06 outubro 2006

O 5 de Ourtubro e a ficção

Acaba de se comemorar a data do derrube da monarquia, data que marcou uma viragem bem visível na história de Portugal. Mas, nos tempos actuais, em que se vive de ficções, esta comemoração não passa de mais uma ficção.
O poder na monarquia passava de pai para filho durante cada dinastia e havia familiares e pessoas notáveis que, usufruindo de títulos nobiliárquicos, gozavam de benefícios elitistas. Talvez isso, ainda hoje, seja considerado por muitas pessoas pouco moral e socialmente injusto.
Mas, se olharmos para as realidades nacionais quase um século depois, verificamos que o poder está num pequeno grupo de indivíduos que brincam à troca de cadeiras até irem sentar-se em estofos mais macios e com melhores remunerações – Banco de Portugal, CGD, EDP, GALP, PT, etc., onde as reformas passam a ser faraónicas e acumuláveis.

E, quanto aos «príncipes», não há conhecimento de filhos de políticos que estejam no desemprego e a quase totalidade está anichada em empresas de capital público e em serviços e institutos públicos, quer do Estado quer das autarquias. Será que são todos superdotados?
E os «boys» e as «girls» não são todos «príncipes», havendo também os filhos dos amigos e aqueles que cedo se encostaram aos partidos na colagem de propaganda eleitoral e, por isso, se tornaram credores das atenções partidárias com recompensas que vão muito além das imunidades perante pequenas e grandes infracções.

Vem agora o Presidente da República hastear a bandeira do combate à corrupção. Oxalá obtenha o sucesso que se torna necessário. Mas duvido. A corrupção afecta o sistema. Há pouco tempo uma comissão parlamentar investigou as suspeitas de corrupção que impendiam sobre um deputado da oposição. O relatório foi convenientemente burilado para não criar dificuldades ao colega visado – ‘hoje era ele, amanhã poderá ser o relator do inquérito’. Mesmo assim, foi adiado o prazo da entrega deste, segundo sugestão «superior» fim de serem limadas algumas arestas. No entanto, hoje, na Comunicação Social saltam aos olhos dos cidadãos dados muito claros com imagens sugestivas.

Outro caso duvidoso de eventual tráfico de influências na oligarquia reinante é o do «envelope 9». Segundo os interessados, o que é preciso discutir é o «crime» do jornalista e não a essência do problema e as razões de esses factos constarem do envelope, e o que se passou com os actores dessas conversas telefónicas. Mas, para mal deste País, - o 2º em corrupção na Europa, a seguir à Itália da mafia e ‘cosa nostra’ – a essência dos problemas que afectam os oligarcas é segredo de Estado!

E a Justiça? É alvo de críticas de todos os lados. Há poucas semanas foi noticiado que um crime de tráfico de droga viu o seu processo anulado porque as provas do assentavam em escutas telefónicas não totalmente legais. Mas, para um leigo, embora as escutas não fossem legais, o crime existiu na realidade. No entanto, o tribunal passou a ignorá-lo, seguindo certamente a lei existente. Pergunta-se o que é mais grave para o País, o facto de as escutas não terem sido autorizadas, ou o facto de o tribunal ter posto ponto final no processo? Este tipo de crimes, tal como o de corrupção é praticamente impossível de provar pelos métodos clássicos E, depois, acontece como no caso ocorrido há poucos anos, em que dois indivíduos foram condenados por terem entregue um cheque de 50 mil contos a outro e este, julgado em processo separado, foi absolvido por não ter havido provas de ter recebido o cheque que, pelos vistos, se evaporou entre a mão que entregou e aquela que o ia receber. Há prestidigitadores muito meritórios!

Fica assim a dúvida sobre o êxito desta boa intenção do Presidente da República. Se eu entregar a você um volume de notas para você fazer aprovar o meu pedido de licença, quem é que vai saber? Não se esqueça de o entregar a um familiar, principalmente se estiver no estrangeiro, num paraíso fiscal. Está a topar. E se, por acaso alguém o denuncia, o seu advogado que é competente (e bem pago) acusará essa pessoa de difamação e de prejudicar o seu bom nome e reputação, e exigirá uma indemnização que dará para pagar as despesas do processo, advogado, etc.

E a propósito da notícia de estarmos acompanhados pela Itália, talvez isso seja mais adequado à nossa idiossincrasia do que procurarmos imitar a Finlândia, a Suécia, a Irlanda, etc

E viva a nova monarquia com menos «nobres» e mais egoístas, ambiciosos e esnobes. Recordo uma frase de L. Cardoso: «somos poucos, pobres e profundamente ridículos»

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro A. João Soares,viva!

Uma análise real e bem fundamentada!

A corrupção é raínha em Portugal.Disso ninguém tem dúvidas.As unidades acgora criadas são um pouco mais de areia para o zé pagode.Não têm meios...

Aceito que haja uma unidade central de combate à corrupção,mas descentralizadora na sua operacionalidade.

Como é possível por exemplo aqueles senhores,mesmo trabalhando 24 sob 24 horas investigarem os processos em curso?Como é ?É claro que é impossível e agora fica mais burocrático e á mão de quem chefia e que foi nomeado pelo ministro da Justiça do governo da República que também indicou o Procurador-Geral da República e que por sua vez chefia a acusação (ministério público)...

Rede burocrática.Dividir para reinar...

Já estou como o outro,se na República os gastos são mais e anda sempre a mudar o PR e temos gastos de eleições,de reformas,de mudanças e reformas nos gabinetes,segurança,civil,militar...porque não ter um rei,ou PR vitalício e que vá sendo sucedido por seus filhos....

Perguntas más, sem melhores respostas...

Um abraço
Mário relvas

david santos disse...

Boa noite, amigo João Soares.
Nós estamos a andar a uma velocidade muito grande. Não tenho tempo para pensar. Já não aguento, Caro João. Temos que fazer uma pausa para que nos seja possível ler o trabalho de todos. Percisava de andar a mil à hora. Só consigo andar a 50. Vou descansar. O João quer acabar comigo!
Até sempre, grande amigo, mas agora vou descansar.
Um abraço: david santos. E então o nosso amigo Relvas! Bem, esse anda a 2000. Ninguém o segura. Vou fazer uma pausa.

Mac Adame disse...

Pois, há cem anos era na monarquia que havia benesses elitistas. Mas isso foi há cem anos. Hoje, veja-se quais são os países-exemplo, com leis iguais para todos: os do norte da Europa (quase todos monarquias). E os mais corruptos da Europa? Repúblicas! Estamos a precisar de outro "regicídio". E duplo: Presidente e Primeiro-Ministro.

david santos disse...

Ó amigo, João Soares, isso era ontem. Hoje cuidado comigo, estou a passar tudo a pente fino, e cá com uma rapidez.
Um abraço, amigo João.
O Relvas já deve ter outro texto à porta. Já vou a correr para lá.
Até sempre, david

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Atribuído Pela nossa querida amiga e colaboradora deste espaço, a Marcela Isabel Silveira. Em meu nome, e dos nossos colaboradores, OBRIGADO.

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