividade profissional e da dos outros sociólogos, nos planos científico, técnico e deontológico.
É dever dos sociólogos respeitar a dignidade pessoal e profissional dos outros sociólogos. Devem, nomeadamente, respeitar a prática sociológica exercida segundo os diversos paradigmas científicos, procedimentos metodológicos e papéis profissionais constitutivos da sociologia, sem descriminar ou denegrir colegas de profissão com base nessa diversidade, em conflitos de interesses ou em questões de natureza pessoal. Estes princípios de respeito, pluralidade e isenção aplicam-se com particular acuidade ao exercício de actividades de avaliação pedagógica, científica e profissional de outros sociólogos.
Sempre que o exercício da actividade profissional envolva equipas de que façam parte vários sociólogos, sejam essas equipas constituídas expressamente para determinados projectos ou estejam elas inseridas em contextos organizacionais mais permanentes, os termos do relacionamento profissional entre sociólogos devem estar de acordo com os princípios enunciados neste código deontológico. As responsabilidades sociais e as obrigações deontológicas nele previstas estendem-se a todos os sociólogos componentes da equipa.
Perante situações contratuais em que possam vir a substituir outros colegas, os sociólogos devem informar-se sobre as circunstâncias que conduziram a essa substituição, e não devem assumi-la se a razão que lhe esteve na base tiver sido a recusa, por parte dos colegas substituídos, em violar o código deontológico.
Os sociólogos devem conservar os instrumentos de pesquisa utilizados e os registos da informação recolhida, disponibilizando-os para a consulta por parte de colegas num prazo que seja compatível com os seus próprios interesses e obrigações profissionais, excepto quando os materiais em questão estiverem sujeitos a compromissos de confidencialidade ou anonimato.

G. Conselho de Deontologia
Conselho de Deontologia tem como incumbências gerais a sensibilização, o esclarecimento, o aconselhamento, a arbitragem, a acumulação de exemplos e o aprofundamento das interpretações perante problemas deontológicos que lhe sejam colocados.
Cabe ao Conselho de Deontologia, em particular, pronunciar-se sobre:
dúvidas apresentadas por sociólogos acerca da aplicação do código deontológico a situações concretas;
reclamações, de profissionais de sociologia ou de outras entidades, acerca de eventuais incorrecções deontológicas na prática profissional de sociólogos.
in Associação Portuguesa de Sociologia

16 outubro 2008

A Pobreza no mundo

Caríssimos a nossa voz, associa-se ao movimento BLOG ACTION DAY 2008, este é um evento anual sem fins lucrativos que visa unir os blogueres de todo o mundo, e videocasters Podcasters, com uma postagem sobre o mesmo tema num mesmo dia. O objectivo é sensibilizar e desencadear uma discussão global. pela primeira vez numa iniciativa que é louvável e que se espera resulte, nos objectivos propostos. Trazer visibilidade e divulgar o quanto este mundo está mal. As assimetrias entre ricos e pobres, são gritantes!
Mistério de como a Riqueza,causa pobreza no mundo
"Para um quinto da população mundial, 1 dólar é uma bagatela sem significado que se dá em troco de uma xícara de café. Para outro quinto da população mundial, 1 dólar é muito menos do que dispõem por dia para viver e onde as suas crianças morrem porque não têm uma rede mosquiteira a protegê-los. Para resolver este problema e outros problemas relacionados, é necessário o comprometimento dos governos mas também uma opinião pública que não pode mais deixar que os seus líderes calem as suas consciências com doações patéticas comparadas com os que gastam em dispositivos bélicos. Enquanto todos juntos e em uníssono não dissermos: “BASTA!!!”... estes números que enjoam e enojam vão continuar a aumentar."

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Pobreza e exclusão social no ambito da realidade portuguesa



14 outubro 2008

NOS ESCOMBROS DA CIDADE

Nos escombros da cidade
Mora miséria e delinquência,
Ofusca-se na realidade
Os limites da decência!

Nos escombros da cidade
Há seringas, lixo e dejectos,
Há jovens longe da verdade
Perdidos e sem afectos!

Nos escombros da cidade
Também há sonhos escondidos,
Desejos emoldurados
Pelas ressacas e delírios!

