Hoje, a propósito do papel da ONU no Líbano, no Iraque, no Irão , na Coreia do Norte, na Somália, e nos casos por resolver da Caxemira e do Sahara Ociedntal, fala-se na ausência de autoridade internacional formal, porque, segundo muitos, a autoridade informal reside no Clube Bilderberg. Achei que poderá ter algum interesse um trabalho que preparei há algum tempo e que está inédito.
Sudão e ausência de autoridade internacional
O Sudão é o país africano de maior extensão, com uma composição étnica extremamente complexa – 252 grupos étnicos – e várias religiões em que predominam os muçulmanos sunitas, a Norte, seguidos dos ligados a crenças tradicionais africanas e dos cristãos, a Sul. Estas características humanas, a sua posição geoestratégica e a exploração de petróleo, recentemente iniciada, têm sido factores de uma história acentuadamente conflituosa. Ocupado por egípcios, turcos e britânicos e desejado pelos franceses, acabou por ver proclamada a independência em 1955.
Desde os primeiros dias de Estado independente, não houve uma paz verdadeira devido à luta pelo poder, entre várias facções islâmicas e ao desejo de estas oprimirem os povos do Sul. Desde 1983 está em curso uma rebelião dos povos do Sul, de maioria cristã, contra o regime muçulmano de Cartum. É a guerrilha mais antiga de África que tem continuado, apesar de muitas tentativas de apaziguamento, aconselhadas e mediadas por países ocidentais e africanos. Os combates já fizeram mais de um milhão de mortos.
Após o golpe militar apoiado pela Frente Islâmica Internacional, em 1989, a insegurança passou a ser permanente, com um medo doentio em cada coração. Por pressão daquela Frente Islâmica, foi dado asilo em mansões luxuosas, nos arredores da Capital, a proscritos como Osama bin Laden e a Carlos o Chacal. O poder foi partilhado, de forma informal, pelo Presidente general Omar al-Bashir e por Hassan Turabi, o pai intelectual do movimento islamista do Sudão, antes de este ser colocado em prisão domiciliária.
Em 2002, os rebeldes do SPLA (Exército de Libertação do Povo do Sudão) - que lutavam há 20 anos contra a opressão do Governo no Sul do país - pressionados pelo Ocidente a terminar com a guerra civil, assinaram um frágil cessar-fogo, de curto efeito. Apoiando várias iniciativas para o apaziguamento do Sudão, o Secretário de Estado norte-americano Colin Powell deslocou-se, em Outubro de 2003, ao Quénia para reabilitar as relações com Cartum e dar um impulso às negociações de paz que ali decorriam entre o Governo e os rebeldes do Sul chefiadas pelo Coronel John Garang. C Powell manifestou esperança de a assinatura de um tratado de paz se efectuar em Dezembro seguinte, mas a esperança foi gorada. Outras tentativas posteriores tiveram resultado semelhante. Quando foram assinados acordos, pouco demorou até serem desrespeitados.
Entretanto, agravou-se a situação na província de Darfur, antigo sultanato cuja independência foi esmagada, em 1916, por uma expedição britânica, na zona ocidental, vizinha do Chade. A população, que pretende a autonomia, tem sido bombardeada pelos aviões governamentais, o que levou à fuga de centenas de milhar, para lugares onde a falta de água e de outras condições de vida tornam difícil a sobrevivência, sendo mesmo difícil a chegada de socorros de organismos internacionais. As forças islâmicas governamentais apoiam milícias árabes que praticam as piores violências sobre o povo, embora o governo de Osmar al-Bashir desminta. Em Agosto de 2004, foi assinado entre o Governo sudanês e as Nações Unidas, para o Darfur, um acordo contendo sete pontos, mas que ficou letra morta.
Tanto a ONU, como a União Africana, como a UE (União Europeia), como as grandes potências, têm mostrado vontade de ver restabelecida a paz neste grande país, mas não têm ido além da boa vontade e as pessoas continuam a sofrer privações inclusive da própria vida. Interrogamo-nos até quando o mundo, os poderes internacionais se manterão impotentes para pôr termo ao genocídio levado a cabo pelo poder islâmico do Sudão nas partes Sul e Oeste, onde vivem populações que não são muçulmanas. Os títulos da imprensa, embora pouco frequentes, são bem elucidativos do pouco interesse que o mundo tem pelo continente africano e das táctica dilatórias do Governo de Cartum, com desprezo de tudo e de todos.
