27 março 2007

*POORtugal

POORtugal

Agora que a poeira parece ter assentado, tão depressa como levantou, será altura de fazer um balanço sério e desapaixonado da polémica em torno do programa “Allgarve”.

Para já, uma constatação: o impacto de um programa de três milhões de euros, destinado à promoção do Turismo no Algarve, foi completamente submergido pela polémica. Culpa de alguns regionalistas ferrenhos, todos ligados ao PSD, que com algum provincianismo à mistura viram num “l” suplementar uma afronta à identidade da região (mas também, porventura, um furo político contra o Governo)? Sem dúvida.

Mas culpa também dos promotores do programa. Anunciaram o “l”, anunciaram os milhões, mas propositadamente esqueceram o conteúdo do programa. Basta ver as notícias do evento de Lisboa para o perceber: ninguém falou de Norah Jones, Lou Reed ou Carmina Burana. Queriam gerir esses anúncios a conta-gotas, sonegando informação aos jornalistas e, por consequência, aos algarvios e aos portugueses.

No dia seguinte, sábado, o semanário “Sol” anunciava o conteúdo do programa como se de uma grande cacha se tratasse, mas para o resto da Imprensa o programa consistia num “l” a mais e nuns quantos milhões, que ninguém sabia ao certo para que serviriam. Deste conjunto, sobrou a polémica, com os rostos de Bota, Elidérico, Macário e Vitorino.

Nos dias seguintes – há que dizê-lo -, era ver os aflitos assessores do Ministério da Economia a telefonarem para as redacções, a tentar emendar a mão. A medo (porque sabem como nós, jornalistas, “amamos” estes reparos!), lá protestavam contra o facto de só se ouvir gente contra o “All”.

Tinham depois a suprema “lata” de sugerir nomes de gente a ouvir, todos a favor do insinuante elezinho, claro. “Porque não falam com o empresário x e o autarca y e o dirigente nacional z?”, perguntavam ao ouvido dos incrédulos jornalistas, já noite cerrada.

Mas sobretudo, numa atitude magnânima, os referidos assessores libertavam por fim o “trunfo” do tão escondido programa, que o “Sol” teimava em escancarar, esperançados em que o seu conteúdo conseguiria abafar a polémica.

À parte estas chico-espertices bem à portuguesa – pressões que são o dia-a-dia das redacções, uns resistirão, outros não, cada um falará por si – percebe-se que o lançamento de um tão rico programa acabou por ser um fracasso.

Primeiro, porque a Região de Turismo do Algarve não soube envolver os agentes turísticos e autárquicos da região. Limitou-se a combinar tudo com o poder central e – à boa maneira “socrática” - dispensou conversas e grandes diálogos com a AMAL, a AHETA, os partidos, os autarcas, as associações locais.

Foi portanto um programa decidido de cima para baixo aquele que às seis e meia da tarde de sexta-feira, 16 de Março, estava em cima da mesa para ser apresentado publicamente.

Depois, porque o horário da apresentação foi infeliz. Por muitas estrelas, “pen’s” à borla, DVD’s e estrelas de TV que tenha, um programa deste tipo não se apresenta ao fim da tarde de uma sexta-feira, com os jornais já fechados.

No dia seguinte, os diários não pegaram no assunto e no domingo o assunto já era “de anteontem”, cheirava a mofo. Para mais, como já disse, não tinha conteúdo: só números. Quer dizer, o que podia ser uma notícia (também) com interesse cultural transformou-se numa simples notícia económica.

Para ganhar as pessoas para uma causa, não basta envolver os jornalistas de órgãos regionais, levando-os de autocarro até ao Parque das Nações. A distância também não ajudou à visibilidade do evento. Apesar do sugestivo nome “Algarve Convida”, muitos não aceitaram o convite.

Dar-se ao trabalho de ir a Lisboa para ver a pequenez do Manuel Pinho e o sinalzinho da Sílvia Alberto? E, como sempre acontece nestas iniciativa “centralizadas” em Lisboa, ficou em alguns, porventura mais regionalistas, um certo mau estar, do tipo “Porquê em Lisboa um acontecimento para falar do Algarve?!”.

Mas não fujo ao tema central: apesar da reacção desproporcionada de alguns e de não concordar com os seus argumentos, considero que o “l” suplementar é susceptível de induzir a confusão nos mercados.

Doravante, para muitos – e não esqueçamos que as classes baixas de origem britânica, sem grande cultura de base, constituem boa parte dos clientes da região – a palavra Algarve escrever-se-á de duas maneiras, ou porventura de apenas uma, à escolha.

Com tantas hipóteses interessantes à escolha, porque carga de água foram os senhores do marketing “brincar” com uma marca estabelecida, arriscando a confusão nos mercados. Mais: se o objectivo era destacar o “all”, para dizer “o Algarve tem tudo”, ou “tudo no Algarve”, porque não destacaram graficamente essa palavra inglesa? Porque não ALLgarve, por exemplo?!

Ao entalar a palavra no nome da região, os criadores arriscam-se a que os tais “ignorantes ingleses” (e outros, alguns deles bem portugueses) não percebam o trocadilho. E se isso acontecer, torna-se pura e simplesmente ineficaz. Um trocadilho só é útil se o percebermos.

Porém, as minhas razões são técnicas. Não acredito que o “all” ofenda o “bom nome” da região e não alinho na maior parte das parvoíces que se disseram a propósito do assunto. Embora também saiba – porque não sou ingénuo – que há “politiquês” por trás dessas reacções.

Revolta popular? Demissão do ministro? Ofensa ao povo algarvio? Pobre país, POORtugal, que tais políticos tem!

Mas também POORtugal que tais promotores turísticos, artistas do marketing e assessores pariu!

*Por - João Prudêncio (jornalista) in Observatório do Algarve

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro ludo, estou no ALGARVE e ainda não vi essa placa...

Quando vinha de viagem ouvi o secretário de estado do turismo apontar "razões" para tal...nem uma me convenceu!!

PORTUGAL não precisa de alienar o seu património cultural...mas sim procurar ter um bom turismo, o que não acontece.

A poeira continua...sinal que estamos vivos e pensamtes!


Mário Relvas de um cyber café (olá maiato...) algures no Algarve

Anónimo disse...

Boa estadia nessa bela região.
Se puder dê um mergulho por mim. As saudades que tenho do mar...
Um abraço

victor simoes disse...

De polémica em polémica, o mais grave, penso eu, é a quem serviu o esbanjamento desse dinheiro? O Algarve não beneficiou e as pessoas, na generalidade já não podem ir para o Algarve, nem de férias para lado nenhum!
Quanto aos "camones", que hipotéticamente nos visitam, a relação preço qualidade, deixa muito a desejar.
Só mesmo o sol e praia nos valem por agora.

Um abraço

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