Nos escombros da cidade
Mora a vida que se definha,
Entre a força da vontade
E o vicio que assassina!


Ana Martins

Escrito a 13 de Outubro de 2008

12 outubro 2008

A crise financeira global tem uma causa social:os baixos salários mundiais


por: Emiliano Brancaccio entrevistado por Waldemar Bolze
O sr. sustenta que a crise financeira não é um fenómeno puramente técnico, mas tem uma causa social. Por que?

O ponto de partida é a fraqueza do movimento trabalhista, a qual tornou possível um mundo de salários baixos. Contudo, este muto é estruturalmente instável, o que estamos agora principiando a experimentar.
Hoje todos os países tentam manter o nível de salário baixo, diminuindo portanto a procura interna, e têm de encontrar mercados externos para os seus próprios produtos. Este mecanismo funcionou durante os últimos dez anos porque os Estados Unidos funcionaram como um "aspirador" para os produtos excedentes de outros países. E não porque os salários dos trabalhadores fossem demasiado altos e sim porque foi acumulada uma enorme dívida privada nos EUA. O sistema levou a trabalhadores a pagarem suas dívidas hipotecárias com novos empréstimos e a pagarem os juros dos empréstimos com novos cartões de crédito.

Poderia uma estrutura de crédito realmente tão frágil manter-se?

Isto não era senão um bomba relógio, a qual explodiu agora.
As consequências são mais uma vez passadas aos trabalhadores e empregados, ao passo que os executivos da Wall Street, que fabricaram estes explosivos, podem até mesmo lucrar com isto. Tome, por exemplo, o plano Paulson. Ele estipula que o governo vai comprar os activos arriscados dos bancos de investimento e em troca colocar dinheiro fresco à sua disposição, deixando a possibilidade de que os bancos, uma vez passada a tempestade, possam recuperar os seus títulos. Se o governo pagar preços bastante altos, os banqueiros podem finalmente embolsar um lindo lucro a expensas do orçamento do Estado.

Qual o impacto óbvio que terá esta crise?

- Dependerá muito da sua duração e profundidade. Por enquanto, o establishment está a seguir uma estratégia que Giuseppe Tomasi di Lampedusa descreveu no seu livro O Leopardo: "Se quisermos que tudo permaneça na mesma, temos de mudar alguma coisa". O plano Paulson é um exemplo desta estratégia, porque consiste numa permuta de cash por dívidas, concebida para intervir o menos possível em termos de propriedade e de controle do capital bancário. O mesmo se aplica às vendas de acções preferenciais ao governo porque este restringe o direito de voto nas assembleias de accionistas.

Será que a ideologia do neoliberalismo fracassou e que os dias do capitalismo estão contados?

-A ideia é divertida, mas seria ingénuo assumir um fim iminente do capitalismo. Não posso ver como tal coisa possa materializar-se. O grande ausente neste colossal estado de emergência é precisamente o movimento trabalhista. Ao invés disso, vejo a possibilidade de uma mudança no poder relativo dos lobbies das finanças para grupos de pressão política e também de lobbies ocidentais e americanos para outros asiáticos.

Podemos então falar do declínio do império americano?

-Apesar da aparência e de todas as altas temporárias e dos acontecimentos a curto prazo, o declínio americano tem-se verificado de há pelo menos um quarto de século. Um sintoma deste declínio é o comportamento a longo prazo do dólar, cujo preço – convertido à divisa de hoje – em 20 anos caiu de 1,50 euro para cerca de 70 centavos de euro. Este declínio assegura desconfiança em relação ao dólar e provavelmente impedirá os EUA de desempenharem novamente o papel de "aspirador" para os produtos excedentes de outros países. Uma vez que não há um poder hegemónico internacional alternativo, há um perigo de que o sistema monetário internacional venha a encontrar-se num beco sem saída. Neste caso, o desenvolvimento desta crise poderia ganhar características realmente negras e imprevisíveis.


A entrevista original em alemão foi publicada em junge Welt , de 09/Outubro/2008. Emiliano Brancaccio, é Professor de economia do trabalho na Universidade de Sannio, membro da Rifondazione Comunista, e conselheiro da maior federação italiana de sindicatos metalúrgicos, a FIOM-CGIL.

