24 novembro 2006

OS MILITARES PERDERAM PONTOS ?

O ministro da Defesa, ao dizer que o universo militar conta com cerca de 40 000 efectivos e não são iniciativas como a do Rossio que levarão o Governo a desviar-se "do seu rumo" deu força aos «poucos» militares que ontem se passearam. A percentagem de participantes no chamado passeio do descontentamento, pode ser considerada diminuta e não significativa para o Sr ministro, mas representa um estado de espírito que não pode ser negligenciado, numa profissão em que, anacronicamente nesta democracia não é permitida a greve nem a manifestação e que este simples passeio foi precedido de proibições e palavras ameaçadoras de todos os níveis do Governo. Com este passeio, os militares ganharam pontos, nomeadamente pela presença de uma dezena de oficiais generais na reserva e reforma, entidades que, por tradição, se mantinham obedientes, coniventes e cúmplices com o Poder.

O ministro, com as suas palavras, veio confirmar que os governantes não reagem pela razão, pelo bom senso e pelo patriotismo, mas só quando pressionados por pressão significativa, representativa. Convém que os militares raciocinem bem nesta ideia. Têm sido bastante prejudicados em relação a professores e a juizes, por não lhes serem permitidos os direitos constitucionais gerais. Até os juizes que se consideram um órgão de soberania podem fazer greve e, por isso, têm sido beneficiados. Pelo contrário, os militares continuam a ser obrigados a cumprir a sua parte da «condição militar» mas vêm-se privados fraudulentamente das compensações a ela relativas. Dizia um responsável pelo passeio que há 41 diplomas legais desprezados pelo Governo. Quem é que não cumpre a lei? O Governo ou os que passearam no Rossio? A lei é ou não para ser cumprida por todos? Os militares precisam de se manifestar em força para convencerem da sua razão o Sr Ministro.

Já se fala em processos disciplinares aos militares que passaram pelo Rossio fardados. Não é desonra serem punidos por este «crime», antes pelo contrário. O ministro instiga a uma pressão dos militares mais significativa e representativa para corrigir «o seu rumo» errado. Colaborem com ele, aceitando o desafio.

Um cenário possível pode passar pela punição dos participantes no passeio e pelos que, sem estarem presentes, os apoiaram moralmente. Até poderão ser demitidos! Isso enquadra-se na lógica do governo de impor unilateralmente uma obsoleta condição militar sem as compensações até agora existentes. É uma lógica consequente da vontade de eliminar completamente as Foras Armadas. Agora demite estes, no próximo passeio demite outros até que chegará ao último. Perguntar-se-á quem irá ser mandado para as missões de «ostentação de poder» na Bósnia, no Kosovo, no Afeganistão, no Líbano, no Iraque, no Congo, nos PALOPs, etc. Mas isso, para o Governo não é problema insolúvel. Serão escolhidos de entre os ‘jotas’ dos Partidos, mais habilidosos e com perspectivas de carreira política, indo ser bem remunerados, com as máximas compensações pelo seu sacrifício e com a promessa de depois serem assessores, deputados, secretários de Estado, etc. Esta solução terá a vantagem de virmos a ter políticos de carreira conhecedores das realidades da vida. Portanto, não há situação dramática, existindo sempre soluções possíveis num rumo politicamente lógico e coerente!

Só que é pena que toda esta embrulhada assente em contradições de governantes, exigindo que os militares sejam escravos disciplinados, obedientes, coniventes, cúmplices do poder e abúlicos, tratados como a escória dos funcionários públicos, com incomparavelmente mais deveres e obrigações, e pela sua parte, o Governo recuse cumprir as suas obrigações legais no tocante às compensações referentes à condição militar. Esta só pode ser actuante se ambas as partes tiverem comportamento legal. Como dizia o primeiro-ministro a liberdade está na lei, que é igual para todos, mas não devia esquecer-se que esse todos inclui os políticos que nos governam. Os portugueses estão interessados em que o Estado seja «pessoa de bem».

4 comentários:

Anónimo disse...

Concordo com toda a tua opinião. E afinal, quem fez o 25 de abril de 1974 ? :)

Anónimo disse...

Os políticos deviam dar o exemplo...

SER CHEFE tem muito que se lhe diga,mas é preciso tomar cuidado com o rumo das comissões "militares" para não cair no mesmo erro de outrora!

A nível interno os muros dos quarteis desabam...

A tropa está fandanga...mas o governo não se está a saber colocar ao despresar os únicos que os poderiam ajudar...as FA e as forças de segurança...

Isto não é como vem contado...

Mas os marinheiros sempre foram os mais contestatários...principalmente em acções de rua...e os operacionáis?Têm problemas como os outros,mas não o discutem na rua...

Abraço AJSoares

Anónimo disse...

Concordo plenamente amigo, o 25 de Abril, aconteceu quando o saco transbordou, caminahmos a viva voz para uma nova revolução? Será? oxalá isto se resolva pelo melhor, mas não vejo jeitos.

Abraço.

Beezzblogger

A. João Soares disse...

De Arnaldo M F, recebido por e-mail

Meu caro João Soares
Só há pouco tive possibilidade de acessar o blogue com o teu escrito sobre o "passeio do descontentamento" dos militares, ontem, no Rossio.
Concordo, na generalidade, com a matéria exposta, CONFORME ALIÁS TEMOS TROCADO COMENTÁRIOS QUANTO AO MODO COMO OS MILITARES TÊM VINDO A SER TRATADOS PELO PODER POLÍTICO.
Como é óbvio, os militares não perderam pontos na realização desta
iniciativa, antes pelo contrário, pois souberam, uma vez mais ainda,
exteriorizar de forma ordeira o seu desagrado e desencanto por se verem espoliados dos seus direitos legítimos em matéria estatutária e de apoio social, incluindo assistência médica e medicamentosa.
Resta-nos confiar que ste "passeio do descontentamento" possa servir para fazer ponderar e reflectir governantes e chefias sobre aquelas matérias.
Abraços.

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Atribuído Pela nossa querida amiga e colaboradora deste espaço, a Marcela Isabel Silveira. Em meu nome, e dos nossos colaboradores, OBRIGADO.

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