04 outubro 2006

Da esperança ao desespero: Dilemas de uma democracia inacabada.

Por Antonio Felipe Silva

Em 2002, na campanha para a presidência da república, o slogan da campanha do presidente Lula era “A esperança vencerá o medo”. A esperança era prefigurada na idéia de mudança, na idéia do novo, no entanto, ao mesmo tempo, essas mesmas idéias geravam em si o medo. Na figura de Lula, o candidato da oposição, era sinalizada a mudança que geravam duas paixões simetricamente opostas no eleitorado, uns eram tomados pelo medo do pior e outros pela esperança do melhor. O fato ocorrido é que da oscilação entre o medo e a esperança no cenário eleitoral brasileiro da campanha de 2002 a esperança venceu.

A esperança venceu há quatro anos através da confiança do povo depositada na eleição do presidente Lula, mas agora, podemos dizer que na melhor das hipóteses, sendo muito otimistas, parece que os brasileiros terão que esperar ainda mais sem, ao menos agora, vislumbrar rastros de mudanças legítimas e realmente significativas. A mudança esperada e pela qual Lula foi eleito não ocorreu de fato. Pelo contrário, Lula ajudou a reforçar a estrutura contra-democrática do Estado brasileiro, mantendo o arcabouço da centralização do poder em que todas as estruturas de políticas públicas, de legalidade e de tributos são mantidas de forma autoritária ainda num molde do Brasil imperial que só as oligarquias favorece. Houve no governo Lula atos medicativos, quase que exclusivamente emergenciais, mas não mudanças as quais tínhamos esperança que ocorressem. Ao contrário, o fato de um partido de esquerda ter chegado ao poder foi possibilitado pelo agenciamento de alianças partidárias bizarras que, como um efeito, gerou um quadro corruptivo não muito diferente de governos passados, reforçando ainda mais a opinião de que mudança alguma ocorreu com a eleição de Lula.

Hoje um desespero irrequieto toma o lugar da esperança de quatro anos atrás. Temos nesse segundo turno que eleger o “menos pior”. É desesperador que o debate do “ruim” contra o “menos mal” fique restrito a acusações, a dossiês, a vestidos de grife, a maletas e cuecas de dinheiro. Cada candidato se preocupa em dar mais razões pelas quais o outro, seu adversário político, não deve ser eleito, razões pelas quais ele não deve chegar ou se manter no poder. Ora, que democracia é essa? A democracia pressupõe liberdade para com ela escolher um candidato pelas suas convicções e não, tão somente, pela falta de opção. Qual a convicção de Lula? E de Alkimin? A palavra mais repetida durante toda a campanha foi “Ética”, utilizada por ambos os lados. Essa palavra foi tão usada que ironicamente se corrompeu e ficou vazia de significação. O que é ética? Qual dos dois candidatos sabe o que essa palavra realmente significa?

A situação se torna ainda mais desesperadora quando olhamos o perfil de alguns dos deputados federais mais votados nesse ano. Maluf, Clodovil, Celso Russomano, Éneias Carneiro e Frank Aguiar! Sem contar alguns figurões intimamente ligados aos fatos recentes de corrupção. O que isso significa? O que devemos esperar desse cenário desesperador da política brasileira?

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro Filipe,viva.
Uma análise pertinente e real.Essa é a minha opinião,não dehoje mas de ontem já nas anteriores eleições.Lula foi e é um bluf.O PT é um império mafioso,subsidiado por mafias e corruptores.Não podemos esquecer que para haver corruptores tem que haver corrumpidos que aceitam e até pedem mais.
O Brasil terá que escolger,mas a sua definição é real,escolher o menos mau?Isso levará a onde.À catástrofe generalizada.

Lula faltou a debates (dizem aqui que não pôde ir porque estava a colocar botox,com caipirinha num copo e palhinha).
Caro Filipe,os trabalhadores comprovaram no Brasil que aqueles que falam neles nem sempre os defendem na verdade e no momento certo.Como não conheço os outros desejo-lhe a melhor sorte para a próxima votação e que vença quem melhor servia o Brasil,os brasileiros,principalmente os que sofrem.

Um abraço
Mário Relvas

victor simoes disse...

Hoje em dia, o jogo pela cadeira do poder, restringe o diálogo sério. Na verdade, os candidatos em lugar de apresentarem as suas propostas e programas, procuram denegrir a imagem dos opositores.
Em Portugal, também se viu isso.
O Povo, não tem oportunidade de perceber, qual o candidato que mais interessa.
No fundo ao não produzirem um discurso político, também não se comprometem. Distraiem as atenções, acabará por vencer o candidato que melhor usar o marketing de imagem.
Boa sorte para o Brasil e para todos os brsileiros.

david santos disse...

Caro Filipe, boa tarde.
"Da esperança ao desespero: Dilemas de uma democracia inacabada."
Poie é! Se o meu amigo pensa encontrar uma democracia acabada nos nossos tempos, pode pôr o cavalo à chuva. Pois está sempre encharcado. Só os que vierem atrás. Mas falta muito tempo. Temos que continuar a beliscá-los para que ganhem vergonha, mais nada. Porque com tantos interesses materiais e a tão pouca vontade de os largar, não pode haver democracia acabada. Contudo, temos de continuar a desmascará-los. Um abraço: david santos

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