11 outubro 2008

ESCANDALO NA EDP

OBS: Caríssimos, aqui está mais uma informação para os que aínda não sabem.Recebi esta informação por e-mail, de leitor identificado e passo a divulgar.A ser mentira, e porque aqui na Voz do Povo, está salvaguardado o direito ao contraditório, será publicado da mesma forma.


SERÁ MESMO VERDADE????


CUSTA A ACREDITAR...


ALGUÉM PODE CONFIRMAR?????


ANA FERNANDES cid:80E66013-2EEB-4681-B9C2-92ABC3A4B198 ...


A NOVA CEO da EDPRenováveis...que só vai dar dividendos em 2020!!!


SALÁRIO MILIONÁRIO: Com uma remuneração anual fixa de 384 mil euros para 2008, à qualacresce uma contribuição para o plano de pensão e ainda um prémio anuale um prémio plurianual para períodos de três anos, cada um dos quais atéuma verba máxima de 100% do salário base.Ou seja, se todos os seus objectivos de desempenho forem cumpridos, AnaMaria Fernandes receberá mais de 1,1 milhão de euros no seu primeiro anocomo presidente de EDP Renováveis após a entrada da empresa na bolsa. Osvalores mencionados constam do contracto de admissão.


NOTA: São quase 2.000 salários mínimos ou seja cerca o trabalho de 143anos pelo salário mínimo. Como é possível? É pior do que no Futebol.Assim a EDP obriga os clientes a pagar os erros da sua gestão, como nas dívidas incobráveis que quer exigir aos pagadores honestos.

10 outubro 2008

A "inútil" ESCREVEU A MIGUEL SOUSA TAVARES...


Há tantos inúteis neste país e só se fala dos professores… Então e os outros. Querem que enumere? É fácil!!!! A “inútil” escreveu assim a Miguel de Sousa Tavares sobre os Professores:

É do conhecimento público que o senhor Miguel de Sousa Tavares considerou “os professores os inúteis mais bem pagos deste país.” Espantar-me-ia uma afirmação tão generalista e imoral, não conhecesse já outras afirmações que não diferem muito desta, quer na forma, quer na índole. Não lhe parece que há iúteis, que fazem coisas inúteis e escrevem coisas inúteis, que são pagos a peso de ouro? Não lhe parece que deveria ter dirigido as suas aberrações a gente que, neste deprimente país, tem mais do que uma sinecura e assim enche os bolsos? Não será esse o seu caso? O que escreveu é um atentado à cultura portuguesa, à educação e aos seus intervenientes, alunos e professores. Alunos e professores de ontem e de hoje, porque eu já fui aluna, logo de “inúteis“, como o senhor também terá sido. Ou pensa hoje de forma diferente para estar de acordo com o sistema?

O senhor tem filhos? - a minha ignorância a este respeito deve-se ao facto de não ser muito dada a ler revistas cor-de-rosa. Se os tem, e se estudam, teve, por acaso, a frontalidade de encarar os seus professores e dizer-lhes que “são os inúteis mais bem pagos do país?” Não me parece… Estudam os seus filhos em escolas públicas ou privadas? É que a coisa muda de figura! Há escolas privadas onde se pagam substancialmente as notas dos alunos, que os professores “inúteis’”são obrigados a atribuir. A alarvidade que escreveu, além de ser insultuosa, revela muita ignorância em relação à educação e ao ensino. E, quem é ignorante, não deve julgar sem conhecimento de causa. Sei que é escritor, porém nunca li qualquer livro seu, por isso não emito julgamentos sobre aquilo que desconheço. Entende ou quer que a professora “explique” de novo?

Sou professora de Português com imenso prazer. Oxalá nunca nenhuma das suas obras venha a integrar os programas da disciplina, pois acredito que nenhum dos “inúteis” a que se referiu a leccionasse com prazer. Com prazer e paixão tenho leccionado, ao longo dos meus vinte e sete anos de serviço, a obra de sua mãe, Sophia de Mello Breyner Andersen, que reverencio. O senhor é a prova inequívoca que nem sempre uma sã e bela árvore dá são e belo fruto. Tenho dificuldade em interiorizar que tenha sido ela quem o ensinou a escrever. A sua ilustre mãe era uma humanista convicta. Que pena não ter interiorizado essa lição! A lição do humanismo que não julga sem provas! Já visitou, por acaso, alguma escola pública? Já se deu ao trabalho de ler, com atenção, o documento sobre a avaliação dos professores? Não, claro que não. É mais cómodo fazer afirmações bombásticas, que agitem, no mau sentido, a opinião pública, para assim se auto-publicitar.

