07 janeiro 2007

Incoerência ou estratégia oculta?

Por vezes, perante as crescentes e continuadas dificuldades que nos obrigam a apertar o cinto para reduzir a capacidade do estômago e as necessidades de alimentos, somos tentados a pensar que os governantes carecem de inteligência e competência para o desempenho dos seus cargos. Mas essas tentações de desconfiança são injustificadas. Eles são pessoas de elevado grau de inteligência e são lutadores que, numa acesa competição pelo nosso voto, conseguiram ganhar jus a ocuparem as cadeiras do Poder. A aparente confusão entre promessas não cumpridas, realizações anunciadas e nem sempre concretizadas e as necessidades reais do País, é geralmente bem gerida com a ajuda dos órgãos da comunicação social, de forma a não arriscar os resultados das eleições seguintes. As nossas impressões poderão ser apenas resultado e informação deficiente, de desconhecimento das estratégias elaboradas no segredo dos gabinetes, com muita perspicácia com vista a serem atingidos os objectivos por eles desejados e que o povo desconhece.

Vejamos, por exemplo, três casos que os jornais têm trazido ao nosso conhecimento, relacionados com a falta de eficiência da Justiça e com a aparente fuga ao combate à corrupção e ao enriquecimento ilícito.

1. A juíza Maria José Morgado, uma estrela brilhante no meio de planetas sem luz própria, tinha evidenciado muita sensibilidade para o combate à corrupção e ás tramóias do apito dourado. Embora neste processo tudo se passe, no âmbito do futebol, um sector restrito e bem delimitado da sociedade, e a corrupção, pelo contrário, venha ao longo do tempo a afectar a generalidade dos dinheiros públicos e os políticos desde as autarquias até aos governos e à AR, ela foi encarregada do problema menos grave, por aparentemente não haver interesse político para atacar o outro.

2. O engenheiro João Cravinho, desde que foi ministro das Obras Públicas e Comunicações, tem evidenciado interesse em acabar com a corrupção, tendo até nomeado o general Garcia dos Santos, seu colega do IST, para a Junta Autónoma das Estradas com a incumbência de sanear esta instituição. Mas, provavelmente, as pressões a que foi sujeito levaram-no a afastar o general e a ignorar os suspeitos. Agora, como deputado, reavivou a sua pura aversão à corrupção e ao enriquecimento ilícito, mas, possivelmente, os numerosos «suspeitos« não pararam enquanto não conseguiram afastá-lo e a melhor forma foi dar-lhe «um pontapé pela escada acima» e enviá-lo para um invejável cargo no estrangeiro. Desta forma, por melhores que sejam as intenções de Cravinho, a sua luta acaba por estiolar sem produzir os desejados frutos em benefício do País.

3. Embora o sobrevoo do território nacional por aviões da CIA pertença já ao passado e, perante os interesses de desenvolvimento do País e da melhoria das condições de vida da população, não se revista de importância capital, o partido do Governo está a pressionar a embaixadora Ana Gomes a apresentar queixa no Ministério Público. E assim se iria entupir ainda mais os canais da Justiça, já tão lenta e desacreditada perante o povo, quanto aos seus resultados. Desta forma se evita o combate proposto por João Cravinho e já referido por Maria José Morgado.

Fica uma dúvida: estes casos serão sintomas de incoerências e contradições dos governantes ou serão a ponta do iceberg de uma estratégia inteligentemente elaborada, com vista a objectivos bem definidos? O certo é que não devemos duvidar das capacidades dos políticos, em inteligência e engenhosidade.

2 comentários:

Anónimo disse...

Maria José Morgado tem pela ente a fasqui muito alta.O povo não lhe perdoará falta de resultados pela expectativa que se criou.Esperemos que venha a ter os meios que precisa para avançar e não seja boicotada por dentro!

João Carvainho poderá ser um pau de dois bicos...muita parra e pouca uva,ou realmete ter um intenção séria...porque aceita o lugar então??


Ana Gomes não se percebe bem!Como tem ela dados secretos?O que persegue?Não foi naquela base que se decidiu a guerra?Não é aquela base um feudo americano?Porque contesta a passagem de aviões americanos?
Se for pelo cariz humanitário entendo,mas se for demagogia política...vou ali e venho já!Quando há uma guerra sabemos que os aviões circulam por todo o lado,bem como os intelligence services,dos amis diversos países sem ostentação ou identificações normais!!
Era utópico!

Abraço
MR

A. João Soares disse...

A ironia, parece assentar em que as três alíneas referidas no texto mostram que há uma estratégia para desviar as atenções do povo e a máquina da Justiça para longe do combate à corrupção, por interessar proteger amigos e protegidos do Poder. A luta contra tal flagelo atinge sempre prioritariamente indivíduos com Poder, por serem eles que podem fazer os «favores» que originam as «recompensas».
É preciso que a comunicação social colabore na desmontagem dos casos que surgirem para que a Justiça actue. É que, sendo um negócio em que o activo e o passivo serão beneficiados e o único prejudicadoo é o Estado,a colectividade,não se pode esperar pela queixa do lesado.
Um abraço
João

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Atribuído Pela nossa querida amiga e colaboradora deste espaço, a Marcela Isabel Silveira. Em meu nome, e dos nossos colaboradores, OBRIGADO.

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