24 setembro 2006

COM OS PÉS FORA DA CAMA

A Joana contou-me que se aproximou da cama, me viu a dormir e me chamou: «Anita, Anita!» Ela gosta muito de chamar pelo meu nome. Como eu não respondia, ela aproximou-se da cama e num tom suave me disse ao ouvido: «Acorda, Anita. Acorda.»
Durante as tardes, quando estou a descansar, ela tem entre outras tarefas, a de acordar-me. Mas desta vez aconteceu que não me sentia nada bem; não a ouvi entrar no quarto.
Não senti meu coração bater. Esta sensação assustou-me por momentos. Mas, logo de imediato, corpo e espírito se alertaram completamente. Minhas preocupações desapareceram. Pois, quando durmo, me preocupo, sobretudo, com a Joana. Ela não é como as outras meninas. O médico que a acompanhou durante algum tempo, após o seu nascimento, diagnosticou-lhe uma doença: asma!
«Porquê a mim?» Esta pergunta me fez ela muitas vezes. Contudo, eu escondia perante as outras meninas as suas tristezas que me preocupavam muito. Parte do processo de adaptação desta realidade foi passar a ser mais alegre, mas não se rir daquilo que não deve, ir sempre para a escola e, com o passar dos anos, a doença cura-se e ela segue sendo uma verdadeira menina. Sua alegria e vontade de viver fazem com que eu tenha verdadeiro amor por ela, mas dentro de mim reside um certo medo com o seu futuro, que não me deixa descansar.
Estes pensamentos foram desaparecendo, afastando-se de mim, e hoje com ela não se passa nada.
Que felicidade! Um Céu apareceu; suas nuvens transparentes deixavam-me voar com elas. Obedecendo a um impulso voei com elas de braços abertos. Que tranquilidade. Ao voar, fui invadida por uma paz que não consigo descobrir o seu significado. Só quero que este sentimento se torne eterno. Seria por vontade própria que detive o meu coração? Desejava ficar neste lugar onde não existe barulho, onde os pormenores, essas pequenas coisas que fazem a diferença entre o bom sentir e o mau sentir. Entre interesses pessoais e objectos sem importância. Ser outra nuvem que voa entre outras nuvens neste Céu azul.
Aqui parei e decidi.
Depois de pegar-me, agarrou-me por um braço, não me mexi. Certamente que percebi algo estranho e gritei com todas as minhas forças: mamã, não me deixe sozinha!
E apesar do meu desejo de meter-me completamente dentro das nuvens, de brincar, tremi toda e uma força superior que me atraía fazia redemoinho e me obrigou a abrir um olho e depois outro.
David Santos in netos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro David,
hoje a asma infelizmente é o pão nosso de cada dia.

Os miúdos nascem com esse problema cada vez em maior número,o meu com 18 anos, mantém infelizmente a asma...para lá do autismo.

Belo texto,os fihos e os netos são a eperança de Portugal e a nossa tormenta em relação ao futuro.

Um tema lindo.

Aproveito para lhe responder aqui,uma vez que estou impedido de enviar e-mails,por quem me está a controlar... sobre o convite de quarta-feia,eu não poderei ir.
Obrigado

Abraço

david santos disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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