Sei que, num jornal desportivo, escreve, de vez em quando, umas crónicas e que defende muito bem o seu clube. Alguma vez lhe ocorreu, quando o seu clube perde, com clubes da terceira divisão, escrever que ‘os jogadores de futebol são os “inúteis mais bem pagos do país?” Alguma vez lhe ocorreu escrever que há dirigentes desportivos que “são os inúteis” mais protegidos do país? Presumo que não, e não tenho qualquer dúvida de que deve entender mais de futebol do que de Educação. Alguma vez lhe ocorreu escrever que os advogados “são os inúteis mais bem pagos do país?” Ou os políticos? Não, acredito que não, embora também não tenha dúvidas de que deve estar mais familiarizado com essas áreas. Não tenho nada contra os jogadores de futebol, nada contra os dirigentes desportivos, nada contra os advogados. Porque não são eles que me impedem de exercer, com dignidade, a minha profissão. Tenho sim contra os políticos arrogantes, prepotentes, desumanos e inúteis, que querem fazer da educação o caixote do (falso) sucesso para posterior envio para a Europa e para o mundo. Tenho contra pseudo-jornalistas, como o senhor, que são, juntamente com os políticos, “os inúteis mais bem pagos do país”, que se arvoram em salvadores da pátria, quando o que lhes interessa é o seu próprio umbigo.

Assim sendo, sr. Miguel de Sousa Tavares, informe-se, que a informaçãozinha é bem necessária antes de “escrevinhar” alarvices sobre quem dá a este país, além de grandes lições nas aulas, a alunos que são a razão de ser do professor, lições de democracia ao país. Mas o senhor não entende! Para si, democracia deve ser estar do lado de quem convém.

Por isso, não posso deixar de lhe transmitir uma mensagem com que termina um texto da sua sábia mãe: “Perdoai-lhes, Senhor Porque eles sabem o que fazem.”

Ana Maria Gomes
Escola Secundária de Barcelos

Esta, foi a forma que eu encontrei de homenagear todos os professores, pois sei que os há também maus, como em tudo na vida, mas uma classe não pode ser enxovalhada desta forma pela classe política, sendo a mesma de importante missão para o desenvolver de um povo.

A LUTA CONTINUA, COMPANHEIROS PROFESSORES, EU ESTOU CONVOSCO!!!

Texto publicado também no "Beezzblog" e no "Democracia em Portugal"

O Contraditório (actualizado em 12/10/2008)
Afinal, Parece que Srª Doutora se enganou, e um dos comentários se insurgiu contra o que aqui está escrito, e porque vivemos em democracia, publico aqui a dita "mea-culpa" da referida Professora