Bibliografia:
- «Guia do Mundo», ed. Trinova, 1997, p. 446-448
- «África. Um continente de conflitos», Jorge Heitor, Público, 10.07.2000
- «Sudão destroçado», Paul Salopek, National Geographic Portugal, Fev 2003, p. 36-73
- «Colin Powell no Sudão como mediador de paz», Fernando Santos, Público, 22.10.2003
- «Powell prevê paz no Sudão em Dezembro», Público, 23.10.2003
- «Êxodo no Sudão já afecta mais de cem mil pessoas, Jorge Heitor, Público, 29.01.2004
- «Mais de 800 mil sudaneses desalojados no Darfur na maior crise humanitária de sempre», Jorge Heitor, Público, 28.03.2004
- Kofi Annan defende envio de força militar para o Sudão», Ana Dias Cordeiro, Público, 8.04.2004
- «Cessar-fogo na região sudanesa de Darfur», Jorge Heitor, Público, 10.04.2004
- «ONU adia intervenção para travar crimes contra a humanidade no Darfur», Jorge Heitor, Público, 9.05.2004
- «Um milhão de pessoas à beira da morte no Ocidente do Sudão», Jorge Heitor, Público, 7.06.2004
- «Visitas de Powell e Annan terminam sem rsultados concretos no Darfur», Ana Dias Cordeiro, Público, 2.07.2004
- «Grã-Bretanha, França e União Africana acentuaram pressão sobre Cartum, Público, 8.07.2004
- «União Africana envia 300 militares para o Sudão», Ana Dias Cordeiro, Público, 9.07.2004
- «Rebeldes abandonam negociações sobre Darfur», Público, 18.07.2004
- «Cartum apoia as milícias do Darfur», Público, 21.07.2004
- «Rebeldes sudaneses aceitam iniciar novas conversações», Jorge Heitor, Público, 25.07.2004
- «Rebeldes de Darfur pedem intervenção internacional», Jorge Heitor, Público, 26.07.2004
- «ONU lança ultimato ao Sudão para desarmar as milícias», Ana Dias Cordeiro, Público, 31.07.2004
- «Governo sudanês diz-se disposto a partilhar as riquezas do Darfur», Jorge Heitor, Público, 4.08.2004
- «Relatório da ONU responsabiliza Cartum pela crise no Darfur», Jorge Heitor, Público, 8.08.2004
- «União Africana poderá enviar 2.000 militares para Darfur», Público, 5.08.2004
- «França pede diálogo para acordo político no Sudão», 7.08.2004
- «Plano de acção para 30 dias», Público, 8.08.2004
- «Sudão desafia ultimato da ONU pra desarmar milícias», Ana Dias Cordeiro, Público, 27.08.2004
- «Sudão de novo acusado de não cumprir compromissos com a ONU», Ana Dias Cordeiro, Público, 21.08.2004
- «As Nações Unidas não conseguem chegar até aos deslocados no Darfur», Público, 21.09.2004
- «Nações Unidas pedem aos sudaneses que se entendam», Público, 28.09.2004
- «Colin Pwell assiste à assinatura do acordo da paz para o Sul do Sudão», Jorge Heitor, Público, 9.01.2005
- «Força Aérea do Sudão volta a bombardear Darfur», Ana Dias Cordeiro, Público, 28.01.2004
- «EUA e Europa divididos quanto à forma de julgar os crimes no Sudão», Jorge Heitor, Público, 2.02.2005
- «Conversações com rebeldes do Darfur», Público, 2.02.2005
O Sudão é o país africano de maior extensão, com uma composição étnica extremamente complexa – 252 grupos étnicos – e várias religiões em que predominam os muçulmanos sunitas, a Norte, seguidos dos ligados a crenças tradicionais africanas e dos cristãos, a Sul. Estas características humanas, a sua posição geoestratégica e a exploração de petróleo, recentemente iniciada, têm sido factores de uma história acentuadamente conflituosa. Ocupado por egípcios, turcos e britânicos e desejado pelos franceses, acabou por ver proclamada a independência em 1955.
Desde os primeiros dias de Estado independente, não houve uma paz verdadeira devido à luta pelo poder, entre várias facções islâmicas e ao desejo de estas oprimirem os povos do Sul. Desde 1983 está em curso uma rebelião dos povos do Sul, de maioria cristã, contra o regime muçulmano de Cartum. É a guerrilha mais antiga de África que tem continuado, apesar de muitas tentativas de apaziguamento, aconselhadas e mediadas por países ocidentais e africanos. Os combates já fizeram mais de um milhão de mortos.
Após o golpe militar apoiado pela Frente Islâmica Internacional, em 1989, a insegurança passou a ser permanente, com um medo doentio em cada coração. Por pressão daquela Frente Islâmica, foi dado asilo em mansões luxuosas, nos arredores da Capital, a proscritos como Osama bin Laden e a Carlos o Chacal. O poder foi partilhado, de forma informal, pelo Presidente general Omar al-Bashir e por Hassan Turabi, o pai intelectual do movimento islamista do Sudão, antes de este ser colocado em prisão domiciliária.
Em 2002, os rebeldes do SPLA (Exército de Libertação do Povo do Sudão) - que lutavam há 20 anos contra a opressão do Governo no Sul do país - pressionados pelo Ocidente a terminar com a guerra civil, assinaram um frágil cessar-fogo, de curto efeito. Apoiando várias iniciativas para o apaziguamento do Sudão, o Secretário de Estado norte-americano Colin Powell deslocou-se, em Outubro de 2003, ao Quénia para reabilitar as relações com Cartum e dar um impulso às negociações de paz que ali decorriam entre o Governo e os rebeldes do Sul chefiadas pelo Coronel John Garang. C Powell manifestou esperança de a assinatura de um tratado de paz se efectuar em Dezembro seguinte, mas a esperança foi gorada. Outras tentativas posteriores tiveram resultado semelhante. Quando foram assinados acordos, pouco demorou até serem desrespeitados.
