Nunca é demais relembrar a história, sobretudo porque até à bem pouco tempo era desconhecida pelos trabalhadores, para os quais a data apenas assinalava mais um feriado no calendário. Vale a pena relembrar que, para nós hoje termos melhores condições sociais, outros perderam a vida lutando por esses direitos. Pela memória dos nossos antepassados, e para que a mesma não se apague nas gerações futuras de forma a que os trabalhadores de todo o mundo, estejam atentos ao crescente capitalismo desenfreado e globalizado, que neste momento arrasta para o desemprego, a miséria, a escravidão milhões de seres humanos. Para o capitalismo cego, sem nacionalidade, sem escrúpulos e manipulador que com objectivos de controlo de massas pretende engrossar as fileiras de desempregados e prosseguir com as políticas de exploração do homem pelo homem... relembremos um pouco a história!
texto publicado em Mundo Português em 02 de Maio de 2008
A história conta-nos que a 1 de Maio de 1886, em Chicago, nos Estados Unidos da América, quinhentos mil trabalhadores saíram às ruas numa manifestação pacífica para exigir um limite de oito horas por dia de trabalho. A polícia reprimiu e dispersou a manifestação, mas não sem antes ferir e matar dezenas de trabalhadores. A luta não parou por aí e, quatro dias depois, os operários saíram novamente à rua. Destes protestos resultaram, segundo dados da época, 8 líderes presos, 4 trabalhadores executados, 3 condenados a prisão perpétua. E um exemplo para todo o mundo...
É costume ouvir dizer-se, em política, que as conquistas sociais têm sempre um preço a pagar.No final do século XVIII e ao longo do século XIX, os baixos salários e as jornadas de trabalho que se estendiam até às 17 horas diárias eram comuns nas indústrias da Europa e dos Estados Unidos da América. Férias, descanso semanal e aposentação não existiam. Para se prote-gerem em situações mais difíceis, os trabalhadores inventaram vários tipos de or-ganização, como as caixas de auxílio mútuo, precursoras dos primeiros sindicatos.
No final do século XIX, o auge da Re-volução Industrial sujeitava os trabalhado-res a condições desumanas de laboração, obrigando-os a produzir o máximo ao mais baixo custo. O trabalho não respeitava a idade ou o género, e as organizações sin-dicais eram perseguidas pelas autoridades policiais, tornado-se incipientes.
Sem esquecer as lutas de outros trabalhadores, noutros países e noutras épo-cas, a ‘conquista' do dia 1 de Maio para ‘Dia do Trabalhador' deve ser atribuída aos trabalhadores de Chicago. Mais precisamente àqueles que se manifestaram nas ruas daquela cidade do Estado norte-americano do Illinois, no dia 1 de Maio do ano de 1886.
Um dia para a História
Nesse dia, 500 mil trabalhadores marcharam pacificamente por uma jornada de trabalho com oito horas diárias e foram re-primidos pela polícia. Quatro dias mais tarde, os trabalhadores voltaram a marchar e foram novamente travados pela polícia. Como resultado dos confrontos, alguns operários morreram e alguns líde-res foram presos.
Os jornais da época fizeram as seguin-tes manchetes: "a prisão e os trabalhos forçados são a única solução adequada para a questão social", escreveu o ‘Chicago Tribune'; "estes brutos só compreendem a força, uma força que possam recordar por várias gerações", escreveu o New York Tribune.
Ora, mesmo assim a luta não parou. Quando três dos manifestantes presos fo-ram a julgamento, a comunidade internacional pressionou o Governo dos Estados Unidos da América a substituir o júri. Os membros que acabaram por formar o júri definitivo reconheceram a inocência dos trabalhadores, ordenaram a sua libertação e culparam o Estado norte-americano. Es-távamos em 1888.
Os presos que não beneficiaram desta atenção mundial ficaram conhecidos como os "Mártires de Chicago". Mártires será, provavelmente, o termo mais adequado. A verdade é que, em 1889, a Segunda Internacional Socialista decidiu, num congresso realizado em Paris, proclamar o dia 1 de Maio como o Dia do Trabalhador, em memória desses "mártires". Em 1890, o Congresso norte-americano votou a lei que estabeleceu a jornada de oito horas de trabalho.
Um exemplo para o mundo
Um ano mais tarde, no norte de Fran-ça, uma manifestação realizada a 1 de Maio foi dispersada pela polícia. Dez ma-nifestantes morreram. Este novo drama acabou por servir para reforçar o Dia como um dia de luta dos trabalhadores. Meses mais tarde, a Internacional Socialista de Bruxelas proclamou o dia 1 de Maio como dia internacional de reivindicação de con-dições laborais.
Quase duas décadas depois, a 23 de Abril de 1919, o Senado francês ratificou o dia de 8 horas de trabalho e proclamou o 1 de Maio desse ano como dia feriado. Em 1920, a Rússia também adoptou o 1º de Maio como feriado nacional. Este exem-plo foi, entretanto, seguido por muitos ou-tros países. Curiosamente, nos Estados Unidos da América, o dia do trabalhador (Labour Day) é comemorado na primeira segunda-feira de Setembro.
Em Portugal
O historiador José Mattoso revela que houve um reforço da luta do movimento operário português, no final do século XIX. Entre 1852 e 1910, ter-se-ão realizado cerca de 550 greves em Portugal. A subi-da dos salários, a diminuição da jornada de trabalho e a melhoria das condições eram as principais exigências dos operários.
Durante a Iª República, festejou-se o Dia do Trabalhador. Mas, com a instituição da Ditadura, um dos primeiros diplomas aprovados dizia respeito ao estabelecimento dos feriados nacionais e destes não constava o Dia do Trabalhador. Em 1933 foi decretada a "unicidade sindical" e o "controle governamental dos sindicatos". Durante o Estado Novo, as manifestações no Dia do Trabalho e não do Trabalhador eram organizadas e controladas pelo Estado.
Com o derrubar da ditadura, o primeiro 1 de Maio celebrado em Portugal depois do 25 de Abril foi a maior manifestação alguma vez organizada no país. Só na cidade de Lisboa juntaram-se mais de meio milhão de pessoas. Para muitos, esta foi a forma que encontraram de demonstra-rem a sua adesão à revolução, que uma semana antes restituíra a democracia ao país.