Porque me foi solicitado que publicasse…
No dia 20 de Março de 2008 foi publicada neste blogue uma carta minha intitulada "Sobre os professores - a Miguel Sousa Tavares". Em relação a essa carta, sinto-me no dever de fazer um esclarecimento.
Referi que: "É do conhecimento público que o Sr. Miguel Sousa Tavares considerou os professores "os inúteis mais bem pagos deste país". Quando escrevi "É do conhecimento público (…)", fundamentei-me naquilo que ouvi vários colegas dizerem, e não apenas da minha escola, e ainda naquilo que li na Internet, nomeadamente no blogue www.ramiromarques.blogspot.com, do qual imprimi um texto que tenho em minha posse.
Vivo num país democrático e julgo ter o direito de manifestar a minha opinião sobre aquilo que considero, ou não, correcto. Esse direito tenho-o.
Já o direito de tornar públicas declarações que pudessem ter sido proferidas ou escritas pelo próprio, sem que eu própria as tivesse ouvido ou lido, esse direito não o tenho. Efectivamente, não ouvi o comentador Miguel Sousa Tavares proferir sobre os professores a frase "os inúteis mais bem pagos deste país", nem li a mesma frase escrita pelo jornalista Miguel Sousa Tavares - e que o próprio desmente terminantemente alguma vez ter dito, escrito ou sequer insinuado.
Admito que cometi dois erros. O primeiro foi ter-me fundamentado no que me transmitiram e no que li na Internet. Como pessoa de boa fé que sou, acreditei que tal fosse verdade, tanto mais que, por esses dias, alguns jornalistas escreveram sobre os professores comentários nada abonatórios, que me indignaram. O segundo foi ter dado importância ao que ouvi e li. Considero-me uma pessoa útil à sociedade no exercício da minha profissão.
Exerço-a por vocação e com paixão. E, "Quem não deve não teme", por isso nem sequer me devia ter indignado. Mas as emoções, em determinadas circunstâncias, são difíceis de controlar." Errare humanum est."
Reconheço, pois, que me precipitei, que errei, e, como cidadã responsável de um país democrático, tenho também deveres, por isso, esclarecida que está a situação, quero retractar-me e pedir desculpa a Miguel Sousa Tavares. Assim, retiro tudo o que disse na minha primeira carta, e que o possa ter lesado na honra e bom nome.

Ana Maria Gomes
Escola Secundária de Barcelos

por lm, 2008.10.05 18:34:24
http://smartforum.educare.pt/index.php?id=69009

08 outubro 2008

Magalhães, capa para fraude

Transcrição de artigo do semanário SOL com Nota final.

Empresa que produz Magalhães acusada de fraude em ‘Esquema Carrossel’

A JP Sá Couto, empresa responsável pela produção dos computadores Magalhães, é arguida num processo de fraude e fuga ao IVA, que terá lesado o Estado em mais de cinco milhões de euros, noticia a RR

Um dos administradores, João Paulo Sá Couto, é, juntamente com a empresa, acusado da prática dos crimes de associação criminosa e de fraude fiscal, segundo a Rádio Renascença.

O processo avançará para julgamento devido aos arguidos não terem conseguido provas que pusessem em causa os factos apresentados pelo Ministério Público, durante a fase de instrução.

De acordo com a RR, a empresa que produz o portátil Magalhães e um dos seus administradores fazem parte de uma lista de 41 arguidos acusados de pertencer a um esquema no ramo da informática, conhecido como ‘fraude Carrossel’.

O esquema consistia em fazer transmissões sucessivas em círculo dos mesmos bens, entre diversos operadores sedeados em mais do que um estado da União Europeia, escapando assim ao pagamento do IVA que deviam.

De acordo com a acusação, a empresa JP Sá Couto assumiu por sua iniciativa, entre 1998 e 2001, a posição de elo final no ‘circuito carrossel’, alcançando com este estratagema um lucro de quatro por cento sobre a mercadoria facturada.

A acusação é rejeitada pelos arguidos que alegam que o processo está construído com base em especulações e não em factos.

O Estado, além da acção penal, interpôs uma acção civil na qual pede uma indemnização de mais de cinco milhões de euros pelos danos decorridos do crime que equivalem ao enriquecimento ilícito, consequência da lesão do Estado.

NOTA: Até parece que a empresa, ao propor ao Governo o negócio de um computador da Intel, já em uso há anos em vários países do terceiro mundo, a que agora foi dado o nome de Magalhães e apelidado de «tecnologia portuguesa», quis obter cobertura para o seu problema com a Justiça com o beneplácito do Poder, atendendo ao «interesse do Estado» em que a empresa não perca capacidade para cumprir o contrato em cuja ratoeira o Governo caiu ingenuamente. Sócrates diz que desconhecia o problema da fraude fiscal. Mas admira que quem a conhecia nada dissesse para evitar o logro em que o Governo caiu. Afinal, para que serve o Evereste de assessores que povoam os gabinetes? Ou teriam sido eles a exercer influências a favor da empresa?
A máquina administrativa, a todos os níveis, precisa de uma perfeita reorganização precedida da avaliação da burocracia, tão inútil como perniciosa, e das tarefas que têm sido efectuadas por cada assessor. Basta de usar a máquina do Estado para abrigo de desempregados sem capacidade, e a troco de salários de luxo.