Entretanto, agravou-se a situação na província de Darfur, antigo sultanato cuja independência foi esmagada, em 1916, por uma expedição britânica, na zona ocidental, vizinha do Chade. A população, que pretende a autonomia, tem sido bombardeada pelos aviões governamentais, o que levou à fuga de centenas de milhar, para lugares onde a falta de água e de outras condições de vida tornam difícil a sobrevivência, sendo mesmo difícil a chegada de socorros de organismos internacionais. As forças islâmicas governamentais apoiam milícias árabes que praticam as piores violências sobre o povo, embora o governo de Osmar al-Bashir desminta. Em Agosto de 2004, foi assinado entre o Governo sudanês e as Nações Unidas, para o Darfur, um acordo contendo sete pontos, mas que ficou letra morta.
Tanto a ONU, como a União Africana, como a UE (União Europeia), como as grandes potências, têm mostrado vontade de ver restabelecida a paz neste grande país, mas não têm ido além da boa vontade e as pessoas continuam a sofrer privações inclusive da própria vida. Interrogamo-nos até quando o mundo, os poderes internacionais se manterão impotentes para pôr termo ao genocídio levado a cabo pelo poder islâmico do Sudão nas partes Sul e Oeste, onde vivem populações que não são muçulmanas. Os títulos da imprensa, embora pouco frequentes, são bem elucidativos do pouco interesse que o mundo tem pelo continente africano e das táctica dilatórias do Governo de Cartum, com desprezo de tudo e de todos.
Bibliografia:
- «Guia do Mundo», ed. Trinova, 1997, p. 446-448
- «África. Um continente de conflitos», Jorge Heitor, Público, 10.07.2000
- «Sudão destroçado», Paul Salopek, National Geographic Portugal, Fev 2003, p. 36-73
- «Colin Powell no Sudão como mediador de paz», Fernando Santos, Público, 22.10.2003
- «Powell prevê paz no Sudão em Dezembro», Público, 23.10.2003
- «Êxodo no Sudão já afecta mais de cem mil pessoas, Jorge Heitor, Público, 29.01.2004
- «Mais de 800 mil sudaneses desalojados no Darfur na maior crise humanitária de sempre», Jorge Heitor, Público, 28.03.2004
- Kofi Annan defende envio de força militar para o Sudão», Ana Dias Cordeiro, Público, 8.04.2004
- «Cessar-fogo na região sudanesa de Darfur», Jorge Heitor, Público, 10.04.2004
- «ONU adia intervenção para travar crimes contra a humanidade no Darfur», Jorge Heitor, Público, 9.05.2004
- «Um milhão de pessoas à beira da morte no Ocidente do Sudão», Jorge Heitor, Público, 7.06.2004
- «Visitas de Powell e Annan terminam sem rsultados concretos no Darfur», Ana Dias Cordeiro, Público, 2.07.2004
- «Grã-Bretanha, França e União Africana acentuaram pressão sobre Cartum, Público, 8.07.2004
- «União Africana envia 300 militares para o Sudão», Ana Dias Cordeiro, Público, 9.07.2004
- «Rebeldes abandonam negociações sobre Darfur», Público, 18.07.2004
- «Cartum apoia as milícias do Darfur», Público, 21.07.2004
- «Rebeldes sudaneses aceitam iniciar novas conversações», Jorge Heitor, Público, 25.07.2004
- «Rebeldes de Darfur pedem intervenção internacional», Jorge Heitor, Público, 26.07.2004
- «ONU lança ultimato ao Sudão para desarmar as milícias», Ana Dias Cordeiro, Público, 31.07.2004
- «Governo sudanês diz-se disposto a partilhar as riquezas do Darfur», Jorge Heitor, Público, 4.08.2004
- «Relatório da ONU responsabiliza Cartum pela crise no Darfur», Jorge Heitor, Público, 8.08.2004
- «União Africana poderá enviar 2.000 militares para Darfur», Público, 5.08.2004
- «França pede diálogo para acordo político no Sudão», 7.08.2004
- «Plano de acção para 30 dias», Público, 8.08.2004
- «Sudão desafia ultimato da ONU pra desarmar milícias», Ana Dias Cordeiro, Público, 27.08.2004
- «Sudão de novo acusado de não cumprir compromissos com a ONU», Ana Dias Cordeiro, Público, 21.08.2004
- «As Nações Unidas não conseguem chegar até aos deslocados no Darfur», Público, 21.09.2004
- «Nações Unidas pedem aos sudaneses que se entendam», Público, 28.09.2004
- «Colin Pwell assiste à assinatura do acordo da paz para o Sul do Sudão», Jorge Heitor, Público, 9.01.2005
- «Força Aérea do Sudão volta a bombardear Darfur», Ana Dias Cordeiro, Público, 28.01.2004
- «EUA e Europa divididos quanto à forma de julgar os crimes no Sudão», Jorge Heitor, Público, 2.02.2005
- «Conversações com rebeldes do Darfur», Público, 2.02.2005
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