19 julho 2008

A água vai acabar

Carta Escrita no ano 2070
(Texto publicado na revista «Cónicas de los Tiempos», Abril 2002)

Ano 2070.
Acabo de completar 50 anos, mas a minha aparência é de alguém de 85. Tenho sérios problemas renais porque bebo pouca água.
Creio que me resta pouco tempo.
Hoje sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade.
Recordo quando tinha 5 anos.

Tudo era muito diferente.
Havia muitas árvores nos parques. As casas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutar de um banho de chuveiro por aproximadamente uma hora.
Agora usamos toalhas em azeite mineral para limpar a pele.

Antes, todas as mulheres mostravam as suas formosas cabeleiras.
Agora, raspamos a cabeça para mantê-la limpa sem água.

Antes, meu pai lavava o carro com a água que saía de uma mangueira.
Hoje os meninos não acreditam que utilizávamos a água dessa forma.

Recordo que havia muitos anúncios que diziam para CUIDAR DA ÁGUA, só que ninguém lhes dava atenção. Pensávamos que a água jamais poderia terminar.
Agora, todos os rios, barragens, lagoas e mantos aquíferos estão irreversivelmente contaminados ou esgotados.

Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados.
As infecções gastrointestinais, enfermidades da pele e das vias urinárias são as principais causas de morte.

A indústria está paralisada e o desemprego é dramático.
As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de emprego e pagam os empregados com água potável em vez de salário.

Os assaltos por um litro de água são comuns nas ruas desertas.
A comida é 80% sintética.

Antes, a quantidade de água indicada como ideal para se beber era oito copos por dia, por pessoa adulta.
Hoje só posso beber meio copo.

A roupa é descartável, o que aumenta grandemente a quantidade de lixo. Tivemos que voltar a usar as fossas sépticas como no século passado porque a rede de esgoto não funciona mais por falta de água.
A aparência da população é horrorosa: corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele pelos raios ultravioletas que já não têm a camada de ozónio que os filtrava na atmosfera.
Com o ressecamento da pele, uma jovem de 20 anos parece ter 40.
Os cientistas investigam, mas não há solução possível.

Não se pode fabricar água, o oxigênio também está degradado por falta de árvores, o que diminuiu o quociente intelectual das novas gerações.

Alterou-se a morfologia dos gametas de muitos indivíduos.
Como conseqüência, há muitas crianças com insuficiências, mutações e deformações.

O governo até nos cobra pelo ar que respiramos: 137 m3 por dia por habitante adulto.
Quem não pode pagar é retirado das "zonas ventiladas", que estão dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcionam com energia solar.
Não são de boa qualidade, mas pode-se respirar.

A idade média é de 35 anos.
Em alguns países restam manchas de vegetação com o seu respectivo rio que é fortemente vigiado pelo exército.
A água tornou-se um tesouro muito cobiçado, mais do que o ouro ou os diamantes.
Aqui não há árvores porque quase nunca chove. E quando chega a ocorrer uma precipitação, é de chuva ácida.
As estações do ano foram severamente transformadas pelas provas atómicas e pela poluição das indústria do século XX.

Advertiam que era preciso cuidar do meio ambiente, mas ninguém fez caso.

Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando era jovem, descrevo o quão bonito eram os bosques.
Falo da chuva e das flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda a água que quisesse.
O quanto nós éramos saudáveis!

Ela pergunta-me:
- Papai! Por que a água acabou?
Então, sinto um nó na garganta!

Não posso deixar de me sentir culpado porque pertenço à geração que acabou de destruir o meio ambiente, sem prestar atenção a tantos avisos.
Agora, nossos filhos pagam um alto preço...

Sinceramente, creio que a vida na Terra já não será possível dentro de muito pouco tempo porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversível.

Como gostaria de voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreendesse isto...
...enquanto ainda era possível fazer algo para salvar o nosso planeta Terra!

Faça esta mensagem chegar aos seus conhecidos.
Por cada pessoa que a ler você estará criando um pouco de consciência para cuidar do ambiente à sua volta.

2 comentários:

Unknown disse...

Caro João Soares,
Um texto fantástico, uma carta do
futuro para nos fazer pensar e refletir muito bem no presente. Porque água é vida!
Um abraço.

A. João Soares disse...

Cara Ana Martins,
O texto já tem, realmente, uns anos de vida, mas o tema é de tal importância que deve ser relembrado a fim de as pessoas se consciencializarem. Se assim acontecer os nossos netos terão uma vida mais curta e mais difícil do que a nossa.
Mas, mesmo que consideremos o texto um pouco exagerado, a realidade não deve andar muito longe disto, e é imperioso que os governantes e toda a gente se compenetre que é preciso ter cuidados com a Natureza, principalmente com a água. Há que apoiar fortemente as atitudes como a do americano Al Gore.
Mas o bom senso não se compadece com radicalismos como o dos nossos ambientalistas que travam o desenvolvimento prejudicando vários aspectos da vida humana, a pretexto de falsos argumentos que parecem apenas surgir para lhes dar visibilidade pessoal.

Tal como agora se diz dos portugueses, que estão a viver acima das suas possibilidades, também o mundo merece tal reparo: está a viver acima das possibilidades do planeta.
O desenvolvimento tem de ser realmente considerado como viver melhor com menos consumo de recursos. Procurar ser mais felizes com aquilo que há, recusar tecnologias que consumam e poluam muito. Ter uma vida mais simples, mais aldeã, não é desprimor. A beleza e a felicidade podem conviver muito bem com a vida frugal e simples.
Este alerta é muito útil.
Para quê tantas auto-estradas, tantos aviões, tanto fogo de artifício?
E se em vez, ou além, de se querer proibir as touradas se proibisse as corridas de Fórmula 1, de ralis, etc. por serem demasiado poluentes?

São sinais preocupantes que seria conveniente merecerem mais consideração dos governantes de todos os países.
Estamos num momento decisivo da história da humanidade, sendo necessário definir o novo rumo que nos afaste do precipício.

Abraço
João

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Atribuído Pela nossa querida amiga e colaboradora deste espaço, a Marcela Isabel Silveira. Em meu nome, e dos nossos colaboradores, OBRIGADO.

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