PUDERA EU SER


Pudera eu ser mar, poderoso e forte
Que nada teme, na sua vastidão imensa!
Pudera eu ser pedra que não ri nem pensa
Pudera eu ser vento, ser o vento norte!

Pudera eu ser trovão, com o seu poderio
Ser luz, ser sol, que ilumina a alma!
Uma alta montanha, um imenso rio
Trazer no seu leito, o amor, a calma…

Pudera eu ser mundo, enorme, imenso…
Tufão, poderoso, que arrasa, intenso!
Ser água que lava, o ódio, a miséria…

Ser fogo que aquece, a alma, o coração
Ser luz que ilumina, o amor, a paixão
Ser por fim…juiz, com justiça…séria!

Mário Margaride

QUE ONDA DE VIOLÊNCIA É ESTA!!!

Que onda de violência é esta
Que se passeia com ironia,
Na minha gente, no meu povo
Que outrora tinha alegria!

Que onda de violência é esta
Que na placidez da noite,
À luz da demagogia,
Muda e indiferente
Age com acordes
De malvadez e cobardia!

E onde está a mão da Justiça
Que cozinhada em lume brando,
Dorme na sombra e com preguiça
Promove a violência,
Mas por engano!
E como errar é humano,
Continuemos assim errados,
Quem sabe amanhã talvez
Os honestos sejam culpados!!!

Ana Martins

Escrito a 7 de Outubro de 2008

06 outubro 2008

Pedroso, desiste de 49 crimes, contra blogger

O deputado do Partido Socialista, Paulo Pedroso, desistiu na passada Sexta -Feira 03 de Outubro, de uma queixa apresentada contra o autor do blogue Do Portugal Profundo, que estava a ser julgada no Tribunal da Boa Hora, em Lisboa.
António Caldeira, responsável pelo conteúdo do blogue, estava sentado no banco dos réus acusado de 49 crimes por difamação. Pedroso queria ainda uma indemnização cível no valor de 150 mil euros. Mas, na oitava sessão do julgamento, o deputado socialista desistiu da queixa.

Na base da queixa apresentada por Paulo Pedroso estavam textos divulgados no blogue, no ano de 2004, relativos ao processo da Casa Pia. O deputado terá tentado que o arguido pedisse desculpa, mas segundo apurou o Portugal Diário isso não aconteceu.

José Maria Martins, advogado de António caldeira, confirmou ao Portugal Diário a desistência do processo.

Pedroso pagou os 2500 euros ao bloguer

O deputado do PS terá também pago a António Caldeira, esta sexta-feira, a indemnização de 2500 euros a que foi condenado, numa primeira instância e que, após recurso, viu o tribunal da Relação de Lisboa confirmar.

in: Diário IOL .pt

05 outubro 2008

TODA A GENTE SABE...

O vídeo que se segue, é retirado do “Democracia em Portugal“, onde também orgulhosamente faço parte do painel de autores e por ser tão actual, e sempre na divulgação aos mais incautos, sugiro que vejam mesmo até ao final, e se quiseres leva-o contigo.


02 outubro 2008

Segredos da leucemia

Nós, portugueses, padecemos de muito pessimismo e falta de auto estima, pelo que se deve aproveitar todo o motivo de satisfação para levantar o moral dos descrentes nas possibilidades lusitanas.

Felizmente, têm surgido muitas notícias que evidenciam que os melhores portugueses em nada são inferiores aos estrangeiros. Há que publicitar os casos positivos para alimentar o orgulho nacional, como aqui tem sido feito em vários posts.

Hoje, a notícia «Portugueses descobrem segredos da leucemia» é motivo para festejar. Segundo ela, a proteína PTEN actua como supressora de tumores, sendo uma espécie de guarda costas, ou de bombeiro, do organismo. Mas quando o nível de outra proteína, a CK2, aumenta, a PTEN fica inactiva deixando o organismo indefeso, à mercê de qualquer célula maligna. Uma equipa de investigadores do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa, liderada por João Taborda Barata, descobriu este fenómeno e concluiu pela necessidade do desenvolvimento de um inibidor da CK2, que evite o aumento do seu nível, o que pode curar a leucemia.

