24 agosto 2006

O essencial encoberto pelo secundário

Começa a generalizar-se o facto de o essencial de um assunto ficar oculto por aspectos secundários, o centro esquecido por detrás das orlas. Numa conversa entre presos, um deles justificava estar ali com o facto de a bateria do carro ter perdido a carga e não ter feio o arranque do motor. Mas isso não era motivo para ter sido preso. Pois, mas chegou o polícia. Mas isso também não justificava. Ao fim deste diálogo, ele explicou que tinha saído de uma loja de telemóveis às três da manhã e, quando ia a fugir do polícia, o carro não pegou.

Em Setúbal aconteceu coisa parecida no caso da Câmara. Segundo um autarca nortenho, bem posicionado noutro partido, disse que houve uma fuga de informação seguida de títulos de caixa alta exagerados, tudo inserido numa conspiração para abater o presidente da Câmara, resumindo-se a gestos desproporcionados face a umas pequenas falhas administrativas. Tal como no caso do preso, não houve a sinceridade de apontar frontalmente a infracção.

Nesta ordem de ideias, verifica-se que ninguém é multado por ter cometido uma infracção, mas por ter sido apanhado em falta. Isto é um hino laudatório aos criminosos espertos que não são apanhados. É como o caso do tribunal que considerou não haver crime de tráfico de droga porque, embora este tivesse sido comprovado iniludivelmente, as provas mais convincentes assentavam em escutas não autorizadas, portanto inválidas. E deixou de haver crime!

Também os crimes por cheque sem provisão passaram a ser em menor quantidade por o Governo ter decretado que apenas seria crime acima de um valor muito mais alto. No mesmo sentido, no caso da não publicação dos contratos dos assessores e consultores, muito criticado e depois alterado, não foi abordado de frente, não mostrando que o Governo pretendia considerar o País como uma pequena quinta dos governantes, gastando o dinheiro dos contribuintes, nas costas destes, sem a mínima transparência, em benefício dos «boys» e «girls» de confiança política dos detentores do Poder, esquecendo estes que o essencial da sua missão, como delegados do povo - a real sede da soberania - não lhes permite colocar os interesses pessoais e partidários acima de tudo e de todos, mas sim, zelar pelo bem-estar e qualidade de vida, de forma sustentada, da generalidade dos cidadãos.
Este desprezo do essencial, dos objectivos e dos interesses nacionais, sobrepondo-lhe aspectos secundários está a ser demasiadas vezes posto em prática, tornando-se conveniente inverter tal tendência a fim de o País poder recuperar da actual crise de valores e atingir um nível consentâneo com a sua qualidade de membro da UE.

3 comentários:

Mac Adame disse...

Este país é uma fraude. Recuperar da crise de valores? Essa crise só se agudizará cada vez mais. A democracia funciona onde funciona. Não aqui, certamente. Por cá, aquilo a que se chama democracia rapidamente degenerou numa oligarquia. E a tendência é para piorar.

Mário Margaride disse...

De facto tem razão! Vivemos num país supostamente do primeiro mundo, civilizado, que pertence à União Europeia. Mas paradoxalmente, com situações deste género, que mais parecem do terceiro mundo!
Qualquer coisa terá que ser feita pelas entidades competentes, no sentido de se alterar este estado de coisas.
Se não qualquer dia...que vái preso é o polícia, em vez do ladrão!

Anónimo disse...

Mas o mais ironico disto tudo, é que o povo é que paga a factura.

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Atribuído Pela nossa querida amiga e colaboradora deste espaço, a Marcela Isabel Silveira. Em meu nome, e dos nossos colaboradores, OBRIGADO.

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