Actualmente, o tratamento já tem uma eficácia de 80% nas crianças. Quem desejar saber mais siga o link atrás indicado e não deixe de ler a revista Journal of Clinical Investigation, de Novembro onde este estudo virá publicado.

01 outubro 2008

A TRISTE HISTÓRIA DO CAPILTALISMO...


Escrito por Miguel Urbano Rodrigues, este texto, para os mais incautos, reflecte bem o que estamos a viver e o que por aí virá, só nos resta aguardar, e rezar, para que a fome não seja uma certeza. Vale a pena ler com atenção.



Miguel Urbano Rodrigues - 01.10.08

A rejeição pela Câmara dos Representantes dos EUA do plano de salvamento do sistema financeiro proposto pelo governo Bush, aos candidatos à Presidência e às lideranças do Congresso ampliou muito a gravidade da crise do capitalismo. O afundamento das bolsas europeias e asiáticas acompanhando o pânico de Wall Street (o Dow Jones, num recorde histórico, caiu 6,98 %) conferiu à crise estadounidense proporções mundiais.

A um apelo desesperado da elite do poder politico os deputados da União responderam com um voto também de desespero. A recusa não foi determinada por respeito ao povo, nem sequer pelas vítimas do caos implantado no sistema bancário. Os motivos do Não dos legisladores são tão pouco éticos como os dos senhores que lhes imploravam a aprovação de 700 mil milhões de dólares destinados sobretudo a comprar à banca créditos podres, as famosas hipotecas dos subprimes.

Em vésperas de eleições para renovação dos seus mandatos, a maioria dos representantes – sobretudo os republicanos –, teme ser punida nas urnas se aprovar um plano que oferece o dinheiro dos contribuintes aos bancos responsáveis pelo desastre e ignora a situação angustiosa de 10 milhões de compatriotas em risco de perder as suas casas.


Do outro lado, Bush, Obama, McCain, Bernanke, Paulson, Pelosi e as estrelas da finança recorrem a uma retórica farisaica no seu esforço para evitar um estouro do sistema bancário que ameaçaria a sobrevivência do sistema capitalista.

O grupo elaborará agora, com urgência urgentíssima, uma nova proposta e vai renegociar a sua aprovação com a Câmara dos Representantes (no Senado tudo será mais fácil). As mudanças no texto serão, tudo o indica, cosméticas, porque o SIM dependerá de promessas e favores que não serão tornados públicos.


O medo que alastra em Washington e nos meios políticos e financeiros europeus justifica-se. A crise avança como um iceberg à deriva no qual a parte submersa, a principal, não é visível. A cadeia de falências adquiriu um ritmo assustador. Na segunda-feira, a do Wachavia, o quarto banco dos EUA, foi evitada através da compra parcial desse gigante (com uma carteira de empréstimos no valor de 312 mil milhões) pelo Citigroup.


Segundo a Agência Reuters, a Reserva Federal-FED está a emprestar à banca diariamente dezenas de milhares de milhões de dólares em decisão perigosa que coloca em risco o seu próprio futuro.


Na Europa, uma operação de socorro montada pela Holanda, Bélgica e Luxemburgo, salvou o Fortis. No Reino Unido, o Estado nacionalizou o Bradford & Bingley. O terramoto bancário até na Islândia se fez sentir (nacionalização do Glitnir).

Autoridades financeiras francesas e alemãs afirmaram no início de Setembro que a crise afectaria pouco a união Europeia porque a banca europeia estava mais protegida do que a dos EUA. Ingenuidade ou bazófia?
Nos últimos dias os governos do Reino Unido, da França, da Alemanha, da Bélgica, da Holanda, da Dinamarca, da Islândia, do Luxemburgo tiveram de intervir em operações de salvamento que custarão mais de 70 mil milhões de euros. O Banco Central Europeu injectou mais 120 mil milhões de euros no sistema bancário para aumentar a liquidez.

Como era de esperar, os grandes media internacionais, desde a CNN à BBC, passando pelo The New York Times ao Frankfurt Algemeine, apresentam visões distorcidas da crise. Privilegiam pormenores acessórios, forjam cenários e interpretações fantasistas e sobretudo subestimam ou ocultam as suas causas e consequências eventuais.

É muito generalizada, por exemplo, a omissão de referências ao mecanismo de obtenção dos 700.000 milhões de dólares do Plano Paulson se ele, em segunda versão, for, finalmente, aprovado. É um facto que o contribuinte norte-americano será duramente penalizado porque a divida pública e a dívida externa da nação sofrerão um brutal aumento. Mas não se informa, com raríssimas excepções, que a maioria desse dinheiro será obtido no Estrangeiro, porque serão sobretudo os bancos centrais europeus, asiáticos e latino-americanos os compradores das Obrigações do Tesouro dos EUA a emitir. Até a China entrará no leilão. Cabe aliás recordar que se o grande país asiático decidisse nestes dias trocar por outras divisas as suas colossais reservas de dólares e cobrar os títulos do Tesouro americano que acumulou os EUA cairiam imediatamente na banca rota. Não o fará porque o seu próprio modelo de desenvolvimento também, então, naufragaria, mas a dependência norte-americana de Pequim é esclarecedora da extrema fragilidade do sistema financeiro montado pela potência hegemónica.

Outra conclusão – a mais importante de todas – que a elite da finança se abstêm de extrair da crise é de natureza ideológica.


Não pode reconhecer publicamente que o caos implantado no sistema financeiro mundial demonstra a falência das teses que os governos dos EUA e da União Europeia vêm proclamando com arrogância sobre a capacidade do neoliberalismo, fase superior do capitalismo, se impor como a ideologia definitiva, a única capaz de resolver os grandes problemas da humanidade. Segundo ela, a dimensão do Estado tenderia a ser progressivamente diminuída, reduzindo-se ao mínimo a sua intervenção na economia. Somente um mercado plenamente autónomo, livre de pressões estatais, intocável, poderia cumprir a sua missão insubstituível.

A História, mais cedo do que se admitia, começou a dar uma resposta totalmente negativa ao sonho dos sacerdotes do capital.

O pânico nas bolsas que acompanha a falência de gigantes bancários envolvidos em especulações, fraudes e escândalos iluminou desmentiu e ridicularizou a religião do mercado. Agora a finança implora ao Estado que lhe acuda para salvar a banca e os banqueiros.

Sem a ajuda do Estado, o mercado afundar-se-ia.

Em Portugal, Sócrates e os seus auxiliares e epígonos mergulharam num silêncio compreensível. Quase não falam da crise. Entusiastas das privatizações e praticantes do culto do mercado, a crise do sistema deixa-os mudos e nus perante o povo português.


Festejaram a privatização da banca portuguesa e as fusões a ela posteriores. Desejariam leva-la ainda mais longe. Muitos desses senhores chegaram ao extremo de sugerir a privatização da Caixa Geral de Depósitos. Acredito que nunca meditaram seriamente sobre as consequências num panorama de crise do mercado para centenas de milhares de pensionistas da eventual entrega ao grande capital do maior banco português.

No momento em que escrevo, a banca e as bolsas dos EUA e da União Europeia aguardam nervosamente o plano de socorro recauchutado que a Casa Branca vai submeter ao Congresso.

Mas, qualquer que seja o seu conteúdo, a crise prosseguirá, com tendência para situações potencialmente explosivas. A decisão de injectar centenas de milhares de milhões no mercado (em beneficio exclusivo dos responsáveis pelo desastre) não atingirá o objectivo de curar o paciente. Porque a crise do sistema financeiro é inseparável de outra maior, a crise estrutural do capitalismo.

Grandes sofrimentos são identificáveis no horizonte para as vítimas da engrenagem da finança.

Nestes dias o futuro próximo é imprevisível. Mas para quantos pelo mundo fora rejeitam o capitalismo e o combatem por desumano, a única alternativa – embora distante ainda – é o socialismo, rumo a uma sociedade humanizada incompatível com a exploração do homem.


Serpa, 30 de Setembro de 2008

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Atribuído Pela nossa querida amiga e colaboradora deste espaço, a Marcela Isabel Silveira. Em meu nome, e dos nossos colaboradores, OBRIGADO.

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